9.25.2007
EXALTAÇÃO AOS SEBOS
Para mim, não há lugar onde o livro se sinta mais à vontade do que no sebo. Em bienais e livrarias de ponta, por exemplo, com todo o ambiente asséptico e o burburinho em volta, os livros me lembram aquelas pessoas que precisam usar a “roupa de domingo”, desconfortáveis e constrangidas. Já nos sebos não, nos sebos eles estão à vontade, de chinelo de dedo, bermuda frouxa e camiseta surrada. Mais felizes do que pinto no lixo.
Aqui no Rio de Janeiro, principalmente no centro da cidade, o número de sebos cresceu muito nos últimos anos. O principal atrativo para a maior procura, sem dúvida, é a grana. Com o preço dos livros novos sempre teimando em não cair, as pechinchas nos sebos se tornam irresistíveis, principalmente para os estudantes universitários. É possível, com um pouco de sorte, comprar livros de capa dura e em bom estado por dois reais (!) – o preço de um churros.
O bom sebo não pode ter muita luz, tem que ser um pouco na penumbra. Também não pode ser muito limpo, bastando um espanadorzinho de vez em quando, para não sufocar os alérgicos. Também não devem ser muito espaçosos, as pilhas de livros precisam formar corredores e esquinas estreitos, fazendo com que o leitor se sinta literalmente (ou literariamente) cercado por livros.
Um detalhe imprescindível: o dono do sebo jamais pode se aproximar do visitante e perguntar se ele “deseja alguma coisa, senhor?”, como fazem os vendedores de lojas. O visitante precisa ficar à vontade, folhear o que quiser e mesmo que saia sem comprar nada não deve ser incomodado. Afinal, o sebo também cumpre o seu papel de biblioteca comunitária.
As seções não devem ser muito organizadas, pois um dos principais atrativos do sebo é o elemento-surpresa, é encontrar aquilo que jamais se esperaria encontrar naquela prateleira. Eu mesmo achei a melhor biografia do Machado de Assis, da Lúcia Miguel Pereira, numa prateleira que nada tinha a ver com literatura brasileira. Com capa em bom estado e por seis reais.
Revistas antigas são também um atrativo à parte, assim como coleções que já saíram de catálogo. O grande risco quando começamos a folheá-las é perder a noção da hora, pois quando o fator memória ocupa o seu espaço no sebo acaba qualquer relação com a balbúrdia lá fora. Sim, o sebo também é uma máquina do tempo.
Para terminar, um conselho: prefiram sempre os sebos que tenham gatos de estimação. Eles são os melhores amigos dos “ratos de sebo” e geralmente estão em cima do livro que queremos.
- Publicado também no blog Paralelos (www.oglobo.com.br/blogs/paralelos)
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3 comentários:
Adorei a comparação com a "roupa de domingo" muito interessante!...rs É verdade em muitas livrarias, às vezes, dá até medo de mexer nos livros de tão organizados que estão..rsrs Mas o tempo, ou a falta dele, nos afasta do sebo e nos aproxima da comodidade e rapidez de encontrar o que procuramos em uma livraria, por mais fria e indiferente que seja. Espero que essa procura pelos sebos não seja restrita aos estudantes, mas que seja um reflexo da sociedade em busca de uma melhor qualidade de vida... parar, pensar, conviver, conversar, refletir, respeitar... quem sabe assim conseguimos resgatar os valores dentro desse túnel do tempo. ;o)
Beijos
Lembrei-me do sebo Beta de Aquarius, no Catete, que tem uns gatos lindos. Gatos, eu digo animal...Hahaha
Sério, tem uma gata lá linda, chamada Ísis. Vê se pode????
Beijos,
Aline Canejo
Esse eu não conheço. Fica onde? Ali no Catete ia muito no ´João do Rio´. Cheguei, inclusive, a comprar alguns livros raros e com bom preço para minha pesquisa sobre a zona oeste. Pena que fechou.
Beijos.
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