11.01.2017

TIRADENTES CARIOCA - LANÇAMENTO

Amigos, irei lançar, no dia 30 de novembro, o livro "Tiradentes Carioca - as relações dos inconfidentes mineiros com o Rio de Janeiro", escrito por mim e Ronaldo Morais. O lançamento será na livraria Arlequim, no Paço Imperial, que fica na Praça XV (centro do Rio), das 18h às 20h30. Como tem um mês ainda pela frente, estamos começando a divulgação. Segue o release.

TIRADENTES CARIOCA - As relações dos inconfidentes mineiros com o Rio de Janeiro, de André Luis Mansur e Ronaldo Morais

"Tiradentes Carioca" fala das relações que os inconfidentes mineiros tiveram com o Rio de Janeiro, principalmente Joaquim José da Silva Xavier, seu personagem mais famoso, alçado à condição de mito após a proclamação da República. Tiradentes teve várias passagens pela então capital da mais rica colônia portuguesa, seja aquartelado com sua tropa no bairro do Leme, desenvolvendo projetos de canalização de rios que seriam apreciados pela rainha Maria I (a mesma que assinaria sua sentença de morte), curando pessoas com ervas medicinais e fazendo articulações políticas, muitas vezes de forma nada discreta.

O quarto livro da dupla André Luis Mansur e Ronaldo Morais (falecido em 2015) trata de um tema não muito explorado na Inconfidência Mineira, que é a relação que os inconfidentes mineiros, em especial Tiradentes, tiveram com pessoas e lugares no Rio de Janeiro, como Darcy Ribeiro ressaltou numa entrevista citada no livro: “Aqui ele viveu, aqui ele conspirou, aqui ele foi enforcado e esquartejado numa festa enorme em que a nobreza, os militares, o clero e a justiça, enfim, todos comemoraram a morte daquele que se levantou contra a rainha D Maria I, a Louca. E aqui para o Rio ele teve grandes projetos”.

Entre os projetos citados por Darcy Ribeiro estava o de canalizar águas dos rio Maracanã e dos córregos Catete e Andaraí para melhorar o abastecimento na área central da cidade, projeto que, apesar de ter chegado ao conhecimento da rainha Maria I, foi boicotado devido aos interesses daqueles que vendiam água aos moradores através de escravos e que teriam seus comércio prejudicado com o projeto de Tiradentes. "A canalização dos rios, se fosse concretizada, levaria água com muito mais facilidade aos moradores, através de chafarizes, o que daria grande prejuízo a estes comerciantes, que, aliás, tinham grande influência no Senado da Câmara, a instituição que poderia ajudar a aprovar os projetos de Tiradentes. Era um lobby muito poderoso na época, embora esta palavra ainda estivesse longe de ser usada".

A primeira passagem de Tiradentes pela cidade ocorreu com a sua tropa, o Regimento dos Dragões, onde servia como alferes. Devido à ameaça de uma invasão espanhola, o regimento ficou durante três anos no Reduto do Leme, construção que existe até hoje, e nesse período Tiradentes pôde conhecer bem a cidade. Suas andanças como militar, aliás, o fizeram desbravar como ninguém o Caminho Novo, a estrada que ligava Vila Rica (atual Ouro Preto) ao Rio de Janeiro e na qual era transportado o ouro das Minhas Gerais até o porto do Rio, onde era embarcado para Lisboa. O comandante de Tiradentes, Francisco de Paula Freire de Andrada, também era inconfidente e tinha uma relação forte com o Rio de Janeiro, pois era sobrinho de Gomes Freire de Andrada, governador do Rio de 1733 a 1763.

Mansur e Morais começam e terminam o livro falando do momento mais dramático da Inconfidência Mineira, o enforcamento de Tiradentes, dando todos os detalhes daquele fatídico 21 de abril de 1792. O livro não mergulha fundo no movimento em si, já que o foco aqui é outro, mas o explica de forma leve e agradável, dando destaque a personagens não tão conhecidos, e muito emblemáticos, como o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o responsável pelo único momento de tiroteio na Inconfidência Mineira, e o advogado carioca José de Oliveira Fagundes, que fez o que pôde para tentar salvar os inconfidentes presos.

