Entrevista dada a Juliana Fiúza, da página Papo de Guia
André
Luis Mansur é jornalista e escritor, Trabalhou no Jornal do Brasil, O Globo,
Tribuna da Imprensa, além de ser o autor de preciosos livros sobre o Rio, como
o “O Velho Oeste Carioca” “Marechal Hermes – a história de um bairro” e “A
Invasão Francesa do Brasil: o corsário Du Clerc ataca o Rio por Guaratiba”.
Quem veio
primeiro? O jornalista ou o escritor?
André- Quem veio primeiro foi o curso de
jornalismo, na Escola de Comunicação da UFRJ, a Eco, mas foi lá mesmo que me
interessei em me tornar escritor. Até então nunca havia pensado nisso
Você é
morador da Zona Oeste, foi isso que lhe motivou a escrever os livros “Velho
Oeste Carioca” ?
André- Sim, eu moro em Campo Grande e,
no final dos anos 90, eu trabalhava em duas enciclopédias no jornal O Globo, “O
Globo 2000” e “Brasil 500 anos”, e foi ali que me interessei em trabalhar com
pesquisa histórica. Na época, muitos livros foram lançados sobre a História do
Brasil e do Rio de Janeiro, mas nada sobre os subúrbios e a zona oeste, daí
achei que essa lacuna tinha que ser preenchida.
Como foi
o processo de pesquisa e criação dos outros volumes?
André – Fiz muita pesquisa em
instituições como a Biblioteca Nacional, Biblioteca do CCBB, Arquivo Nacional,
material acadêmico, jornais e revistas antigos, conversas com moradores etc. A
internet também ajudou muito, pois hoje muitas fontes primárias estão
digitalizadas e disponíveis online.
Você acha
que há um certo abandono da rica história da Zona Oeste por parte dos seus
moradores? Se sim, isso também lhe motivou a escrever os livros?
André- Eu acho que já foi pior, hoje
vejo que já há um interesse maior, muita gente atuando em prol da memória da
região, lutando por seu patrimônio, convidando estudantes para visitarem os
pontos históricos etc. Vejo um interesse muito grande pelos meus livros na
região, esse é o melhor retorno que eu poderia ter.
Você
escreveu um artigo sobre o hábito de flanar pelo Rio que está voltando ao
cotidiano carioca, mesmo sem ele saber que esse ato possui um verbo que o
defina e que já era usual nos séculos passados, e habilmente retrata a
importância que esse hábito tinha na vida dos grandes escritores como João do
Rio, Lima Barreto e Machado de Assis. E você, também possui esse hábito?
André – Tenho sim, sempre tive,
sempre gostei muito de andar pelas ruas da cidade e observar tudo em volta. E
isso bem antes de conhecer a obra de Lima Barreto, João do Rio e Machado de
Assis, três escritores que conseguiram muito material para seus livros com esse
saudável hábito de flanar pela cidade.
Os seus
livros trazem curiosidades marcantes e pouco difundidas, principalmente no
ensino regular. Diria que seus livros tratam de uma parte da história
considerada politicamente incorreta?
André – Eu acho que meus livros abordam
aspectos da História que não são muito explorados nas escolas porque a História
regional, a História dos bairros, ainda não tem um espaço generoso nas salas de
aula, o que é uma pena, pois o aluno conhecer o passado do local onde ele mora
poderia ser um aliado importante para que ele se sentisse identificado com o
seu espaço.
De todos
os livros escritos, qual é o seu favorito?
André – Eu acho que é o volume I do Velho
Oeste Carioca, foi o que abriu muitas portas para mim.
Como é o
seu cotidiano? Você costuma ler muito e quais livros não podem faltar na
prateleira de um amante da história da cidade do Rio de Janeiro?
André – Procuro ler e escrever bastante,
todos os dias, sempre que possível. Há autores imprescindíveis para quem quer
estudar a História da cidade, como Noronha Santos, Monsenhor Pizarro, Moreira
de Azevedo, Joaquim Verissimo Serrão, Luiz Edmundo e Brasil Gerson. Estes são
os antigos, entre os atuais temos alguns a destacar, como o Ruy Castro, o Nireu
Cavalcanti e o arqueólogo Cláudio Prado de Mello. Temos também muitos sites e
blogs importantes sobre a História do Rio, como o de Ivo Korytowski, Literatura
e Rio de Janeiro.
Como o
carioca poderia resgatar esse amor pela sua história? Qual seria a importância
em ter um carioca que valorizasse seu passado e que benefícios isso poderia
trazer para a sociedade?
André – Lendo muito sobre a História da
cidade, comprando meus livros (rs), mas também, e isso vem acontecendo muito,
participando de passeios e roteiros históricos pela cidade, como o Guiadas
Urbanas, o Pé de Moleque e O Corsário Carioca, este pela Baía de Guanabara e
que eu participo sempre com meus livros.
Você
escreveu um livro sobre a história do bairro Marechal Hermes, a motivação veio
de sua infância no bairro? Quais as lembranças mais marcantes que o senhor tem?
André – Sim, morei em Marechal até os 21
anos e é um bairro que eu amo muito. Procurei mesclar memórias pessoais com informações
históricas, para ficar bem equilibrado. O que recordo muito é a tranquilidade
do bairro, as ruas largas, os sobrados e uma época em que minha família era
grande e morava todo mundo perto.
Desde
pequeno já possuía o amor pela história de onde você morava, ou isso veio com o
passar dos anos?
André – Eu sempre fui um aluno muito bom
em História, mas nunca havia me interessado pela História do Rio, isso só veio
mesmo já depois dos 20 e poucos anos. Eu era para ter feito História na
faculdade, mas meu irmão já era jornalista e eu fiquei empolgado em seguir a
profissão. Não me arrependo não, o jornalismo me ajudou a ter um texto bem
enxuto e a lidar com uma grande quantidade de informações.
Você acredita
que os passeios turísticos por pontos históricos podem incentivar a população a
ter uma consciência sobre seu passado histórico e passar a valorizá-lo?
André – Sim, com certeza, e isso já vem
acontecendo muito, em roteiros como os que eu citei na resposta da pergunta 9 e
também naqueles organizados individualmente, como os passeios do professor
Milton Teixeira.
Para
finalizar, não deixando de agradecer o prazer desta entrevista, gostaria de
comentar ou acrescentar algo sobre seus projetos atuais ou futuros?
André – Gostaria de falar um pouco sobre
Ronaldo Morais, o pesquisador que eu conheci em 2009 e com quem fiz três livros
e ainda temos mais um para lançar ano que vem. Ronaldo faleceu no ano passado e
eu procuro sempre citar o nome dele como um grande pesquisador do Rio de
Janeiro. Ele fazia um trabalho com um grupo de amigos nos anos 70 e 80 muito
interessante, fotografando tudo o que achavam interessante na cidade. Esse
acervo está sendo espalhado pelos nossos livros. Fica aqui a homenagem a ele.
A lista completa de sua obra literária:
- O Velho Oeste Carioca (Vol. I)
- O Velho Oeste Carioca (Vol. II)
- O Velho Oeste Carioca (Vol. III)
- Marechal Hermes – a história de um bairro
- O Peão Poeta
- Fragmentos do Rio Antigo
- Violência no Rio Antigo
- A Invasão Francesa do Brasil – o corsário Du Clerc ataca o Rio de Janeiro por Guaratiba
- A rebelião dos sinais
- Manual do Serrote
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