9.28.2007

O VULCÃO DE NOVA IGUAÇU



Ele não tem bondinhos nem abriga princesinhas do mar, mas o vulcão que fica na Serra de Madureira, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, talvez seja o cartão-postal mais inusitado de todo o Rio de Janeiro. Pelo menos é o que atestam seus muitos visitantes desde que a descoberta do único vulcão de cratera do Brasil foi divulgada, em 1979, pelos geólogos André Calixto Vieira e Victor Klein.

Da descoberta em diante estudantes, pesquisadores ou curiosos não pensaram duas vezes antes de subir mais de 400 metros de serra, entre pedras escorregadias e mato cerrado em busca de aventura. Mas vale o esforço. A vista da borda do vulcão, que tem 30 milhões de anos, é exuberante. Digna de ser registrada. Apesar da vegetação e de alguns bois e cavalos pastando, o contorno mantém as rochas vulcânicas ainda com sua estrutura intacta, um precioso campo de observação para pesquisadores.

As erupções do vulcão, ocorridas há 30 milhões de anos, podem ser comparadas com as do vulcão Santa Helena, que em 1979 provocou destruição nos Estados Unidos. Os fragmentos vulcânicos se espalham num diâmetro de 1.500 metros, desde a cratera até a parte externa. Há fragmentos ainda da época dos dinossauros. O material, chamado ígneo intrusivo, não teve força suficiente para romper a crosta terrestre e ficou consolidado no solo. Seus vestígios são os que se encontram mais afastados da cratera e podem ser percebidos no início da caminhada.

Segundo André Calixto, a erosão fez com que a crosta terrestre fosse desaparecendo, o que permitiu a esse material já consolidado chegar à superfície. Quando veio a primeira erupção, todo ele foi para os ares e deu lugar a uma nova série de fragmentos. Há no local farta variedade de material vulcânico. Os mais curiosos são as bombas poligonais, que se encontram no aglomerado vulcânico, na parte mais próxima da cratera. Devido à forma peculiar, as bombas são a prova irrefutável de que houve no local duas erupções vulcânicas.

O vulcão da Serra de Madureira fica a menos de uma hora do centro do Rio e hoje ele faz parte do Parque Municipal de Nova Iguaçu, incluindo uma cachoeira ´véu de noiva´, pista de asa-delta, rapel na Pedra da Contenda (o ponto mais alto, com 443 metros) e o casarão-sede da antiga Fazenda Santa Eugênia, um prédio do século XVIII que hoje é o mais antigo de Nova Iguaçu. E, claro, a vista da Baía de Guanabara no topo, para quem tiver fôlego de chegar até lá.

9.26.2007

ESQUISITICES PROVINCIANAS EM WESTZONE


Político-Populista-paternalista
Posa de modelito fashion

Bundas-secas caminham nas ciclovias
Vestindo a última moda em lingerie

Bichas-viadas querendo ser devoradas
Enlouquecem alcoolizados vira-latas

Animaizinhos silvestres saem das tocas
E ladram nas velhas-empoeiradas-sacadas das janelas

Discos voadores invadem os jardins e extraterrestres Encapuzados não são reconhecidos pelo bicho-homem

Estrangeiros mendigos hospedam-se nas esburacadas calçadas
Exalando a essência da vida saudável

Tartarugas excêntricas e oportunas
Transitam em campanha ao lado de hábeis parasitas

Em devaneios a insensatez de vaidosos
Transforma abaixo-assinado em documento de politicagem

Minhocões de aço cortam os vales petrificados
Lotados de heróicos semideuses que viajam para o além

Um corvo-santo enlouquecido faz liqüidação da Palavra
Dando de brinde um lugar no paraíso celeste

Vermes decompõem vasta extensão territorial das encostas
Emergindo na vista panorâmica um lago de sangue

Lama medicinal transforma-se em fossa-fecal
No lindo mar de poesia

Soberana vaca-leiteira faz promessas de bem estar
Em juras secretas a cabo eleitoral

“Canto este Poema a esta terra-santa
De atalhos retalhados e endêmicas pedras
Canto a desordem niilista do progresso
Canto a fantástica e infinita memória surreal
De minha febricitante terra natal”


PAULO D´ATHAYDE

9.25.2007

EXALTAÇÃO AOS SEBOS


Para mim, não há lugar onde o livro se sinta mais à vontade do que no sebo. Em bienais e livrarias de ponta, por exemplo, com todo o ambiente asséptico e o burburinho em volta, os livros me lembram aquelas pessoas que precisam usar a “roupa de domingo”, desconfortáveis e constrangidas. Já nos sebos não, nos sebos eles estão à vontade, de chinelo de dedo, bermuda frouxa e camiseta surrada. Mais felizes do que pinto no lixo.

