4.21.2008

MARKETING DE QUITANDA


Contra o gerundismo do tipo “vou estar encaminhando sua ligação, senhor”, a abordagem de rua (“empréstimo, senhora?”) e em lojas (“Deseja alguma coisa, senhor? Meu nome é William.”), a única solução é o Marketing de Quitanda.

O Marketing de Quitanda nada mais é do que a abordagem da informalidade e da gentileza. As frases decoradas, a entonação metálica, os gestos artificialmente formais, ou seja, todo esse cerimonial que os aspirantes a vendedor são obrigados a aprender como se fosse o procedimento ideal para se oferecer algo a alguém cai por terra quando temos contato com o Marketing de Quitanda.

Na verdade, não existe um método próprio para este tipo de abordagem. Depende da quitanda. Geralmente, quando entro numa, ninguém me perturba. Só depois de um tempo, alguém pode chegar e perguntar, de um jeito bem natural, sem qualquer tipo de formalidade e com um sorriso sempre amigável: “Pois não, meu amigo?”. É digno de observar que nas quitandas mais tradicionais o dono use um lápis preso atrás da orelha.

Se você disser que está só olhando, o sujeito não vai demonstrar nenhuma reação previamente programada, apenas vai dizer algo do tipo: “Pode ficar à vontade, qualquer coisa estou ali no balcão”. E vai embora, como se tivesse lhe deixado numa sala de visitas.

Faço essa comparação porque a abordagem realmente é o segredo da venda, mas o que o pessoal que ensina técnicas artificiais de vendas parece não saber, ou ter se esquecido, é que a não-abordagem também faz parte do processo. Deixar alguém à vontade numa loja, mesmo que ela não vá comprar nada, é muito mais eficiente do que, mal a pessoa entrou no recinto, às vezes só querendo “dar uma olhadinha”, já cercá-la e exercer um tipo de pressão nada agradável, como se estivesse dizendo: “Estamos de olho em você, acho bom comprar alguma coisa logo!”

Por isso, acho que os profissionais de marketing deveriam fazer uma boa pesquisa de campo nas quitandas mais tradicionais. É claro que alguns padrões precisam ser respeitados, mas dar um pouco de individualidade e libertar a capacidade de improviso dos vendedores já é um bom passo em direção ao Marketing de Quitanda.

4.10.2008

TRÊS GERAÇÕES UNIDAS PELA MÚSICA


CD E DVD "UM SONGBOOK BRASILEIRO" - FAMÍLIA ASSAD - ROB DIGITAL

Gravado e filmado ao vivo no Palácio de Belas Artes, em Bruxelas, o CD e DVD “Um songbook brasileiro”, da Família Assad, emociona por vários motivos. Primeiro, pelo fato de reunir no mesmo palco três gerações de músicos, principalmente quando entram em cena os patriarcas Jorge (bandolim) e Angelina Assad, a dona Ica, cujo jeito de cantar a levou a ser chamada de ´Billie Holiday brasileira´ por um jornal americano. Segundo, porque o repertório traz canções de uma beleza incontestável, como “Rosa”, de Pixinguinha, “Doce de côco”, de Jacob do Bandolim e “Casa forte”, de Edu Lobo. E terceiro, porque é sempre emocionante ver a música brasileira tão bem representada em palcos estrangeiros.

A família é centrada nos irmãos Sérgio, Odair (o duo Assad, um dos principais duos de violão clássico do mundo) e na cantora e violonista Badi Assad, outra virtuose que sabe explorar todo o imenso repertório de sons de sua cordas vocais. A terceira geração é representada por Clarice e Rodrigo (filhos de Sérgio) e Carolina e Camille (filhas de Odair). Clarice, que estudou música nos Estados Unidos, onde mora e acaba de lançar um CD, demonstra uma impressionante habilidade vocal e instrumental (piano) principalmente nas duas músicas de sua autoria, “Ondas” e “Ad Lib” (esta acompanhada do Duo). Rodrigo, que estudou cinema, traz um estilo mais despojado em “O silêncio das estrelas”, de Lenine, em que canta e toca violão. Já Camile e Carolina fazem parte do coro afinadíssimo, sendo que Carolina despeja sua bela voz na interpretação de “Todo o sentimento”, de Chico Buarque, acompanhada do pai. Ela também faz parte do grupo vocal carioca “Be Bossa”.

Os arranjos criativos, tanto vocais quanto instrumentais, facilitam a integração e harmonia dos integrantes da família, que funcionam como um grupo coeso e para lá de afinado. A montagem do show dá oportunidade para que todos possam exercer suas individualidades. Se o show começa com o virtuosismo do Duo (“Baião Malandro”, de Egberto Gismonti) e de Badi, que canta e toca com seu violão deitado (“The being between”, dela e de Jeff Young), aos poucos os demais integrantes vão chegando, como se tivessem sido convidados para um farto almoço na cidade paulista de São João da Boa Vista, base da família, sendo que neste caso o cardápio é o melhor da música brasileira - constantemente assolada por modismos bizarros.

O medley final - com o bandolim de Jorge Assad já tendo assumido, discretamente, o papel de fio condutor do espetáculo (afinal, ele é o chefe da família) - representa a apoteose de um espetáculo de altíssimo nível, começando com “Lamento”, de Pixinguinha e Vinicius de Moraes, e terminando com “O que vier eu traço”, uma irreverente composição de Alvaiade e Zé Maria e que traz como destaque a voz firme e melodiosa de dona Ica, cujo primeiro CD foi lançado recentemente.

É uma pena que seja tão difícil reunir os Assad, já que todos moram longe uns dos outros. A julgar pelo sucesso da excursão feita em 2004 pela Europa e Estados Unidos, e dos shows no Ibirapuera e no Canecão, em agosto de 2007, dá para imaginar o sucesso que seria uma temporada pelos palcos brasileiros.