3.31.2013

FRAGMENTOS DO RIO ANTIGO



FRAGMENTOS DE UMA CIDADE
QUE SEMPRE SE TRANSFORMA
         Foi há muito tempo, mas já houve uma tentativa de se defender o Rio de Janeiro com um muro, como aconteceu em muitas cidades medievais da Europa. O projeto, que durou três séculos, nunca foi muito à frente, principalmente por discordâncias e falta de continuidade de um governo para outro, um problema que, aliás, até hoje atrapalha as obras longas no país. A história das idas e vindas da construção do muro, cujos limites iam até a altura da atual rua Uruguaiana, é um dos capítulos deste livro, escrito pelo jornalista André Luis Mansur e pelo médico Ronaldo Morais e repleto de fotos de importantes monumentos históricos do Rio tiradas por Ronaldo principalmente nos anos 80.
         Uma delas é a Fazenda de Nossa Senhora da Conceição, na Pavuna, demolida na década de 80 e que abrigava uma picota, a única descoberta até hoje na cidade. A picota era um instrumento de tortura dos escravos e que substituía o pelourinho nas áreas mais afastadas do centro da cidade.
         Outra fazenda importante era a de Colubandê, em São Gonçalo, e que abrigou muitos judeus perseguidos pela Inquisição. Nas fotos ela aparece bastante degradada, mas hoje está muito bem preservada e oferecendo bárias atividades de lazer para os moradores da região. Outro monumento que aparece bastante degradado no livro e hoje está restaurado é a Casa de Banhos de D. João VI, no Caju, que hoje é o Museu da Limpeza Urbana da Comlurb. A Casa de Banhos era o local oferecido ao príncipe-regente para ele tomar banho na praia do Caju por recomendação médica, já que havia sido picado por um carrapato na Fazenda de Santa Cruz, na antiga zona rural da cidade. Com a medida, D. João inaugurou um hábito hoje totalmente associado ao lazer do carioca: o banho de mar.
         O livro traz também, entre outros monumentos importantes, a estação de trem de Marechal Hermes, de 1912, a Fundição Cavina, em Lins de Vasconcelos, de onde saiu, por exemplo, a estátua de Tiradentes, que fica em frente à Assembleia Legislativa. A fundição Cavina hoje está abandonada, assim como o Reservatório do Morro da Viúva, entre Flamengo e Botafogo,
         Além dos monumentos, o livro traz histórias curiosas e divertidas, como o primeiro acidente de automóvel da cidade, provocado pelo poeta Olavo Bilac, que bateu numa árvore com o carro do abolicionista José do Patrocínio. Outro caso que mereceu destaque no livro é o de Bárbara dos Prazeres, que morava perto do Arco do Teles, na atual Praça XV, e que, segundo reza a lenda, utilizava métodos bem sinistros em seus rituais. A história também, esta bem real, do assassinato da esposa de Fernando Carneiro Leão, amante de Carlota Joaquina, a mandante do crime, mostra como as relações de poder muitas vezes atropelaram os trâmites judiciais.
         Já a lenda da Pedra da Gávea, de que o suposto rosto que aparece na formação rochosa, seria de um monarca fenício, gera até hoje argumentos bem curiosos, até porque as inscrições que aparecem numa parte da rocha até hoje não foram bem explicadas.
“Sabe-se que nem todo brasileiro é apaixonado por carro, mas José do Patrocínio o era, até porque o seu era o único da cidade. E sua desolação foi imensa, pois seu carro foi a primeira “perda total” do trânsito no Rio. Quem não ficou triste, com certeza, foi o povo carioca, ao pensar que ao invés de um tronco de árvore poderia existir um pedestre no meio do caminho”.
Trecho de “No meio do caminho tinha uma árvore”.
Fragmentos do Rio Antigo (Edital)
         André Luis Mansur e Ronaldo Morais         
         Edital
         80 páginas
         R$ 29,99