
A insistência em se divulgar certos termos no jornalismo, acreditando que eles tenham interesse para alguém, pode gerar situações bastante curiosas. Na economia, por exemplo, qualquer pessoa que conheça um pouquinho de Bolsa de Valores sabe que aquilo lá funciona no fundo como um grande cassino, onde os grandes especuladores sempre se dão bem e o pequeno investidor, se não tiver uma orientação muito boa, pode perder o pouco que investiu. Por isso, a variação brusca dos índices nem sempre quer dizer que a economia está volúvel. Mas nas épocas de turbulência econômica internacional, como na crise dos tigres asiáticos, em 1998, a situação sempre beira o caos, pelo menos na cabeça de muitos editores, que resolvem colocar o economês com a língua mais importante do país no momento.
Pois bem, a equipe de um importante telejornal resolveu ir às ruas para testar a eficiência desse tipo de informação. E escolheram como pauta o Nasdaq. Para quem não sabe, Nasdaq é o nome da Bolsa de Valores americana utilizada apenas por empresas de alta tecnologia em informática, telecomunicações e outros setores. Quer dizer: se o interesse pela Bolsa de Valores, tanto brasileira quando americana, já é restrito, o que dizer do índice Nasdaq. Mas o que importa é que todo dia, em horário nobre, para milhões de telespectadores no Brasil inteiro, o índice era divulgado, muitas vezes num tom dramático se ele caísse muito.
A equipe de jornalistas resolveu ir a um restaurante especializado em carnes onde costumavam almoçar. Quando o garçom chegou para fazer os pedidos a, digamos, porta-voz não pensou duas vezes:
- Nós queremos Filé à Nasdaq. O senhor tem?
O garçom franziu a testa, pensou muito e, com vergonha de reconhecer que desconhecia o próprio cardápio, pediu licença para perguntar ao cozinheiro, diante do olhar tranqüilo dos comensais, que sequer esboçaram um sorriso.
Logo em seguida, vem ele, com uma expressão de desânimo e já pensando num prato alternativo.
- Senhora, desculpe, mas o cozinheiro disse que não temos o File à Nasdaq, mas vocês não gostariam de...
- Como?! Aqui é especializado em carnes e o senhor não tem o File à Nasdaq? Aparece todo dia na televisão.
Com medo de que sua aparente ignorância pudesse ser percebida por outras pessoas, o garçom ficou nervoso, começou a suar frio e a gaguejar.
- É...in-infelizmente não temos. Os senhores na-não querem outro prato...?
Vendo o constrangimento do garçom, os jornalistas disseram que não tinha problema e optaram por outro prato, até porque a idéia não era humilhar ninguém. E naquele dia, os que acreditavam que o índice Nasdaq era importantíssimo para o povo brasileiro tiveram de rever seus conceitos. Coincidência ou não, algum tempo depois ele foi retirado do ar, mas o ´cardápio´ ainda pode ser mais enxugado. Basta que alguém peça em algum restaurante um picadinho de superávit primário, um caldo de mercado (bem agitado) ou um ensopado de bovespa. A indigestão é certa.