9.06.2007

OS MISTÉRIOS DE CANDIANI


Musa de Machado de Assis, a atriz e cantora lírica Augusta Candiani causou furor na vida da Corte do Rio de Janeiro imperial. Mas um mistério permanece sobre o final da vida de Candiani, que chegou ao Rio em 1843, aos 23 anos, como prima dona da Companhia Italiana de Ópera.

Nascida em Milão, em 1820, Carlotta Augusta Candiani estreou na capital do Império brasileiro em 17 de janeiro de 1844, no principal palco da Corte, o Teatro São Pedro de Alcântara (localizado no então Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, exatamente onde fica o João Caetano). No programa, a primeira montagem no Brasil da ópera “Norma”, de Vicenzo Bellini.

A partir do sucesso estrondoso desta primeira apresentação, Candiani, que veio acompanhada do marido italiano, vai se identificar com a capital e o povo carioca de tal forma que nunca vai sair em definitivo da cidade, incentivando os músicos brasileiros a iniciarem o movimento da Ópera Nacional e rompendo barreiras entre o erudito e o popular ao cantar modinhas, gênero tipicamente brasileiro e mal visto pela elite da época.

Candiani não se tornou musa apenas de Machado de Assis, que a reverenciou em algumas passagens de sua obra, mas também de escritores como Joaquim Manoel de Macedo Martins Penna e do próprio D. Pedro II. O imperador, aliás, e sua esposa D. Teresa Cristina seriam padrinhos de sua filha, em 1844. Dois anos depois, ela se separou do marido e passou a viver com o compositor de modinhas José de Almeida Cabral. Nem é preciso dizer que foi um escândalo para a época. Com o divórcio, Candiani perdeu todos os bens e a guarda da filha.

Ela passa então a viajar por todo o Brasil pela Companhia Dramática Cabral, sempre misturando o erudito com o popular. Chega a morar no Rio Grande do Sul, onde atua no desenvolvimento do teatro e da ópera na província, e volta ao seu amado Rio de Janeiro em 1877. Continua a atuar até 1880, quando se retira para o bairro de Santa Cruz, na atual zona oeste carioca e na época zona rural da Corte. Morre aos 69 anos, em 28 de fevereiro de 1890, logo após o fim do Império.

Não se sabe até hoje em que casa Candiani teria morado em Santa Cruz. O que se sabe é que foi na atual rua Senador Camará. Alguns elegantes sobrados da época ainda existem no bairro e o boato é que D. Pedro II teria doado uma casa para ela em Santa Cruz. Após a morte do marido ela teria vivido com, ou próxima de, Bartholomeu Guimarães, um ator cômico português que também morreu em Santa Cruz um ano depois de Candiani. O grande desafio para os historiadores da vida da cantora é saber o que ela fez em Santa Cruz durante os dez últimos anos de vida e onde teria morado.

Mais informações no excelente blog http://http://agrinalda.blogspot.com/, da pesquisadora Andréa Carvalho, que está concluindo um livro sobre Candiani.

20 comentários:

Anônimo disse...

oi andre
Bacana seu texto.. obrigada... Ando trabalhando muito nisso.Coloquei seu blog como indicação naquele texto da scene4 sobre internet e literatura(edição de agosto 2007) - vc viu?
Um grande beijo pra vc! Andrea Carvalho

Anônimo disse...

Oi, Andréa, tudo bem? Obrigado, mas o texto ficou bacana porque a fonte era boa (rs). Como está a pesquisa? Tem feito contato com alguma editora?

Ainda não vi a indicação não, vou ver agora.

Um beijão.

Anônimo disse...

Bacana mesmo. Nem conhecia a referida criatura. É interessante pensar no que era Santa Cruz no século XIX. Se em alguns escritos do Velho Machado a Tijuca já é lugar de afastamento e repouso do burburinho da cidade, Santa Cruz devia ser outra galáxia. Abraços.

Anônimo disse...

É verdade. A Tijuca já era bem distante na época. Mas Santa Cruz, apesar de bem mais distante, tem uma História bem diferente dos outros bairros da zona oeste, pois abrigou a Fazenda Imperial, onde D. João VI, D. Pedro I e II passavam longas temporadas e com isso a região teve um desenvolvimento atípico para o então ´sertão carioca´.

Abraços.

Unknown disse...

Seus textos são maravilhosos, históricos ou não, aprendo muito com eles..rs.. que mulher forte e decidida essa Augusta não é à toa que se tornou musa de tantos famosos.
Gostei do comentário sobre a Fazenda Imperial, não sabia que fica no bairo de Santa Cruz, que interessante!
Beijos

Anônimo disse...

Obrigado, Edeilda. A fazenda teve uma importância muito grande para o desenvolvimento do bairro, ainda na época em que era dos jesuítas e se estendia até Vassouras. Hoje a sede dela abriga o batalhão de engenharia do exército Villagrán Cabrita e está bem conservada.

E a Candiani, realmente devia ser uma mulher muito corajosa mesmo, ainda mais se levar em conta a sociedade machista e conservadora da época.

