2.21.2008

OS ´CARTÕES CORPORATIVOS´ DE D. JOÃO


É claro que no início do século XIX ainda não existiam cartões de crédito ou de débito, mas a julgar pelo rombo financeiro causado pela presença da Corte portuguesa no Brasil, podemos dizer que a Mordomia-Mor seria uma antecedente bem adequada da farra dos cartões corporativos.

A Mordomia-Mor era responsável pela organização e administração das repartições criadas após a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808. Seria uma estrutura exemplar em termos de organização se as repartições não fossem usadas para uma série de roubalheiras que contribuíram, inclusive, para a falência do primeiro Banco do Brasil, criado pelo príncipe-regente D. João em 1808, e falido em 1829. O atual só foi criado em 1853, já na época do imperador D. Pedro II.

Duas figuras se destacam como os maiores beneficiários das técnicas de enriquecimento ilícito adotadas em repartições como a Ucharia Real (alimentação e bebida) e a Mantearia Real (tudo relacionado à Família Real). Eram eles Joaquim José de Azevedo, que fôra responsável pelo embarque de Portugal para o Brasil, em 1807, e Bento Maria Targini, administrador do Erário Real, órgão responsável pelas finanças públicas e que tinha como agente operacional o Banco do Brasil.

Os dois roubaram tanto que enriqueceram rapidamente e ganharam poder, sendo promovidos por D. João. Azevedo passaria de barão a visconde do Rio Seco e Targini de barão a visconde de S. Lourenço. Para se ter uma idéia da riqueza de Azevedo, basta olhar o seu palacete, que está sendo restaurado e fica na Praça Tiradentes, no centro do Rio, bem em frente ao 13º Batalhão da PM. Os desmandos destes dois homens geraram até uma quadra muito conhecida da já irreverente população carioca:

“Quem furta pouco é ladrão,
quem furta muito é barão,
quem mais furta e esconde
passa de barão e visconde”

Além disso, o déficit causado pelas altíssimas despesas da Corte foi tão grande que não houve outra saída a não ser pedir um empréstimo de 600 mil libras esterlinas à Inglaterra, dívida que após a independência, em 1822, seria repassada ao Brasil, marcando o início da nossa dívida externa.

O Banco da Brasil ainda sofreria um duro golpe quando o já aclamado rei D. João VI voltou a Portugal, em 1821, levando todas as barras de ouro e diamantes dos seus cofres. Para usar uma expressão atual, esta sim foi uma autêntica herança maldita.



FONTES CONSULTADAS:

* D. João VI no Brasil – Oliveira Lima – Rio de Janeiro – Topbooks - 2007
* 1808 - Laurentino Gomes - Rio de Janeiro - Planeta - 2007