12.02.2023

PERFIS DO RIO E ARENAS DO RIO




Coleções Perfis do Rio e Arenas do Rio. Cada livro R$ 15, mas se levar mais de um cada livro sai por R$ 10. É só chamar no ZAP: 21 999197723


- LYGIA PAPE (por Denise Mattar)


- OS EMERGENTES DA BARRA (Márcia Cezimbra e Elisabeth Orsini)


- RUBEM FONSECA (Deonísio da Silva)


- GLAUCE ROCHA (Aldomar Conrado)


- HÉLIO PELLEGRINO (Paulo Roberto Pires)


- FERREIRA GULLAR (George Moura)


- FAVELA (Paulo Casé)


- JANETE CLAIR (Artur Xexéo)


- OTTO LARA RESENDE (Benício Medeiros)


- JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE (Ivana Bentes)


- CARLOS MACHADO (Luiz Noronha)


- OSWALDO CRUZ (Moacyr Scliar)


- CARLOS HEITOR CONY (Cícero Sandroni)


- FERNANDO SABINO (Arnaldo Bloch)


- EROS VOLUSIA (Roberto Pereira)


- MANUEL BANDEIRA (Paulo Polzonoff Jr.)


- GERAÇÃO PAISSANDU (Rogério Durst)


- ODYLO COSTA, filho (Cecília Costa)


- CERTAS CARIOCAS (Hélio R. S. Silva)


- MARQUES REBELO (Luciano Trigo)

4.25.2023

ANÁLISE DE CRÔNICAS HISTÓRICAS DA ZONA OESTE CARIOCA

Análise do professor Vinicius Miranda Cardoso sobre o meu livro "Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca":


Passeios no Velho Oeste


O livro - essa incrível combinação de texto, imagem e página - é uma das maiores invenções da humanidade. Mesmo em meio a todo tipo de concorrência ou crise (como essa que atravessamos), se reinventa. Não quer e não vai desaparecer. Foi o que pensei quando recebi ontem do @andremansur, bem antes do que eu esperava, uma dessas maravilhas, recém-impressa: seu novo volume, que eu havia encomendado, 'Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca'. 


É uma edição independente - o que merece registro e todo o apoio -, uma alternativa a que muitos estão recorrendo, em meio às dificuldades do negócio livreiro. Comporta, em quase cem páginas, toda a qualidade e a leitura agradável de sempre, com bons artigos acompanhados por dezenas de imagens, tudo por um valor bastante acessível. Faz uma mescla interessante - já testada pelo autor em trabalhos anteriores - de memórias históricas e memórias pessoais para utilidade pública. Passeia por instituições, monumentos e logradouros dos antigos 'sertões cariocas', além de fazer rápidas imersões em assuntos propriamente históricos, muitos dos quais já haviam sido tratados com mais vagar na clássica trilogia que fez sobre 'O Velho Oeste Carioca'. 


Os artigos têm aquele gabarito de um colunista experiente, que sabe como confeccionar uma narrativa leve, informativa e divertida na dose certa. Começa e termina com crônicas ambientadas em Campo Grande, apresentando aspectos do bairro a partir de suas vivências. No miolo, vale destacar os capítulos 'Padre Miguel, um educador', 'Orgulho de ser banguense', 'Sepetiba, o balneário carioca', 'Sítio Roberto Burle Marx', 'Rio da Prata quase foi a Petrópolis carioca', 'Escravidão' e a 'A força da laranja' - alguns deles recheados com flashbacks vividos pelo autor. 


O que achei mais empolgante foi o penúltimo ensaio, 'o "seu William" de Guaratiba', que toca num tema crucial da memória histórica da região: a coexistência de versões anedóticas e versões mais apuradas para a explicação dos nomes de bairros. É algo que ainda merece maior reflexão. Eu, particularmente, fico na dúvida se as anedotas sobre a origem dos nomes dos bairros mais ajudam ou atrapalham a conscientização dos moradores sobre a história do seu lugar. André Mansur nós dá as diferentes versões para Ilha de Guaratiba, Realengo, Paciência e Inhoaíba, indicando aquelas pelas quais mais se inclina.


Ressalto, por fim, que o livro de Mansur divulga várias instituições educativas e culturais da nossa Zona Oeste profunda, tais quais o NOPH de Santa Cruz, o Museu de Bangu, a Casa da Memória Paciente, o Eco Museu de Sepetiba, a Feuc e diversas outras.


