Quatro Marias foram importantíssimas na vida de Machado de Assis: sua mãe, Maria Leopoldina Machado de Assis, a madrinha, Maria José da Conceição Barroso, sua irmã, Maria Machado de Assis, e a segunda esposa do seu pai, Maria Inês.
Sua mãe era portuguesa, da Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores. Nasceu no dia 7 de maio de 1812, veio para o Brasil, ainda criança, com a família em busca de uma vida melhor. Já adulta, foi trabalhar na Chácara do Livramento, no Morro do Livramento, centro do Rio, que era propriedade de Bento Barroso Pereira, figura importante no governo imperial, e de sua esposa, Maria José da Conceição Barroso (a futura madrinha de Machado de Assis). Maria tornou-se agregada da fazenda, fazia bordados, costuras e outras atividades e foi lá que conheceu o futuro pai de Machado, Francisco José de Assis, pintor de casas, dourador e também agregado da fazenda. Eles se casaram no dia 19 de agosto de 1839, na capela da chácara.
Machado, que nasceu em 21 de junho de 1839, ganharia sua irmã em 3 de maio de 1841, mais uma Maria, mas que infelizmente morreria muito jovem, em 4 de julho de 1845, com apenas quatro anos de vida, vítima de uma epidemia de sarampo na cidade. Onze anos depois, Machado, ainda adolescente, escreveria no jornal "A Marmota Fluminense" a poesia "Um anjo", com a dedicatória "À memória de minha irmã", da qual retiro esta estrofe, que iniciava e terminava a poesia:
"Foste a rosa desfolhada
Na urna da eternidade
P´ra sorrir mais animada
Mais bela, mais perfumada,
Lá na etérea imensidade".
Na urna da eternidade
P´ra sorrir mais animada
Mais bela, mais perfumada,
Lá na etérea imensidade".
Naquele mesmo fatídico ano de 1845 morria também sua madrinha. Maria José da Conceição Barroso assumira a chácara após a morte do marido, que, como disse, foi figura importante no Império, chegando a senador, ministro e brigadeiro. Ela teve por Machadinho, como era conhecido na juventude, um carinho maternal. Muito provavelmente as primeiras leituras dele aconteceram na própria chácara, influenciada pela madrinha, que pode ter aberto para ele as portas da biblioteca de Bento Barroso Pereira. Maria José morreu em 11 de outubro de 1845, aos 72 anos, também vítima da epidemia de sarampo.
Quatro anos depois, em 18 de janeiro de 1849, era a vez da mãe de Machado de Assis partir, aos 36 anos, de tuberculose. Aos dez anos de idade, o futuro escritor já tinha perdido a mãe, a irmã e a madrinha, só lhe restando o pai. Na mesma "A Marmota Fluminense", Machado também homenagearia a mãe com uma poesia, da qual segue o trecho:
"Se devo ter no peito uma lembrança
É dela, que os meus sonhos de criança
Dourou: é minha mãe
É dela, que os meus sonhos de criança
Dourou: é minha mãe
Se dentro do meu peito macilento,
O fogo da saudade me arde lento
É dela: minha mãe"
O fogo da saudade me arde lento
É dela: minha mãe"
Francisco de Assis se casaria novamente em 18 de julho de 1854 com outra Maria, Maria Inês da Silva. Nessa época, a família já tinha se mudado da Chácara do Livramento para a Rua São Luiz Gonzaga, em São Cristóvão, e Machadinho, com apenas 15 anos, começava a escrever em jornais cariocas, como a já citada "A Marmota Fluminense" e a fazer contatos no meio literário da Corte brasileira. Não se sabe quando Maria Inês morreu. A outra mulher importante na vida de Machado não tinha Maria no nome: Carolina Augusta Xavier de Novais foi sua esposa durante 35 anos e receberia, após a sua morte, em 1904, uma poesia do marido (um soneto), da mesma forma que Machado, ainda adolescente, fizera para a mãe e a irmã:
"Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro
Que, a despeito de toda a humana lida
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro
Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
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