2.22.2023

O FILHO DE PESQUEIRA, DE ANDRÉ LUIS MANSUR


 Chegando da pequena cidade de Pesqueira, em Pernambuco, o adolescente Gabriel chega ao Rio de Janeiro no início da década de 70, com uma pequena maleta de madeira e muitos sonhos. Desce na Rodoviária Novo Rio e, enquanto aguarda seus tios, ouve um burburinho do lado de fora. Acha que é uma festa, bem maior do que as de sua pequena cidade, e se mete no meio da multidão, tentando entender o que o povo cantava. Ganha até um saco de bolas de gude.

O que acontece, a partir daí, é o crescimento de um jovem cheio de sonhos, confrontado com um mundo completamente diferente da vida que ele levava, mas motivado pelo desejo de aprender, principalmente quando Gabriel é levado a conhecer a Biblioteca Nacional, um impacto para o jovem acostumado às modestas instalações da Biblioteca de Pesqueira.

O mundo dos livros o desperta para a compreensão das injustiças sociais históricas do Brasil, principalmente quando ele compara a realidade dos sertões e das favelas, muito influenciado por seu tio-avô Ferdinando, um homem de hábitos singulares e que guarda, como pequeno tesouro, a farda de um dos soldados de Antônio Conselheiro que enfrentaram as tropas republicanas. Gabriel ganha do tio-avô um disco, com o samba-enredo "Os Sertões", de 1976, da Escola de Samba "Em Cima da Hora":

"Agora vinha a lembrança do tio Firmino, que o fez acreditar que a frase 'o sertanejo é antes de tudo um forte' era dele e não de Euclides da Cunha. Gabriel se levantou, andou pela casa, sentiu sede, bebeu água, sentiu mais sede, olhou pela janela e viu a cidade urbana onde ele morava, bem distante das suas raízes, raízes que muitas vezes eram a única alimentação do sertanejo. A música continuava, falando de 'um homem revoltado com a sorte', que espalhava a rebeldia e se revoltava contra a lei que a sociedade oferecia, Gabriel se via nesse homem, se sentia em um grupo de jagunços lutando contra a opressão e a injustiça, adormeceu no chão, sonhando com um Brasil justo, sem miséria e covardia".


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André Luís Mansur (Rio de Janeiro, 1969) é jornalista e escritor, autor de 18 livros, nascido no Rio de Janeiro, tendo atuado em veículos importantes da imprensa carioca, como os jornais O Globo, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. Apenas no jornal O Globo publicou mais de cem críticas literárias para o caderno “Prosa & Verso”. No bairro de Campo Grande, onde mora, coordenou de 2005 a 2012 o Cineclube Moacyr Bastos, exibindo mais de trezentos filmes gratuitamente.

Seu primeiro livro foi lançado em 2004, o Manual do serrote, de humor. Quatro anos depois lançou seu livro de maior sucesso, O velho oeste carioca, que conta a história da zona oeste do Rio de Janeiro, entre Deodoro e Sepetiba, e que gerou mais dois volumes, lançados em 2012 e 2016.