2.14.2007
TUDO É VAIDADE
A frase do Eclesiastes que dá título ao primeiro livro do jornalista Rogério Nery resume o espírito dos jovens personagens do seu livro, todos moradores da Zona Sul carioca no final dos anos 80. Uma época em que não havia mais ditadura para combater, o muro de Berlim estava sendo derrubado e no cotidiano daquelas pessoas cultas, bonitas e com algum dinheiro no bolso só havia uma preocupação: curtir a vida.
Morando sozinho no Leme em um apartamento de três quartos, bancado pelos pais que moram em Brasília, Mateus é o mais fiel representante desta geração aparentemente perdida. Estudante de jornalismo, é freqüentador assíduo do underground carioca, onde encontrava artistas de vanguarda, talentos promissores e inúmeros fracassos. “Eram porres homéricos. Chegava a dormir com um balde do lado da cama – a melhor maneira de colocar tudo para fora sem sujar o colchão”.
Mateus encontrava o par perfeito em Diana Prado, uma garota que “poderia ter a credencial de uma verdadeira junkie das páginas de um romance de William Burroughs”. Juntos, eles tomam porres juntos com os outros amigos em apartamentos da Zona Sul ao som de R.E.M. e Joy Division e fazem sexo, muito sexo, que aliás é um dos temas constantes do livro e descrito de forma bastante explícita.
Rogério Nery não esconde a influência da literatura americana, da qual é admirador e conhecedor. Hemingway, Fitzgerald, Henry Miller, o já citado Burroughs e todos os seus parceiros beatniks, assim como Charles Bukowski (este fundamental nos trechos de sexo e bebedeira), cada um contribui com o seu quinhão para que o estilo do autor se defina. O texto é dinâmico, com muitos diálogos, frases curtas e objetivas e descrições bem detalhadas. O belo projeto gráfico da editora Bruxedo, bonito e funcional, contribui para que o livro seja lido de um fôlego.
Quando está razoavelmente sóbrio, Mateus tenta escrever alguns contos embalado pelas sinfonias de Gustav Mahler. “Fazia um esforço sobrenatural, mas não tinha a regularidade e persistência necessárias pra poder deixar as palavras em mais de três páginas por dia”. Logo o telefone toca e a proximidade da noite e suas imprevisíveis tentações tiram totalmente a concentração do pretenso escritor. “Vamos entrar que hoje o negócio vai pegar fogo aí dentro”, convida o amigo Márcio diante de uma boate.
Embalado pelo ritmo frenético da história, Rogério Nery faz um paralelo interessante da época. Era o ano em que o brasileiro iria, enfim, votar para presidente da República e os debates na TV paravam o país, “que estava prestes a cair numa armadilha”. As pessoas usavam máquinas de escrever e ouviam LPs, num retrato tão fiel que é impressionante constatar como os últimos 15 anos tornaram tantas coisas, inclusive os costumes e as idéias, obsoletas.
O livro é repleto de pequenos dramas pessoais, o contraponto perfeito para as noites de delírio que os personagens vivem. O pai de Diana Prado é ex-alcoólatra, a ex-namorada de Mateus sente um ciúme perturbador de qualquer uma que se aproxime dele e de vez em quando rola uma briga na turma – quase sempre por ciúmes inflamados pelo álcool. São jovens meio sem rumo, sem destino, que apesar de terem projetos, às vezes empregos, vivem num mundo que em muitos momentos lembra a “Doce Vida” de Fellini e seus burgueses decadentes.
A conclusão a que se chega é que os personagens deste livro querem “fazer tudo ao mesmo tempo, num único fôlego, como numa jam session de jazz, soprando, improvisando”. Como os ídolos do rock dos anos 60 que morreram cedo, eles querem chegar aos limites. O problema é que depois sobram apenas o vazio, o tédio e o desencanto.
"Tudo é vaidade”
Rogerio Nery
Editora Bruxedo
R$ 25,00
132 páginas
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9 comentários:
Embora haja uma certa coincidência de temas entre os beatniks e Bukowski - bebidas, drogas, sexo desbragado, o Velho Safado é superior em termos de expressar a melhor a humanidade. O aspecto "gauche" do movimento beatnik parece um pouco "mauriçola", às vezes. Coisa de classe média cheia de dramas como "Oh, Deus, como vou arranjar dinheiro para pagar a Net no final do mês", sabe?
O sr. Buk, mesmo sendo aquela coisa escatológica, ri de sua desgraça e da alheia, dando um tom muito mais próximo à realidade.