Recomendo a leitura de suas novas Crônicas Históricas da Zona Oeste - um trabalho que merece ser apreciado, especialmente por aqueles que ainda não leram a trilogia Velho Oeste carioca; e, de modo geral, por professores (sobretudo de Geografia e História), educadores, agentes culturais, guias de turismo, curiosos; enfim, por todos que moram, já moraram, trabalham ou dirigem pelos bairros da região querendo saber mais sobre alguns lugares, escondidos ou à vista, por vezes enigmáticos, que estão à beira das praias e estradas, nos jardins das praças, nos lados das ruas, nas encostas das serras e no meio dos matos da região, sob a luz do presente ou sob a sombra refrescante do passado. Recomendo também a visita aos lugares que Mansur traz para o texto, com suas fotos - todas do livro são suas, num verdadeiro trabalho de campo, movido a andanças que sempre fez e faz por esses bairros. De todo modo, além de bem pesquisada, a narrativa em si já é um passeio, um tour completo e revigorante. Isso com o privilégio de sermos guiados, como que numa boa conversa no Bar do Ernesto, por quem conhece em pessoa o que escreve e tem sido um incansável pioneiro de nosso Velho Oeste, ainda por explorar.

4.16.2023

Avaliação de O FILHO DE PESQUEIRA


Muito feliz com a avaliação do professor Caio Laranjeira sobre o meu último livro O FILHO DE PESQUEIRA:

Uma leitura de O filho de Pesqueira, de André Luis Mansur:
do Estoicismo às bolas de gude

Caio Laranjeira

Foi há quase dois mil anos que Epiteto, um dos expoentes do Estoicismo, defendeu a ideia de que os pensamentos não são as coisas. Para o filósofo-escravo, não são as coisas em si que amedrontam os seres humanos, mas sim o que se pensa sobre elas. Nesse sentido, por exemplo, a morte não seria algo terrível, visto que é natural e inevitável. O que nela se teme então seriam as projeções mentais que se fazem sobre ela. Agrada-me lembrar essa lição estoica para deixá-la ao fundo do que, frontalmente, pretendo realizar aqui: uma leitura breve da obra O filho de Pesqueira, de André Luis Mansur.

Para início de conversa, o jornalista, escritor e memorialista Mansur tem pouco ou quase nada de estoico, decerto. Detentor de uma escrita fluida e regida pelo signo do prosaico, o autor se inscreve na clave da dicção de um Lima Barreto ou de um Rubem Braga, menos na temática do que na técnica, sem que deles seja necessariamente um imitador ou coisa que o valha. O estilo simples e leve é um convite a se mergulhar numa obra que mantém o mesmo tom estranhamente perturbador de seu livro de contos Copa de 50.

Esclareço-me. Digo estranhamente perturbador porque é bem sabido que há uma tradição literária que reúne nomes como Edgar Allan Poe, Baudelaire e mesmo algum Álvares de Azevedo (sobretudo o de Macário) cujas páginas flertam vorazmente com o repulsivo, medonho, tétrico. Em André Mansur a perturbação orbita em torno de outro núcleo, a saber: uma perspectiva otimista frente a uma realidade hostil, que é a nossa, e uma condição social injusta, que não deveria ser nossa.

Cumpre, entretanto, avisar que seu tom otimista em nada tem a ver com a leveza ingênua dos que, mentorados pela quântica energia coach, querem fazer crer que um discurso sempre positivo e esperançoso reprogramaria o cérebro para semear, plantar e colher o bem, para assim compartilhá-lo no café da manhã em família, como se comercial de margarina fosse. Conforme falei, a perturbação do escritor é estranha, porque há ali uma visão crítica da realidade circundante, sem que se faça do real um banquete trágico no qual o final apocalíptico seja o destino incontornável para a aventura humana.

A trama é tecida pelos passos do protagonista Gabriel, que, com quinze anos de idade, chega de Pesqueira (PE) à até então capital do país, sem saber o que o Rio lhe reservaria, em suas dores e delícias. Logo no primeiro ato do romance, acontece o que me fez começar este texto com a menção a Epiteto. Após descer na rodoviária Novo Rio, o adolescente ouve uma agitação nas ruas da cidade que o fazem achar que se tratava do famoso Carnaval carioca. Em meio à multidão, dão-lhe um saco de bolas de gude, o que supostamente confirma o tom de diversão e brincadeira que deveria reinar naquela época do ano. Todavia, pensamentos não são as coisas, e o que ali se vivenciava era um confronto entre civis e militares no Brasil ditatorial do período em que a história é ambientada. As bolas de gude tinham o propósito de fazer tombarem os cavalos da guarda armada. A brincadeira imaginada ficara na coxia, porque era a violência que subia àquele palco de guerra.

Não será difícil o leitor adivinhar o quanto vai ser penosa a adaptação do jovem à cidade grande. Tudo parecia diferente de sua terra natal. O tráfego e seus acidentes, as pessoas e sua agitação urbana, a sirene das ambulâncias e seus doentes, o Rio e seu caos diário. Esse, porém, era o pensamento inicial de Gabriel ao topar com as desventuras cariocas. Mas, retornando ao filósofo, aquilo não eram as coisas, e não vai demorar que o agora jovem adulto descubra que há pontos fortes de contato entre a capital da Guanabara e a isolada ocupação pernambucana. No morro de Santo Amaro, após nos deixar ouvir o drama de vida da personagem Eugênia, o narrador mergulha na reflexão do protagonista:

Gabriel se sentia triste depois de ouvir a história de Eugênia, pois ele sabia que aquela era a mesma história de todos naquela favela e por todo o Brasil. Lembrou-se do que ouvia em Pesqueira sobre as agruras do sertanejo e comparou toda a vivência que estava tendo com os livros que lia.

