3.16.2009

A ARTE DE LER JORNAL NA BANCA

Nunca passei por uma banca com jornais expostos que não tivesse alguém olhando. Geralmente há mais de um e por isso é preciso tomar cuidado para não ficar na frente de ninguém, principalmente se você for alto ou gordo. Caso haja muita gente, aguarde a vez para chegar perto, pois a leitura de jornal em banca não costuma levar muito tempo. O ideal é ficar numa posição em diagonal, pois é possível ler todos os jornais sem atrapalhar ninguém. É bom tomar cuidado também com a carteira, pois de vez em quando, infelizmente, aparece um ou outro que não está ali apenas com a intenção de se informar.

A leitura em banca de jornal, na verdade, é bastante limitada, pois só permite que se veja a primeira página, a chamada “página das manchetes”. Como antigamente muita gente abusava e folheava os jornais, os donos das bancas acabaram grampeando os jornais.

O leitor de bancas de jornal, embora não possa se aprofundar nas notícias (a não ser que, claro, compre o jornal) adquire, com este ofício, uma espécie de “apanhado geral” dos principais assuntos do momento. Isto é muito útil, por exemplo, em relações sociais e profissionais.

Uma figura inconveniente, no entanto, nestes ambientes, é o comentarista, que, como o próprio nome diz, se especializa em comentar as notícias com alguém. Geralmente é uma crítica em tom raivoso e que acaba atrapalhando a leitura dos outros, que para ser eficiente precisa ser dinâmica e silenciosa. Embora seja difícil identificar o comentarista, a recomendação, quando ele começar a resmungar, é procurar se manter concentrado na leitura, de preferência firmando um pouco os olhos e aproximando o rosto do jornal. Geralmente ele desiste. Há também outra figura inconveniente, que é a do egoísta, o sujeito que fica na frente dos jornais e não deixa ninguém ler, principalmente se ele for alto e gordo. Fumantes também provocam grande incômodo.

Os dias de maior movimento em torno das bancas de jornal são as segundas-feiras, por causa dos resultados do futebol de domingo, e também os dias seguintes a algum fato marcante. Embora muita gente acredite que este hábito seja prejudicial aos jornaleiros, o resultado é exatamente o contrário. Vá lá que a grande maioria apenas lê o jornal na banca e vai embora, mas muita gente acaba comprando o jornal, interessado no que viu nas manchetes. O que não se deve jamais fazer é pedir ao dono da banca para “dar uma olhadinha” num jornal porque viu algo interessante lá fora. Aí já é abuso.

Hoje, quando muitos jornais estão disponíveis na internet, acontece também de a pessoa olhar na banca algo que a interesse e ler a matéria inteira na versão online, o que é bastante prejudicial ao dono da banca, que precisa encontrar formas de se adaptar às novas tecnologias.

17 comentários:

Anônimo disse...

Mansurca,

Acrescento que os novos formatos dos jornais (berliner, como JB e O Dia) vieram a dificultar este saudável hábito da "filada" matinal. Isso porque há menos manchetes e, sobretudo, porque as letras ficaram bem menores, quase impossibilitando a leitura à distância!!!

PS - Ouvi dizer que O Globo, em breve, vai sair do formato standard também, e vai ficar menorzinho...

Será o fim da "filada" nas bancas???

abs, ZEROCAL.

Anônimo disse...

Amigo, levei um susto quando vi o novo formato do ´Dia´, achei que fosse outro jornal. Eu realmente não gosto, prefiro o tradicional, mas se for uma tendência, fazer o quê? Será o fim dessa categoria. O ´Dia´, pelo menos, só tem três ou quatro manchetes agora, não dá para se informar direito.

Abração!

Anônimo disse...

Caso leia a capa e se interesse,o remédio é sentar ao lado de um leitor no ônibus e usar todo o serrotismo culto.rs
abraços.

Anônimo disse...

Grande garoto! Sempre levando para o lado desta bela arte. O Chico vai ficar orgulhoso de você.

Abraços.

Anônimo disse...

estou entrando no caso compulsivo,será? rs já tem gente por aí dizendo até que me isolei numa montanha. rs

Fábio Vanzo disse...

Nunca perdi um Notícias Populares. Aquelas manchetes sensacionais. Agora pergunta se já comprei algum?

Anônimo disse...

Oi, Fábio, tudo bem? Lembro bem desse jornal, tinha realmente manchetes bombásticas. O ´Meia Hora´, aqui do Rio, também tem umas manchetes bem chamativas. Vejo muito leitor de banca concentrado nele.

Também nunca comprei um ´Notícias populares´.

Abraços.

Anônimo disse...

Sensacional, Mansur! Adorei o texto! Não tenho dúvidas de que se fizessem uma pesquisa envolvendo profissões e leitores de bancas, a grande fatia seria dos motoristas de táxi. Êita turma que sabe das coisas, né?! Abração!