Aqui no Rio de Janeiro, principalmente no centro da cidade, o número de sebos cresceu muito nos últimos anos. O principal atrativo para a maior procura, sem dúvida, é a grana. Com o preço dos livros novos sempre teimando em não cair, as pechinchas nos sebos se tornam irresistíveis, principalmente para os estudantes universitários. É possível, com um pouco de sorte, comprar livros de capa dura e em bom estado por dois reais (!) – o preço de um churros.

O bom sebo não pode ter muita luz, tem que ser um pouco na penumbra. Também não pode ser muito limpo, bastando um espanadorzinho de vez em quando, para não sufocar os alérgicos. Também não devem ser muito espaçosos, as pilhas de livros precisam formar corredores e esquinas estreitos, fazendo com que o leitor se sinta literalmente (ou literariamente) cercado por livros.

Um detalhe imprescindível: o dono do sebo jamais pode se aproximar do visitante e perguntar se ele “deseja alguma coisa, senhor?”, como fazem os vendedores de lojas. O visitante precisa ficar à vontade, folhear o que quiser e mesmo que saia sem comprar nada não deve ser incomodado. Afinal, o sebo também cumpre o seu papel de biblioteca comunitária.

As seções não devem ser muito organizadas, pois um dos principais atrativos do sebo é o elemento-surpresa, é encontrar aquilo que jamais se esperaria encontrar naquela prateleira. Eu mesmo achei a melhor biografia do Machado de Assis, da Lúcia Miguel Pereira, numa prateleira que nada tinha a ver com literatura brasileira. Com capa em bom estado e por seis reais.

Revistas antigas são também um atrativo à parte, assim como coleções que já saíram de catálogo. O grande risco quando começamos a folheá-las é perder a noção da hora, pois quando o fator memória ocupa o seu espaço no sebo acaba qualquer relação com a balbúrdia lá fora. Sim, o sebo também é uma máquina do tempo.

Para terminar, um conselho: prefiram sempre os sebos que tenham gatos de estimação. Eles são os melhores amigos dos “ratos de sebo” e geralmente estão em cima do livro que queremos.

- Publicado também no blog Paralelos (www.oglobo.com.br/blogs/paralelos)

9.06.2007

OS MISTÉRIOS DE CANDIANI


Musa de Machado de Assis, a atriz e cantora lírica Augusta Candiani causou furor na vida da Corte do Rio de Janeiro imperial. Mas um mistério permanece sobre o final da vida de Candiani, que chegou ao Rio em 1843, aos 23 anos, como prima dona da Companhia Italiana de Ópera.

Nascida em Milão, em 1820, Carlotta Augusta Candiani estreou na capital do Império brasileiro em 17 de janeiro de 1844, no principal palco da Corte, o Teatro São Pedro de Alcântara (localizado no então Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, exatamente onde fica o João Caetano). No programa, a primeira montagem no Brasil da ópera “Norma”, de Vicenzo Bellini.

A partir do sucesso estrondoso desta primeira apresentação, Candiani, que veio acompanhada do marido italiano, vai se identificar com a capital e o povo carioca de tal forma que nunca vai sair em definitivo da cidade, incentivando os músicos brasileiros a iniciarem o movimento da Ópera Nacional e rompendo barreiras entre o erudito e o popular ao cantar modinhas, gênero tipicamente brasileiro e mal visto pela elite da época.

Candiani não se tornou musa apenas de Machado de Assis, que a reverenciou em algumas passagens de sua obra, mas também de escritores como Joaquim Manoel de Macedo Martins Penna e do próprio D. Pedro II. O imperador, aliás, e sua esposa D. Teresa Cristina seriam padrinhos de sua filha, em 1844. Dois anos depois, ela se separou do marido e passou a viver com o compositor de modinhas José de Almeida Cabral. Nem é preciso dizer que foi um escândalo para a época. Com o divórcio, Candiani perdeu todos os bens e a guarda da filha.

Ela passa então a viajar por todo o Brasil pela Companhia Dramática Cabral, sempre misturando o erudito com o popular. Chega a morar no Rio Grande do Sul, onde atua no desenvolvimento do teatro e da ópera na província, e volta ao seu amado Rio de Janeiro em 1877. Continua a atuar até 1880, quando se retira para o bairro de Santa Cruz, na atual zona oeste carioca e na época zona rural da Corte. Morre aos 69 anos, em 28 de fevereiro de 1890, logo após o fim do Império.

Não se sabe até hoje em que casa Candiani teria morado em Santa Cruz. O que se sabe é que foi na atual rua Senador Camará. Alguns elegantes sobrados da época ainda existem no bairro e o boato é que D. Pedro II teria doado uma casa para ela em Santa Cruz. Após a morte do marido ela teria vivido com, ou próxima de, Bartholomeu Guimarães, um ator cômico português que também morreu em Santa Cruz um ano depois de Candiani. O grande desafio para os historiadores da vida da cantora é saber o que ela fez em Santa Cruz durante os dez últimos anos de vida e onde teria morado.

Mais informações no excelente blog http://http://agrinalda.blogspot.com/, da pesquisadora Andréa Carvalho, que está concluindo um livro sobre Candiani.