9.27.2011

SILHUETA



Parada no tempo, por um breve momento sentiu um espanto,
se não tanto, pelo menos a profunda percepção de
que o mundo girava à sua volta e levava embora todos os sentimentos,
desde os mais íntimos desejos
às mais cordiais saudações

Nesse instante, abriu-se uma fenda sob seus pés e
buscou o ar que faltava

Antes que a notassem,
conseguiu firmá-los em um ponto imaginário
de terra firme e pedregosa

A menina no canto esperou que as formas se
mostrassem na penumbra do
por do sol

Mas elas se apresentaram como um espelho,
no qual a menina se viu com toda a sua personalidade estampada

E gostou do que viu

* Agradeço a Tatiane Schneider pela foto tirada numa bela tarde de família reunida na praia de São Francisco, em Niterói. Na praia banhada pelas águas calmas da Baía de Guanabara, Caroline Schneider e a menina Isabella ao fundo.

9.04.2011

O VELHO OESTE CARIOCA VOL. II


Amigos, no próximo sábado, dia 10, estarei na Bienal do Livro, no Riocentro, autografando meu novo livro, "O Velho Oeste Carioca vol. II (ed. Ibis Libris), das 13h às 15h30, no estande da Singular Digital. O lançamento, digamos, oficial, será no dia 22 na livraria República do Bardo, em Copacabana, mas quando estiver mais perto eu mando um lembrete. Abraços a todos.

Sinopse:

No segundo volume de "O Velho Oeste Carioca" continuo a contar mais histórias do passado da região do Rio de Janeiro que vai dos bairros de Deodoro a Sepetiba. Desta vez, mesclando a pesquisa documental com a tradição oral dos moradores da região, que falam, com saudade, dos bondes que iam de Campo Grande a Guaratiba e ao Rio da Prata, do ramal de Mangaratiba com seu trem “macaquinho”, dos muitos cinemas que desapareceram, da época em que as praias de Pedra de Guaratiba e Sepetiba eram limpas, e do modo de vida rural que prevaleceu na região até há algumas décadas, quando os agricultores recebiam o dinheiro das colheitas no Café e Bar do Lavrador, e faziam todo ano a eleição da Rainha da Lavoura.

8.04.2011

CARTA PARA A MÃE

Qual a sensação de se chegar à idade em que a mãe morreu?

Cheguei, enfim, à idade em que minha mãe Lucy morreu, aos 42 anos, no hoje bem distante 1º de fevereiro de 1981. Aos 11 anos, recebia a notícia, de forma fria e seca, de uma tia-avó, sintetizada numa frase: "Morreu". Para mim, aquilo soou como o fim de uma era, algo estranho e misterioso que se iniciava e que estava preso a uma aura de sofrimento, vide o choro compulsivo de minha avó no sofá da sala.

Nunca parei para pensar em como seria quando chegasse à idade em que ela partiu. Achava que uma emoção inesperada tomaria conta de mim quando passasse a ver o mundo da idade dela, principalmente porque 42 anos, para um garoto de 11 anos, e numa época em que a expectativa de vida era menor, parecia muito tempo.

Ao me colocar na idade dela desde o último dia 3 de agosto, um dia frio e chuvoso, passei a sentir sua presença de forma viva, quase reconfortante. Como se aquele domingo ensolarado de verão voltasse de forma mais iluminada, sem a sombra amarga da morte, sem frases frias e sofridas, sem o olhar piedoso dos vizinhos, sem a chegada triste e contida de meu pai, e sem, principalmente, a sensação de que o tempo não me daria chance a um recomeço. Mas ele sempre dá.

2.21.2011

ENTREVISTA

Entrevista dada a Rafael Cruz, do site http://tecnologia-e-cinema.com

Prezados leitores. É com muita honra que eu publico uma entrevista muito especial. Ela já estava prometida há meses e só agora conseguiu ser finalizada. Hoje entrevistaremos o amigo e escritor André Luis Mansur, direto de Campo Grande, esse delicioso bairro do Rio de Janeiro. Aproveitem o que ele tem a dizer.

Tecnologia e Cinema (TC) – André, você é jornalista e crítico literário. Quando você teve a ideia de escrever suas próprias estórias? Como foi isso?

André Luis Mansur (ALM) – Foi nos anos 90. Já na faculdade (UFRJ) fiz alguns textos de humor que o pessoal gostou muito. Ao longo dos anos, fui procurando ler os mestres e ir escrevendo bastante, até encontrar um estilo. Os contos da ´Rebelião dos Sinais´ foram todos escritos entre 1993 e 1999.

TC – Seu primeiro livro, o Manual do Serrote (que é o meu favorito), é uma ode ao bom humor e ao sarcasmo. Você teve problemas com amigos ou conhecidos por acharem que você estava escrevendo sobre eles? E qual foi a reação do público a este seu primeiro livro?

