Marechal Hermes, assim como todos os bairros dos subúrbios, tinha o seu cinema, o Cine Lux, que infelizmente só peguei nos últimos anos, na década de 80, bem depois da época em que a tampinha de uma caixa de sabão em pó podia ser trocada por um ingresso e de quando os cinemas ainda tinham os lanterninhas, no caso do Lux conhecidos ironicamente como Montanha e Tarzan, pois eram dois senhores bem magrinhos. Muita gente frequentava as matinês do cinema, que além dos filmes passava jornais e seriados.
O jornal "Correio da Manhã" assim noticiava (com a grafia da época), em 11 de dezembro de 1934, a inauguração do cinema:
UMA TARDE DE FESTAS EM MARECHAL HERMES
Inaugura-se hoje, ali, um cinema, que rivalisa com os mais modernos
"Hoje, ás 4 horas da tarde, Marechal Hermes será enriquecido com a inauguração de um cinema que rivaliza com os melhores da cidade. Trata-se do Cine Lux, moderníssima concepção de architectura, que, além da belleza das linhas exteriores, tem uma sala de projecção, um verdadeiro estudo de acustica. Tem o novo cinema, para commodidade dos seus frequentadores, ventilação natural dada por uma cupola; os apparelhos de som, das mais recentes fabricações, são da Western Electric o que assegurará, sem duvida, a primeira posição entre os cinemas dos nossos suburbios.
Para a inauguração do novo cinema foi escolhido o film da Metro Goldwin Mayer "Viva Villa", uma das grandes creações daquela companhia americana. Á "premiére" comparecerão os ministros do Trabalho e da Educação, interventor Pedro Ernesto, director da Central do Brasil, presidente do Instituto Nacional de Previdencia - a quem se deve a iniciativa do melhoramento - e outras autoridades.
Estão, pois, de parabens, os moradores do suburbio pela bellissima acquisição que acabam de realizar".
Mas se Marechal não tem mais o seu cinema, transformado em templo religioso há mais de 20 anos, o bairro, com suas ruas largas, tranquilas e arborizadas e os sobrados centenários, Marechal Hermes é um cenário muito utilizado em filmes, novelas e seriados. É o segundo bairro do Rio de Janeiro que mais serve de cenário para produções audiovisuais, só perdendo para Copacabana. Na década de 70, por exemplo, foi rodado no bairro o filme “Chuvas de verão”, com Miriam Pires e Jofre Soares, dirigido por Cacá Diegues na Rua Engenheiro Assis Ribeiro. Mais tarde, outros filmes foram rodados no bairro, como "Parahyba mulher macho", de Tizuka Yamazaki, "A suprema felicidade", de Arnaldo Jabor e "Billi Pig", dirigido por José Eduardo Belmonte.
Em 1998, a segunda versão de "Pecado Capital", da Rede Globo, foi rodada nas ruas do bairro, onde moravam o taxista Carlão (Eduardo Du Moscovis) e sua namorada, Lucinha (Carolina Ferraz). Outras produções que se utilizaram do bairro foram as novelas "Pecado mortal" (Record), "Boogie Woogie (Globo), "Avenida Brasil" (Globo) e "Além do horizonte" (Globo).
Parte dos sobrados originais do bairro precisa de uma reforma. Em 2013, o bairro foi o primeiro da zona norte a ganhar uma Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac), reunindo seis ruas e uma praça, incluindo a estação ferroviária e os prédios dos cursos de Mecânica e Eletrotécnica da Escola Visconde de Mauá. O decreto impede a construção de imóveis com gabarito superior a três andares, ou 11 metros de altura, e abre possibilidades para que as obras de restauração dos sobrados sejam custeadas pela prefeitura.
* Imagem aérea do bairro na década de 1930, com o Cine Lux em destaque
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