7.19.2007

Os bons e NOVOS tempos (I)





A LAPA QUE VOLTOU A SER A LAPA

Muita gente boa vem conseguindo furar o bloqueio dos medalhões da música e da literatura brasileiras. Na música, um dos principais motivos é a revitalização da Lapa, mítico território cultural bem no centro do Rio de Janeiro e que viveu seu apogeu nas décadas de 30 e 40, eternizada por gente como Noel Rosa, Moreira da Silva e Madame Satã. Mas se nos anos 90 a Lapa vivia um período de decadência, de lá pra cá ela se transformou em ponto de atração turística, com dezenas de antiquários e sobrados restaurados que lembram a música de Herivelto Martins e Benedito Lacerda: "A Lapa está voltando a ser a Lapa".

Ou melhor, já voltou. Nessas casas, lotadas às sextas e sábados, só toca boa e renovada música, sem contar o movimento das ruas em torno, com barraquinhas e caixas de isopor com um preço de cerveja mais em conta. O burburinho só acaba quando o dia amanhece, para fazer jus à tradição boêmia da Lapa de outrora.

Pois é nesse espaço extremamente democrático, freqüentado principalmente por jovens cansados do marasmo que as rádios jabazeiras e a maioria dos programas de auditório querem impor, que nomes como Edu Krieger, Roberta Sá, Ana Costa, Rodrigo Maranhão, Teresa Cristina e grupo Semente, Brasov e tantos outros formaram uma boa parcela do seu público extremamente fiel. Parte da turma que toca lá, aliás, passou por dois centros de excelência na formação musical: a escola de música Villa-Lobos, ali pertinho, na rua Ramalho Ortigão, e a Faculdade de Música da Uni-Rio, na Urca.

Se essa galera passou anos lutando para conseguir um espaçozinho ao sol, ou seja, gravadoras, rádios (sem jabá), espaços maiores para tocar, mídia em geral, hoje esses músicos, que valorizam a genuína música brasileira (choro, samba, forró etc), começam a colher os frutos gravando discos bem produzidos, alguns com colaboração de gente graúda (como Geraldo Azevedo com Edu Krieger e Roberta Sá com Ney Matogrosso), conseguindo espaços nobres como o Canecão e divulgação cada vez maior na mídia, embora ainda haja muitas trincheiras a conquistar.

No próximo artigo, falo da renovação na literatura.

- Lá em cima: Fotos de Roberta Sá e Edu Krieger e ilustração de Noel Rosa.