8.16.2010

OS 300 ANOS DA INVASÃO FRANCESA AO RIO DE JANEIRO


Faz três séculos que o Rio de Janeiro viveu um dos capítulos mais dramáticos de sua História

No dia 17 de agosto de 1710, uma frota composta por seis embarcações e um número entre 1000 e 1500 corsários franceses tentou entrar no estreito gargalo da Baía da Guanabara. Lógico que o objetivo deles não era nem um pouco amistoso. Corsários eram piratas, digamos, “oficiais”, pagos pelos seus respectivos reinos para invadir e saquear territórios inimigos. À frente da esquadra estava Jean François Du Clerc, audacioso comandante nascido na ilha de Guadalupe, no mar do Caribe, e que adquirira grande fama pelas várias vitórias conseguidas contra portugueses e ingleses em acirradas batalhas navais.

Repelidos pelos canhões da Fortaleza de Santa Cruz, os franceses seguiram rumo ao litoral oeste da cidade. Saquearam algumas fazendas e igrejas na Ilha Grande e na Ilha da Madeira, não sem reação dos moradores, que mataram e feriram alguns dos invasores, e resolveram invadir a cidade pela Barra de Guaratiba, desembarcando naquela praia em 11 de setembro. Guiados por quatro escravos fugidos, saquearam novamente fazendas e igrejas (entre elas a de Santo Antônio da Bica, restaurada há algumas décadas pelo paisagista Burle Marx) e seguiram rumo ao centro da cidade, provalmente pelas montanhas de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca.

Entrincheirados entre os morros da Conceição e de Santo Antônio, as forças de defesa comandadas pelo governador Francisco de Castro Morais, não impediram o avanço dos franceses, que chegaram no dia 19 e seguiram rumo por Santa Teresa até a altura do Largo do Carmo, atual Praça XV, onde ocorreram os principais combates. Os brasileiros eram liderados por Gregório de Castro Morais, irmão do governador, e pelo Frei Francisco de Meneses. Entre seus combatentes mais fervorosos, estavam os estudantes do Colégio dos Jesuítas, no morro do Castelo. Além de tiros, pedras e facadas, os franceses precisavam enfrentar as tinas de água fervente despejadas pelos moradores nas ruas estreitas da cidade.

Perdida a guerra, com um saldo de 300 franceses mortos e 500 feridos, 50 defensores mortos e cem feridos (números sempre estimados apenas), os franceses presos ficaram espalhados em alguns lugares da cidade. Du Clerc foi preso no Colégio dos Jesuítas, mas conseguiu ser removido para a casa do Tenente Tomás Gomes da Silva, na rua da Quitanda – um dos melhores sobrados da cidade na época. E aí acontece outro episódio obscuro de toda esta história, pois na noite de 18 de março o comandante francês foi assassinado na cama. Havia rumores de que Du Clerc andou se engraçando com algumas senhoras respeitáveis da sociedade carioca, entre elas a própria esposa do governador. O caso nunca foi esclarecido e de certa forma foi vingado pela invasão de René Duguay-Trouin no ano seguinte, que só soube da morte de Du Clerc quando aqui chegou e que conquistou a cidade com extrema facilidade, exigindo um resgate altíssimo para ir embora. As falhas do governador na defesa da cidade durante esta segunda invasão lhe valeram o afastamento do cargo e a fama de covarde e ineficiente na defesa da cidade.

* Li muitos livros que citam o tema, o mais completo, no entanto, é "Os arquivos da invasão", do pesquisador Ronaldo Morais, que foi a fundo na sua pesquisa sobre a incrível aventura do corsário francês.

* Pintura: “Derrota dos Franceses e Prisão de Du Clerc em 1710”- Armando Viana. Museu Histórico Nacional-GB

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