Anônimo disse...

Valeu, Márcio, obrigado. Você tem razão. Os taxistas estão sempre bem informados, até mesmo para puxar papo com os passageiros.

Hoje mesmo li vários jornais na banca para ver as manchetes da vitória do Vasco sobre o Flamengo.

Abração!

Anônimo disse...

Aqui os jornais são todos no formato tablóide, à excepção do Expresso, que é um semanário (uma tradição tipicamente portuguesa). Todos os dias eu vou a uma tabacaria aqui ao pé de casa e dou uma tranquila vista d'olhos nas capas (especialmente as dos três - !!! - diários desportivos) e às vezes até uma folheada num jornal ou numa revista - é algo que toda a gente faz. É claro que de vez em quando um cliente mal humorado manda bocas tipo "Isto não é uma sala de leitura", mas ninguém se importa.

De qualquer forma, quase todos os cafés hoje em dia compram um ou dois jornais (um deles sempre desportivo) para os frequentadores lerem à vontade. Às vezes fica-se na expectativa para ver se alguém já acabou de ler e pôs o jornal de volta.

Ah sim, uma coisa que aqui entrou em força no mercado, como aliás já aconteceu em outros países europeus, são os jornais diários gratuitos, distribuídos nos comboios e outros sítios. Às vezes quando vou a Lisboa dou uma lida em alguns, aquilo lê-se de uma ponta à outra em poucos minutos.

Mas é claro que com as versões online, os blogues, etc., há muito mais informação disponível e grátis. Os jornais e as revistas em papel estão perto do fim. I don't give a damn.

Anônimo disse...

Muito boas as suas considerações sobre o texto. É interessante saber que do outro lado do oceano os hábitos são os mesmos. Essa expectativa de ver se alguém já leu o jornal é muito comum nos trens daqui. Quando chega na Central, muita gente vai passando pelos vagões com o olhar atento em busca dos exemplares deixados nos bancos.

Abraços.

Anônimo disse...

Maravilha , Mansur! È isto mesmo que ocorre. Só um cronista de qualidade como v. para retratar, em palavras, um cotidiano tão enraizado na nossa cultura.
Eu, pessoalmente, não tenho mais paciência e nem "estômago" para tanta negatividade impressa. Prefiro atualizar-me ouvindo às 6h, a Rádio CBN ( da qual fui locutor inaugurante); enquanto exercito-me, na cama (com ENACbyMA - Exercícios Na Cama by Matusa complementados com uma caminhada ou sequência de Tai Chi Chuan), como preparação física e mental para mais um dia de labuta neste nosso mundo louco mas adorado. Abraços,
Matusa.

Anônimo disse...

Obrigado, Matusa. Mas olha, bem que desconfiei que sua voz era de locutor. Que descoberta interessante saber que você passou pela CBN.

Também não tenho muito estômago para acompanhar notíciário todo dia, só quando há alguma coisa que me interesse muito. Acabamos ficando intoxicados com muita negatividade. Os seus exercícios parecem muito interesantes. O meu principal, neste sentido, é andar de bicicleta pelas serras do Rio da Prata, o que vou fazer daqui a pouco.

Abraços.

Rubem Penz disse...

Caro Mansur,

Bem apanhado!

Aqui no Sul também ocorre tal fenômeno. Principalmente na segunda-feira, quando as notícias esportivas ganham manchete.

Outras figuras, parecidas mas diferentes, são os "leitores" de capas de revistas para adultos. Quando vejo um, costumo ficar olhando para ele que, ao sentir-se observado, disfarça e some...

Abraço, Rubem

André Luis Mansur disse...

Oi, Rubem, tudo bem? Aqui no centro do Rio tem uma banca repleta dessas revistas, muitas delas já até antigas. Esse tipo de leitor de bancas lembra também o frequentador de cinemas que exibem filmes pornográficos (quase não existem mais), o mesmo movimento furtivo de quem está com medo de ser observado e o constrangimento quando é ´descoberto´.

Abração e obrigado.

Volner Amaral disse...

iiiiihhhh! Eu já fiz muito isso. Nunca fiquei de fora de nenhum papo. É claro que hoje me informo de uma forma mais eficiente. Mas, você tem razão. Eu sugeriria aos jornaleiros que mantivessem um computador à disposição desses e cobrassem a leitura a varejo. Como se fazia muito, e hoje bem menos, com o cigarro. Poderiam imprimir a notícia que o cara de pau quizesse. He , he! No varejo.
Um abraço, meu caro "publicista de vernáculo reto".

André Luis Mansur disse...

Muito boa esta sugestão, caro Volner. Quem sabe as bancas do futuro não façam isso? Ou então, dariam um espaço para o cara ler a notícia no monitor e pagar pelo tempo, até para não gastar papel.

Mas você tem jeito de que discute à beça em banca (rs).

Abraços.