2.03.2009
OS PINGOS DOS IS
Falaram tanto do trema, mas a reforma que pretende unificar a língua portuguesa custou muito tempo e dinheiro e não eliminou o mais inútil dos sinais – tanto daqui como d´além mar.
Há quem defenda e quem condene a reforma, sendo que o segundo grupo me parece ser bem maior, a julgar pelos comentários que tenho ouvido. Mas acontece que ela está aí, aprovada e aos poucos sendo adotada em veículos de comunicação. O prazo para a completa adaptação é bem longo, até 2012. Depois disso não tem jeito: quem não escrever do novo jeito vai...bem, não vai acontecer nada, pois até hoje são raros os que dominam completamente todas aquelas inúmeras regrinhas de ortografia e acentuação, incluindo aí as terríveis exceções da regra.
Um exemplo é o hífen. Se suas normas de aplicação já eram mais misteriosas do que letra de médico, imagine agora. Vai ser preciso, enfim, estudar as regras antigas apenas para negá-las depois, quase um exercício de masoquismo gramatical. Mas diante de tantas mudanças, foi estranho perceber a permanência daquele que é, a meu ver, o símbolo mais inútil da língua portuguesa: o pingo do i e do j. Afinal, para que ele serve? Ele me lembra aquele sujeito que quando falta ao trabalho ninguém nota e por isso faz questão de chegar cedo, falar com todo mundo e mostrar presença, só para não perceberem sua inutilidade.
Assim é com o pingo. Por algum motivo, ele continua presente com a nova reforma ortográfica. Será que é possível pensarmos em alguma espécie de lobby político-linguístico para a sua permanência, enquanto o pobre do trema foi excluído, com todas as letras, da língua portuguesa? Bem ou mal, ele tinha lá a sua função, nem sempre bem entendida, mas útil. Imagine se daqui a algum tempo as pessoas começarem a falar cinkenta em vez de cinqüenta?
A única vantagem do pingo parece ter sido a de dar origem a uma expressão bastante usada até há algum tempo, “vamos colocar os pingos nos is”, quando alguém queria explicar algo de forma convincente. A julgar pelas dúvidas que a reforma está provocando, principalmente em relação aos já citados hífens, esta expressão continua me parecendo ser bem atual.
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12 comentários:
Quero ver todos os países que têm o "i" em suas línguas toparem essa mudança!rs
Por mim eu usava o alfebeto grego, os símbolos são tão mais desenhadinhos.
Imagino o "i" da Casinha Feliz (aprendi com essa cartilha) sem a cabeça...
De repente aceitam a mudança, inclusive o Brasil. O I maiúsculo já não tem acento, de repente é uma questão de maturidade da letra.
Muito pequena precisa do ponto, igual a uma bicicleta de rodinha.
Sem dúvida, bem mais bonito esse "i" grego.
Beijos.
Deveriam trocar o pingo pela pinga. Nosso presidente iria adorar a ideia (sem acento, de acordo com nossa nova ortografia - rs)! - já percebeu que o sinal de exclamção também tem pingo?
Boa (rs).
Pra quem sabe ler um pingo no I é letra... ixi... sem o pingo no i o que faremos com esse sábio ditado popular???
Marcello disse...
Vou ter que readaptar meus olhos. É que não sou muito ligado nas regras, tento aprender o correto visualmente mesmo.
Se o ditongo é crescente, decrescente, se está com viés de baixa, de alta... tô por fora! Tento ler o que é certo e decorar.
Acho que, nessas mudanças, tinham que ter importado também aqueles sinais de cabeça para baixo que iniciam frases exclamativas e interrogativas em espanhol. Facilitam muito a leitura. Às vezes, você lê um troço imenso e só no fim percebe que é uma pergunta.
Para terminar, uma frase. Não de Nelson Rodrigues, mas de Sergio Porto: "O que seria do doce de côco se não fosse o acento circunflexo?"
Abraços.
Ou então, como está no texto, ´vamos colocar os pingos nos is´. Mas estas expressões, com o tempo, serão esquecidas, por isso não as vejo como um grande empecilho à abolição dos pingos. Aliás, quase ninguém já as utiliza mesmo.
Marcelo, sempre achei que o sinal de interrogação poderia vir no início da frase, de cabeça para baixo, pois, como você diz, muitas vezes estamos lendo uma frase imensa e só no final descobrimos que era um pergunta. Nesse ponto, tiro o chapéu para a língua espanhola.
Doce de côco com acento, com certeza, deve ser muito mais gostoso.
E ditongo com ´viés de baixa´ é uma expressão que em breve será usada pelos analistas de mercado, pode acredita.
Abraços.
Eu como sempre do contra...rs... gosto do pingo do i, acho muito esquisito o i sem pingo..rsrs.. amei a comparação com a bicicleta de rodinha não tinha pensado nisso, bem interessante.
Essa reforma ortográfica é um desperdício precioso de tempo, é bem o que você escreveu mesmo, um "masoquismo gramatical", ótima definição.
Sabemos que muitos não fazem uso do trema, do hífen e etc. mas, se continuar assim, a Língua Portuguesa ficará como a linguagem utilizada por muitos na internet, quase toda silábica...rs....
Gostei do texto! Beijos
Oi, Edeida, tudo bem? Está bem, vamos manter os pingos dos is por uma razão estética. Mas aí o trema terá direito de reclamar também, não acha?
Eu fico pensando em quanto as editoras de livros didáticos não vão ganhar com essa reform.? Já pensou nisso?
Beijos e obrigado.
O "e" na caligrafia de muitos nem sempre sai aquela "formosura", daí o pingo ser um diferencial que ajuda o "e" e o "i" a não se tornarem um "u" e se misturarem na escrita de muitos, gerando ambiguidades ou maiores incompreensões no texto cursivo. Logo, os pingos são de pouco utilidade, mas ainda têm alguma talvez.
Mas a professora não aceitar o trabalho porque no lugar do pingo do i a criança colocou uma bolinha(°)... Não é muita Neura?
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