1.25.2009

AS HISTÓRIAS E AS LENDAS DO VELHO OESTE CARIOCA


(Publicado no jornal "Extra", de 11 de janeiro de 2009)

Jornalista reúne em livro episódios da Zona Oeste da cidade: fatos e lendas sobre a ocupação da região

ISABELLA GUERREIRO


No Velho Oeste carioca não tinha cowboy, como no faroeste americano. Mas, nas histórias sobre a ocupação da região – que vai de Deodoro a Sepetiba – tem pirata, ou melhor, corsários franceses, e até um sacerdote que evangelizava com a ajuda de um projetor de cinema, sem falar das curiosidades sobre a Família Real, que se hospedava na Fazenda Santa Cruz.

Esses e outros casos dos séculos 16 ao 21 foram reunidos pelo jornalista André Luis Mansur, de 39 anos, no livro “O Velho Oeste Carioca” (Editora Ibis Libris, R$ 30). Mansur, que foi criado em Marechal Hermes e mora em Campo Grande há 18 anos, decidiu resgatar o patrimônio histórico da região quando pesquisava para um trabalho sobre os 500 anos do Descobrimento do Brasil.

- Em 2000, saíram muitos livros sobre a história do Rio. Vi algumas coisas sobre a Zona Oeste, mas nenhuma obra específica sobre a região. Então, resolvi pesquisar sobre a área – conta.

Invasão de corsários

Durante cinco anos, Mansur levantou dados sobre a história da Zona Oeste em livros de pesquisadores da região, jornais e relatos de cronistas do Rio Antigo e de viajantes europeus. Um dos fatos que mais o surpreendeu foi a invasão de piratas franceses a partir de Barra de Guaratiba, em 1710.

- Eles foram guiados por escravos e atravessaram as montanhas e florestas da região até o centro da cidade, onde foram derrotados – explica Mansur. Conta-se ainda que o líder do grupo, Du Clerc, após ser preso foi morto misteriosamente. A causa seriam “aventuras amorosas” – diverte-se.

O historiador Mílton Teixeira ressalta, porém, que os invasores eram corsários. Ele explica a diferença.

- Pirata rouba para si. Corsário rouba para o rei, no caso Luís XIV, da França – diz Teixeira, que se diverte ao comentar o episódio: - Deve ter sido uma cena espetacular. Mil soldados com penachos vermelhos na cabeça atravessando a cidade. Uma cena que nem Joãosinho Trinta poderia imaginar.

Outra história curiosa do livro é sobre Padre Miguel, sacerdote espanhol que chegou ao Rio em 1908, com 29 anos. Apaixonado por cinema, produziu diversos filmes mudos de caráter religioso na região de Realengo.

* DOM PEDRO I:
o príncipe gostava de tomar uma pinga famosa numa barraca em Realengo durante as idas até a Fazenda Santa Cruz. Ele gostava muito de fazenda e cavalo. Lá, Dom Pedro I aproveitava para se encontrar com sua amante, Domitila de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos. Bem afastado do burburinho da Corte.

* FAZENDA SANTA CRUZ: Conta-se que Dom João foi mordido por um carrapato na fazenda, antiga propriedade dos jesuítas, hoje batalhão do Exército. A ferida se transformou numa úlcera e o príncipe-regente passou a usar uma cadeirinha para se locomover. Era na fazenda que ficava o boi Patrício, animal de estimação de Dom João. Ninguém podia bater no animal, que veio de Portugal junto com a Corte, em 1808.

* FUTEBOL NASCEU EM BANGU?: Há uma suspeita de que o futebol possa ter dado seus primeiros chutes em Bangu, antes que o paulista e filho de ingleses Charles Miller trouxesse bolas da Inglaterra e iniciasse a prática do esporte em São Paulo, em 1894. Consta que a primeira bola entrou em Bangu escondida por Thomas Donohue, um dos técnicos britânicos contratados pela Fábrica Bangu. No campo que existia nos jardins da fábrica, Donohue jogava futebol com outros funcionários britânicos.

* DIRIGÍVEIS: Santa Cruz possui o único hangar de dirigíveis do mundo. Construído entre 1934 e 1936, o hangar do Zeppelin, como é conhecido, servia de abrigo aos dirigíveis construídos na Alemanha pelo conde Ferdinand von Zeppelin, e que faziam a rota entre Berlim e o Rio. A região foi escolhida para sediar o hangar principalmente devido às condições climáticas e à direção favorável dos ventos. Lá, os dirigíveis eram recolhidos para manutenção, reabastecimento e embarque de passageiros.

Foto: Fábrica Bangu, com um campo de futebol ao lado.

6 comentários:

Bruna Mitrano disse...

Livro bombando!
Quem mandou ser original?
Viva! Viva! Viva! (segunda parte)

Anônimo disse...

E ainda vem a segunda parte: matéria no ´Globo´, caderno ´Prosa & Verso´, com entrevista. Quero mais vivas! (rs).

Beijos.

Aline disse...

Ai, que tudo! Sou campograndense e cheguei aqui pelo blog da Bruna, minha ex vizinha e amiga. Acho muito importante esse seu livro. Eu tenho um work in progress que é um livro de poesias que tem a Zona Oeste como inspiração. Quem sabe um dia eu consiga publicá-lo?
Grande abraço!

alineaimee disse...

A mensagem anterior é minha.

Anônimo disse...

Oi, Aline, tudo bem? Obrigado pelo apoio. Como é o seu ´work in progress´?

Ainda bem que você é ex-vizinha e amiga da Bruna, e não o contrário (rs).

Beijos.

biancawild disse...

Olá!

Infelizmente ainda não li seu livro, mas tenho como prioridade fazê-lo o mais rápido possível, pois o utilizarei em minha bibliografia para o meu projeto de mestrado, não sabia da existência do livro até bem pouco tempo,gostaria de pedir sua ajuda e dicas, se possível é claro, uma vez que estou pesquisando a história de Sepetiba, bairro onde eu moro, e sua ajuda me seria de grande valia. Um grande abraço!

Bianca Wild