Pelo o que li da resenha, talvez o livro do Rogério Nery se prenda mais à estética dos discípulos de Keroauc...
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By the way, respondendo ao e-mail: pode divulgar tudo o que escrevo. Outra coisa: o resenhista do "Vera Lúcia" em "O Globo", Flávio Carneiro, foi meu professor na Uerj.
Beijos
Pelo visto, os anos 80 não morrerão jamais. E cada vez mais numa visão idílica, paradisíaca.
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E nosso almoço na última quarta do ano?
Abraços
Bem interessante sua comparação entre o velho safado e os beatniks. Posso te assegurar que o Nery gosta muito dos dois.
Gosto muito do Kerouac e do Bukovski, mas preciso ler mais coisas deles para poder falar com mais conteúdo.
Beijinhos. (não conhecia o Flávio Carneiro não)
É verdade, Marcello, os anos 80 ainda estarão presentes em tudo. Pelo menos para mim, foram bem legais.
Vai rolar e será no Belmonte da rua do Lavradio. Na segunda eu confirmo com a galera.
Abraços.
Os anos 80 foram, são e serão marcantes!
O Brasil emergindo da ditadura, nos ensaios de uma democracia (que ao meu ver) perdeu o ponto por naum estarmos prontos para recebê-la (se é que um dia estaremos!?!?....rs).
Nessa ebolição muito se produziu, muito se perdeu....
Isso me faz querer Cazuzear....e pedir uma ideologia pra viver!!!!Com frases fortes que fariam qualquer membro da nobreza corar, tal qual um Barão Vermelho!!
Grandes bandas de rock nacional!!!
O patriotismo exacerbado na voz de Fafá.....
O laranjito....(mascote da copa de 82....)
Melhor parar antes de chorar...
A bem da verdade é que para um espírito despreparado, liberdade se torna libertinagem, seja em qualquer tempo ou lugar....
Ahhh...já ia me esquecendo do principal...estou meio longe mas se confirmar o almoço e tiver massa??? (rsrs)
Os anos 80 foram, são e serão marcantes!
O Brasil emergindo da ditadura, nos ensaios de uma democracia (que ao meu ver) perdeu o ponto por naum estarmos prontos para recebê-la (se é que um dia estaremos!?!?....rs).
Nessa ebolição muito se produziu, muito se perdeu....
Isso me faz querer Cazuzear....e pedir uma ideologia pra viver!!!!Com frases fortes que fariam qualquer membro da nobreza corar, tal qual um Barão Vermelho!!
Grandes bandas de rock nacional!!!
O patriotismo exacerbado na voz de Fafá.....
O laranjito....(mascote da copa de 82....)
Melhor parar antes de chorar...
A bem da verdade é que para um espírito despreparado, liberdade se torna libertinagem, seja em qualquer tempo ou lugar....
Ahhh...já ia me esquecendo do principal...estou meio longe mas se confirmar o almoço e tiver massa??? (rsrs)
Camarada Mansur!
Fiquei feliz ao ler sua resenha sobre o "Vaidade".
E foi interessante ler os comentários. Sua amiga está correta ao alertar que não se deve comparar o trabalho do Kerouac com o do Bukowski. Os estilos são completamente diferentes. Só acho que ela foi cruel ao dizer que a literatura beat tem uma estética "meio mauriçola". Seria como afirmar que Scott Fitzgerald fez literatura "Caras". Mas é importante esse conflito de opiniões. Sem o debate seria tudo tão aborrecido, não é?
Não sei se existe um clima de nostalgia dos anos 80 no "Vaidade". Mas acho que tudo se mistura com o sentimento sobre as amizades que deixei no fim daquela década e a separação que a vida determinou para todo o grupo.
Bom, pra resumir, costumo lembrar o que dizia Henry Miller: "Só me interesso pelo que acontece nas ruas. O resto é literatura".
Grande abraço!
Nery.
pow amei seu livro "tudo é vaidade" eu quero ler mais um livro seu mas naum axo nenhgum mas naum vou desisir naum vou conseguir axar um livro que fale realmente a verdade dos adolescentes como vc fala no livro "tudo é vaidae",mas já acabei de ler ele mas naum é meu o livro naum eu peguei em uma biblioteca.......
até o proximo comentário
beijinhos
de uma leitora
que ama seus livros
Oi, Mariá, tudo bem? O Rogerio Nery, autor do livro ´Tudo é vaidade´, gostaria de lhe enviar um livro. Você pode escrever para ele? O e-mail é neryrogerio@ig.com.br.
Beijos.
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