Pois é, os pensamentos não são as coisas, e Mansur sabe muito bem disso. Mas aqui a linha estoica acaba e a agulha da imaginação já não pode mais remendar o tecido de O filho de Pesqueira com a filosofia de Epiteto. Isso porque, enquanto o pensador romano defendia a total abnegação dos desejos (e, por extensão, das paixões mundanas), nosso escritor constrói uma obra que é de verdadeiro amor. Amor pela leitura e pela literatura, mundos nos quais se abrigaria a potencialidade de mudança do mundo exterior a partir da revolução do próprio mundo interior. Amor pelo Rio e para o Rio, com seus bairros e favelas sempre dilapidados, mas que conservam uma energia cultural igualmente efervescente e apaixonada. Um amor pelas pessoas e suas lutas, com bolas de gude deslocadas de seu tradicional espaço lúdico para servirem de artefato bélico no coração do Brasil. Um amor, por assim dizer, estranhamente perturbador.

A propósito, ainda a respeito dessas bolas de gude, cabe um último comentário. Não pensemos que elas definitivamente deixarão de ser diversão para congelarem-se imutáveis como armas. Assim como o mundo dá voltas, as bolas rolam e os pensamentos não são as coisas. Tudo muda, se transforma, revoluciona, até mesmo elas, as bolas de gude. Mas essa passagem é uma conversa que só terei com quem tiver o prazer de chegar ao final do livro.

2.22.2023

O FILHO DE PESQUEIRA, DE ANDRÉ LUIS MANSUR


 Chegando da pequena cidade de Pesqueira, em Pernambuco, o adolescente Gabriel chega ao Rio de Janeiro no início da década de 70, com uma pequena maleta de madeira e muitos sonhos. Desce na Rodoviária Novo Rio e, enquanto aguarda seus tios, ouve um burburinho do lado de fora. Acha que é uma festa, bem maior do que as de sua pequena cidade, e se mete no meio da multidão, tentando entender o que o povo cantava. Ganha até um saco de bolas de gude.

O que acontece, a partir daí, é o crescimento de um jovem cheio de sonhos, confrontado com um mundo completamente diferente da vida que ele levava, mas motivado pelo desejo de aprender, principalmente quando Gabriel é levado a conhecer a Biblioteca Nacional, um impacto para o jovem acostumado às modestas instalações da Biblioteca de Pesqueira.

O mundo dos livros o desperta para a compreensão das injustiças sociais históricas do Brasil, principalmente quando ele compara a realidade dos sertões e das favelas, muito influenciado por seu tio-avô Ferdinando, um homem de hábitos singulares e que guarda, como pequeno tesouro, a farda de um dos soldados de Antônio Conselheiro que enfrentaram as tropas republicanas. Gabriel ganha do tio-avô um disco, com o samba-enredo "Os Sertões", de 1976, da Escola de Samba "Em Cima da Hora":

"Agora vinha a lembrança do tio Firmino, que o fez acreditar que a frase 'o sertanejo é antes de tudo um forte' era dele e não de Euclides da Cunha. Gabriel se levantou, andou pela casa, sentiu sede, bebeu água, sentiu mais sede, olhou pela janela e viu a cidade urbana onde ele morava, bem distante das suas raízes, raízes que muitas vezes eram a única alimentação do sertanejo. A música continuava, falando de 'um homem revoltado com a sorte', que espalhava a rebeldia e se revoltava contra a lei que a sociedade oferecia, Gabriel se via nesse homem, se sentia em um grupo de jagunços lutando contra a opressão e a injustiça, adormeceu no chão, sonhando com um Brasil justo, sem miséria e covardia".


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André Luís Mansur (Rio de Janeiro, 1969) é jornalista e escritor, autor de 18 livros, nascido no Rio de Janeiro, tendo atuado em veículos importantes da imprensa carioca, como os jornais O Globo, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. Apenas no jornal O Globo publicou mais de cem críticas literárias para o caderno “Prosa & Verso”. No bairro de Campo Grande, onde mora, coordenou de 2005 a 2012 o Cineclube Moacyr Bastos, exibindo mais de trezentos filmes gratuitamente.

Seu primeiro livro foi lançado em 2004, o Manual do serrote, de humor. Quatro anos depois lançou seu livro de maior sucesso, O velho oeste carioca, que conta a história da zona oeste do Rio de Janeiro, entre Deodoro e Sepetiba, e que gerou mais dois volumes, lançados em 2012 e 2016.