Os autores ressaltam que muitos comerciantes cariocas, boa parte ligados à maçonaria, apoiaram o movimento, interessados na independência de Portugal. José Joaquim da Maia e Barbalho era filho de um desses comerciantes. Estudante na Universidade de Coimbra, em Portugal. José Joaquim teve contato com Thomas Jefferson, então embaixador norte-americano na França, e mostrou a ele os planos da Inconfidência Mineira. Jefferson se interessou bastante pelo assunto e prometeu ajuda através de uma esquadra. A grande questão levantada neste encontro, e que já foi estudada por muitos pesquisadores, é a possível presença de Tiradentes no encontro com Thomas Jefferson.

Mansur e Morais também mostram que Joaquim Silvério dos Reis, o traidor do movimento com a sua "delação premiada", não teve uma vida fácil no Rio de Janeiro. Foi preso durante alguns meses na Ilha das Cobras e chegou a sofrer atentados na cidade, provando que a Inconfidência Mineira de fato tinha muito apoio no Rio. Só depois é que ele receberia as benesses pela sua denúncia do movimento.

Os autores também fazem uma descrição detalhada de como era o Rio de Janeiro naquele final do século XVIII e na parte final do livro a cidade assume o protagonismo da história, pois os inconfidentes foram sendo presos e levados para os seus porões e calabouços escuros e úmidos. Nesse ponto Mansur e Morais fazem um levantamento minucioso do destino e das datas de prisão de cada um deles, corrigindo, por exemplo, um erro muito comum, repetido até hoje, de que Tiradentes teria ficado preso na Cadeia Velha, demolida em 1922 e onde fica o prédio da Assembleia Legislativa (Alerj), que inclusive ostenta uma estátua do alferes na frente do prédio. Tiradentes, na verdade, ficou preso na Ilha das Cobras (sua cela ainda existe no prédio da Marinha) e no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, que ficava no Largo da Carioca. Ele só foi para a Cadeia Velha, junto com os outros inconfidentes, nos três dias de leitura da sentença (de 18 a 21 de abril de 1792), ficando todos acorrentados na Sala do Oratório, enquanto em volta a população respirava ansiosa pelo desfecho daquela história que se arrastava por três anos nas prisões da cidade: "Por todo o centro da cidade do Rio de Janeiro havia um frisson, um burburinho, pessoas amontoadas pelas ruas enfeitadas, nas janelas dos sobrados, espiando pelas rótulas, todos na expectativa de algo grande, de algo que iria marcar a História não só da cidade, como do Brasil".

Sobre os autores:

André Luis Mansur é jornalista e escritor, autor de 11 livros, entre eles "O Velho Oeste Carioca", "Marechal Hermes - a história de um bairro" (Edital), "A rebelião dos sinais" (Edital) e "Fragmentos do Rio Antigo" (Edital), este com Ronaldo Morais. Trabalhou em jornais como "Tribuna da Imprensa", "Jornal do Brasil" e "O Globo", onde publicou mais de cem críticas literárias.

Ronaldo Morais (in memoriam) era médico e pesquisador da História do Rio de Janeiro. Fotografou, desde a década de 70, diversos monumentos históricos do Rio de Janeiro. Publicou, junto com André Luis Mansur, os livros "Fragmentos do Rio Antigo", "Violência no Rio Antigo" e "A invasão francesa do Brasil", todos pela Edital. Ronaldo faleceu em 2015, no Rio de Janeiro.

LANÇAMENTO: 30 DE NOVEMBRO, ÀS 19h

, NA LIVRARIA ARLEQUIM, PAÇO IMPERIAL. (PRAÇA XV DE NOVEMBRO, 48, CENTRO DO RIO)