4.14.2015

CRIME E INCÊNDIO NA IGREJA MATRIZ DE CAMPO GRANDE


          Duas histórias trágicas marcam a matriz de Igreja de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro. A primeira ocorreu em 1716, quando ela ainda ficava nas terras que hoje fazem parte de Bangu, erguida por Barcelos Domingues, em 1673. João Manuel de Mello, um dos principais fazendeiros da paróquia, estava dentro da igreja no Domingo de Ramos, quando uma turma de 20 a 30 capangas e escravos, acompanhados de dois outros fazendeiros, José Pacheco e José Gurgel, invadiram a igreja e mataram João Manuel. O mais trágico foi o desfecho. Quando o padre se aproximou do corpo para lhe dar a extrema unção, também foi assassinado. O crime foi relatado pelo Ouvidor-Geral Fernando Pereira de Vasconcelos ao Conselho Ultramarino, instituição portuguesa responsável por várias questões relativas às colônias. "A viúva de Mello veio à cidade trazendo o cadáver da vítima, a fim de clamar justiça. O governador declarou réus de morte a Amaral e a Pacheco, e publicou um bando prometendo grandes recompensas a quem os trouxesse vivos ou mortos". (Antiqualhas e memórias históricas do Rio de Janeiro, de José Vieira Fazenda)
         Bando era uma espécie de proclamação feita em espaço público. Os assassinos de João Manuel de Mello, pelo menos pelo que se sabe, não foram presos. Esta história serviu para esvaziar ainda mais o pequeno templo, que já sofria com as intempéries do tempo, e acabaria sendo destruído ainda naquele século, para ser construída uma nova matriz, já nos limites do atual bairro de Campo Grande (embora ainda não fosse no local atual).
        Outra terrível situação ocorrida na igreja foi em 1882, quando ela já ficava no centro de Campo Grande: um incêndio a destruiu por completo. A ironia é que a igreja hoje fica bem próxima do Corpo de Bombeiros, mas na época eles tiveram de vir do centro da cidade, a cerca de 50 quilômetros, num trem especial da Estrada de Ferro D. Pedro II, atual Central do Brasil. Embora o trem tenha levado cerca de 40 minutos, um padrão rápido até para os dias de hoje, os carros de bois transportando o material dos bombeiros ficou atolado num areal da Rua da Matriz, que depois seria renomeada para Rua da Estação e, por fim, Rua Augusto Vasconcelos. Uma junta de bois foi emprestada pelo capitão Antônio de Oliveira Santos, mas quando os bombeiros, enfim, conseguiram chegar à igreja, não restava quase nada a apagar.
       Com apoio da população local e do governo imperial, que doou 20 contos de réis, a igreja foi reconstruída e reinaugurada seis anos depois, graças ao grande esforço do seu vigário, o padre Belisário Cardoso dos Santos, vigário na região durante 44 anos, de 1847 a 1891, e que morava na casa ao lado da igreja, que mais tarde abrigaria o colégio Belisário dos Santos, demolido em 2014.

14 comentários:

Carolina disse...

Incrível! Estudei no Belisario e já fui muito à missa nessa igreja! Incrível saber em quanta história ja pisei! Me emocionei!

André Luis Mansur disse...

Que bom, Carolina. É uma história muito rica mesmo. Beijos!

Unknown disse...

Olá André Luis Mansur,
comprei seus livros "O velho oeste carioca", volumes 1 e 2 e gostei muito. Morei em Campo Grande na década de 50 (Rua Amaral Costa), fiz todos os meus estudos no Colégio Nossa Senhora do Rosário, fui aluna do Prof. Moacyr Bastos e claro, ia muito a essa igreja. Sinto falta de mais livros a respeito dessa região que foi tão importante como exportadora de laranjas. Por isso mesmo foi um imenso prazer ler os seus livros.Cordialmente Jurema Ricardo dos Santos

André Luis Mansur disse...

Olá, Jurema, como vai? Agradeço os elogios pelos livros. O professor Moacyr é meu amigo, uma das pessoas que mais valorizam o nosso bairro. Realmente temos poucos livros sobre a região, mas aos poucos vejo cada vez mais gente interessada em pesquisar este lado do Rio de Janeiro ainda tão pouco estudado. Grande abraço!

Unknown disse...

Boa tarde. Também comprei seus livros e inclusive conversei com você junto ao Cristiano na antiga livraria Edital, que infelizmente fechou. Sou professor de geografia e acabei de lançar um livro sobre a evolução econômica e populacional de Campo Grande. Porém, peço ajuda para uma maior divulgação e mais impressões de meu livro por uma outra editora, se você conhecer. Desde já agradeço sua atenção. Um abraço


André Luis Mansur disse...

Olá, Carlos, tudo bem? Mande mais informações sobre o livro, a capa dele também, para eu divulgar no face. Abraços.

Unknown disse...

Boa noite, André. Tudo bem. Infelizmente, eu não estou conseguindo anexar a capa do livro no blog. Se você quiser, envio para seu email. Ou tentarei pelo Face. Desde já, agradeço.

André Luis Mansur disse...

Beleza. Manda para o meu e-mail: andreluismansur@yahoo.com.br Abraços.

Unknown disse...

Caro amigo.li os seus livros procuro mais informações sobre o nosso bairro.o fim da livraria Edital é lamentável. Mais algum livro em vista? Grande abraço.

André Luis Mansur disse...

Lamentável mesmo, Carlos. Este ano vou lançar o terceiro volume de O Velho Oeste Carioca. Grande abraço!

Unknown disse...

Mantenha -nos informado. grande abraço.

André Luis Mansur disse...

Vou informar sim, com certeza. Grande abraço!

Sergio Lang disse...

Os antigos alunos do Belisário que, como eu, tiveram o privilégio de receber lições de vida do dr. Helton Veloso e sua família, vão se emocionar com essa história. Obrigado, André!

André Luis Mansur disse...

Eu que agradeço seu comentário, Sergio. Abração!