ALM - Pelo contrário, quando as pessoas se identificam com o serrote é que fica engraçado. A reação é sempre muito boa, não há quem não dê umas boas risadas e o melhor, sempre indicam mais um tipo de serrote, que eu vou anotando. O livro infelizmente está esgotado* e a editora que o produziu (Bruxedo) já fechou as portas, mas tenho planos de fazer uma edição revista e ampliada, tal a quantidade de novos serrotes que já surgiram.

TC – Como ocorre a criação de um conto?

ALM - Eu não costumo seguir um método, mas sempre que eu acho que surge uma boa ideia, um bom argumento, eu anoto e deixo para mais tarde desenvolver. Às vezes vem o conto quase todo e eu o escrevo. As ideias podem surgir em qualquer lugar, por isso procuro sempre anotar, pois se deixar pra depois posso esquecer e aí não dá pra recuperar mais, ela vai em busca de um novo escritor.

TC – Em 2008 você lançou o livro “O Velho Oeste Carioca” **, que é um magnífico acervo de fatos e curiosidades históricas sobre a zona oeste do Rio de Janeiro. Como foi o trabalho de pesquisa para esta obra tão singular?

ALM - Foram cinco anos de pesquisa, feita em bibliotecas, arquivos, jornais, revistas e até um pouco pela internet. O mais difícil é que não existem muitas publicações sobre a região, espero que a situação melhore um pouco. Pelo menos tenho visto muitos estudantes de História e professores interessados na região.

TC – Em 2010 você lançou o seu novo livro “A Rebelião dos Sinais”, que é uma coletânea de 13 excelentes contos. No entanto, boa parte desses contos você escreveu nos anos 90. Por que esperou tanto para publicá-los?


ALM - Na verdade, eu não esperei, eu o mandei para vários lugares, mas as editoras nunca me deram chance. Fiz até um artigo sobre isso para o meu blog ( www.emendasesonetos.blogspot.com ) chamado “O primeiro ´não´ a gente nunca esquece". Se tivesse conseguido publicar os contos no ano 2000, por exemplo, e conseguido uma boa receptividade, é bem provável que hoje eu já tivesse um bom número de livros de ficção.

TC – Além de escritor, sei que você também é cinéfilo. Eu, que já li todos os seus livros, posso perfeitamente imaginar cada conto no formato de um curta-metragem. Já pensou em transformar alguns dos seus contos em roteiros e oferecer a um diretor para que os transformem em filmes?


ALM – Já me fizeram a proposta de transformar "O Velho Oeste Carioca" em documentário, estou aguardando novos contatos. Sobre "A Rebelião dos Sinais", a peça que dá nome ao livro pode muito bem virar um roteiro. E o Manual do Serrote, talvez surjam novidades audiovisuais em breve, mas por enquanto ainda não posso revelar.

TC – Falando em cinema, você administra um cineclube*** no Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, em Campo Grande-RJ. Como você vê a relação entre o cinema e a literatura?

ALM – São duas linguagem diferentes, que se complementam. Muitas vezes um filme adaptado de uma obra literária acaba se tornando mais interessante do que a própria obra. Posso dizer que, junto com a música, são as formas de arte que mais me emocionam.

TC – Quais são seus projetos futuros? Pode nos revelar?

ALM - O mais próximo é o lançamento de “O Velho Oeste Carioca – vol. II”, com mais histórias sobre a região. Já está sendo revisado pela mesma editora do primeiro, a Ibis Libris, e acredito que até maio possamos lançá-lo. No mais, tenho esboçado algumas coisas, inclusive na área de ficção, mas por enquanto não há nada certo ainda.

* O Manual do Serrote está esgotado, mas o autor publicou alguns trechos do livro no site www.manualdoserrote.blogspot.com

** O Velho Oeste Carioca pode ser encontrado nas principais livrarias, como a Travessa, Saraiva, Arlequim, Folha Seca, Leonardo da Vinci, Bangu Shopping, West Shopping, livrarias da Universidade Castelo Branco, UniMSB e, em Campo Grande, no bar Chopp da Villa, banca de jornais do Prezunic, Livraria Edital, Sebo de Campo Grande e bar da Dona Lourdes, no Rio da Prata. Também no Fernando´s Bar, na Pedra de Guaratiba, pertinho do Píer.

*** A Rebelião dos Sinais é vendido apenas em Campo Grande, na livraria Edital, no Chopp da Villa e no bar da Dona Lourdes. Ou pelo site da editora (www.editoramultifoco.com.br)

*** O Cineclube Moacyr Bastos fica na rua Engenheiro Trindade, 229, no UniMSB, e funciona sempre às sextas-feiras, às 19h, com entrada franca.