NOMES DE BAIRROS CARIOCAS E SUAS LENDAS, ALGUMAS ATÉ BEM CONVINCENTES
Por André Luis Mansur
Nomes de bairros sempre despertam
curiosidades. E o mais interessante é que, ao lado da versão, digamos, oficial,
há sempre a lenda, a explicação mais folclórica, que ficou na tradição oral
durante décadas, às vezes séculos, e muitas vezes são as mais interessantes. É
o que acontece com o nome da Ilha de Guaratiba e de outros bairros aqui da Zona
Oeste do Rio de Janeiro.
Quando comecei a conhecer a região, lá pelos anos 80, estava em Campo Grande e vi um ônibus com o destino "Ilha". Meu primeiro pensamento foi que seguia para a Ilha do Governador. Mas depois vim a descobrir que não havia, e não há até hoje, um ônibus direto entre Campo Grande e Ilha do Governador. Que ilha era essa então? Aí me explicaram que era a Ilha de Guaratiba. Ah, tudo bem, Guaratiba tem um amplo litoral, deve ser alguma das ilhas que estão ali por perto. Mas que nada. A Ilha de Guaratiba fica é em terra mesmo, foi o que me disseram, e seu nome tinha a ver com um tal inglês que morou lá fazia muito tempo. Um tal de William.
Reza a lenda, e aí vem a versão folclórica, que um inglês chamado William, que teria vindo com a Corte portuguesa, em 1808, foi morar em Guaratiba e aí, quando as pessoas iam para lá, diziam: "Vai aonde? - Para a fazenda do seu William. - Que William? - O William de Guaratiba". E aí o tal William de Guaratiba, com o tempo, e bota tempo nisso, foi mudando até chegar ao nome atual de Ilha de Guaratiba.
Bem, como eu disse, esta é a versão
folclórica. A outra explicação diz que o nome Engenho da Ilha já existia bem
antes da chegada da Família Real e não tem nada a ver com inglês nenhum, e sim
com a grande quantidade de rios e canais da região, que, quando enchiam (e
lembremos que os rios tinham muito mais água do que hoje), deixavam uma grande
porção de terra, mais elevada, cercada de água por todos os lados, a tal Ilha
de Guaratiba. Como não sou dono da verdade, nem pretendo ser, deixo para cada
um escolher a sua versão - eu escolho esta última.
Fachada da sede do Ilha Futebol Clube
Brasão de Realengo
Inhoaíba - Instituto Ana Gonzaga
Também o bairro de Vila Valqueire, já ali entre as Zonas Norte e Oeste, possui uma explicação bem curiosa sobre o seu nome, a de que teria existido uma fazenda em um tal "V Alqueire" ("V" é "cinco" em algarismo romano, seria um "quinto alqueire"), mas neste caso não há dúvida, o nome vem mesmo do fazendeiro Antônio Fernandes Valqueire, dono de um engenho na região no século XVIII. Mesmo assim há quem acredite no tal "quinto alqueire".
Rua das Verbenas, na Vila Valqueire, década de 30
Dúvidas à parte, esta e outras versões sobre os nomes de vários bairros da cidade sobreviveram até hoje, mostrando a força da tradição oral, que se muitas vezes está distante da verdade registrada em documentos oficiais, ela não deixa de ter o seu valor ao despertar a curiosidade dos moradores pela origem dos nomes dos seus bairros. Como já falei aqui neste espaço, conhecer a História do seu bairro é fundamental para se criar afinidade com ele e saber o que reivindicar em melhorias e investimentos. E saber a origem do nome do bairro, da rua ou do logradouro, é o primeiro passo para isso. Afinal, quem não fica curioso ao ouvir falar em nomes como Curral Falso, Manguariba, Marapicu, Paciência, Viaduto dos Cabritos, Buraco do Faim, Esquina do Pecado, Marco 7, Caminho do Vai e Vem e tantos outros que enriquecem a História, "oficial" ou não, da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
* Este texto faz parte do meu livro "Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca"
Nenhum comentário:
Postar um comentário