Beijos.

Anônimo disse...

eu já acho que Santa Cruz não era outra galáxia não... era bem mais badalada do que a Tijuca, era um burburinho só... dizem que lá era lugar idílico também dos encontros de D Pedro II com sua amante, a Condessa de Barral que era instrutora das princesas... dizem que eles iam ao observatório observar as estrelas e passear de barco na Baia de Sepetiba... mas isso pode ser fofoca do passado.... rs rs A familia real passou a frequentar mais Petropolis depois da morte do único filho homem de Pedro II, que ainda nenem ficou doente na viagem a Sta Cruz e acabou por falecer na na Fazenda Imperial. A Condessa odiava Petropolis e achava Santa Cruz muito melhor! Veja o livro Benedicto Freitas sobre Sta Cruz. BJO ANDREA CARVALHO
http://teucantoouvir.blogspot.com

Anônimo disse...

andre
tenho só trabalhado e não tem sobrado tempo para outras coisas e agora ainda estou numa produção de um grupo de musica e dando aulas e terminando uma peça q tem um diretor interessado e etc... aliás há 15 dias estou só na peça, que trata de um tema historico do século XVIII, essa semana volto pro XIX... bjooo
andrea - vc esta no orkut? Vou te procurar lá... se não me procure em scene4 ...

Anônimo disse...

Pois é, Andrea, Santa Cruz é que era o ´point´ da época, principalmente para encontros amorosos. Pena que todo o desenvolvimento que a Fazenda trouxe, inclusive cultural, não teve continuidade. Hoje até que tem muita gente lá se esforçando pra devolver ao bairro a importância história que ele teve. Mas aí vem a barreira que os órgãos públicos impõem à região quando o assunto é cultura e tudo fica difícil.

Beijos.

Anônimo disse...

Oi. O texto é bacana mesmo - vocês conhecem a dissertação de mestrado do André Heller? Diretor especializado em ópera, ele defendeu, em 2001, uma dissertação chamada "Vozes Brasileiras" (EM/UFRJ) . Metade daquele trabalho fala de Candiani.

Anônimo disse...

Não conheço não, mas vou perguntar à Andréa. Valeu pela dica. Abraços.

Anônimo disse...

querido
esse meu blog "Teu canto ouvir" não existe mais... coloquei tudo no A GRINALDA

http://agrinalda.blogspot.com

Se vc puder, corrija isso no seu texto. Um bjo! obrigada! Andrea

Anônimo disse...

Já corrigi. Muito bom o blog.

Beijos.

Unknown disse...

Olá Mansur, tive oportunidade de ter em mãos os quatro livros do Benedicto Freitas, três deles falam da Fazenda Real e Imperail de Santa Cruz, o quarto faz menção ao Matadouro de Santa Cruz ou Palacete Princesa Isabel, possui hoje um corredor cultural.Precisei consultá-los para um trabalho que fiz recentemente. São excelentes e podemos viajar em quatro séculos de história sobre Santa Cruz. Seu Texto está excelente como os demais que pude ver aqui e aguardo ansioso o livro da Andréa sobre a Candiani.

Anônimo disse...

Obrigado. O Benedicto realmente era o grande historiador de Santa Cruz. Espero que sua obra seja mais divulgada em breve. O que puder fazer por isso, farei. É bom saber que tem mais gente interessada no tema.

Abraços.

Anônimo disse...

André,

Só conheci o blog hoje e gostei muito. Parabéns! Abusei e usei você como referência para a Candiani num post que publiquei hoje. Depois você faz uma visita e passamos a nos encontrar lá como aqui. Abraço,

Ricardo Prado
http://oglobo.globo.com/blogs/clubedomaestro/

Anônimo disse...

Obrigado, Ricardo. Vou dar uma olhada no seu blog. Grande abraço.

Rogério disse...

Oi. Li o texto sobre Candianni. Fiz uma busca mas não consegui entrar no site da Andrea Carvalho ou saber se o livro foi publicado. Tenho algumas informações (bem poucas) sobre Candianni e gostaria de trocar com a Andrea. É possivel? Outra coisa, sendo possível não publique o e-mail. Spams são terriveis e não acesso internet com frequencia. Rogério.

Luiza Sawaya disse...

Caro André, Li todo o seu texto e todos os comentários a seguir. Estou trabalhando com as modinhas do José de Almeida Cabral o que me leva diretamente à Candiani. Seu texto veio desvendar o mistério de uma modinha do Cabral que ele datou de Macaé. Moro em Lisboa há 20 anos, especializei-me na pesquisas e interpretação das modinhas. Só agora descobri o livro da Andrea. Parabéns. Luiza Sawaya

André Luis Mansur disse...

Muito obrigado, Luiza. Fiquei bem interessado na sua pesquisa, se puder me passe mais detalhes. Meu irmão mora em Portugal há 21 anos e Cascais, é professor da Universidade Nova de Lisboa. Beijos e obrigado!