4.25.2023

ANÁLISE DE CRÔNICAS HISTÓRICAS DA ZONA OESTE CARIOCA

Análise do professor Vinicius Miranda Cardoso sobre o meu livro "Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca":


Passeios no Velho Oeste


O livro - essa incrível combinação de texto, imagem e página - é uma das maiores invenções da humanidade. Mesmo em meio a todo tipo de concorrência ou crise (como essa que atravessamos), se reinventa. Não quer e não vai desaparecer. Foi o que pensei quando recebi ontem do @andremansur, bem antes do que eu esperava, uma dessas maravilhas, recém-impressa: seu novo volume, que eu havia encomendado, 'Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca'. 


É uma edição independente - o que merece registro e todo o apoio -, uma alternativa a que muitos estão recorrendo, em meio às dificuldades do negócio livreiro. Comporta, em quase cem páginas, toda a qualidade e a leitura agradável de sempre, com bons artigos acompanhados por dezenas de imagens, tudo por um valor bastante acessível. Faz uma mescla interessante - já testada pelo autor em trabalhos anteriores - de memórias históricas e memórias pessoais para utilidade pública. Passeia por instituições, monumentos e logradouros dos antigos 'sertões cariocas', além de fazer rápidas imersões em assuntos propriamente históricos, muitos dos quais já haviam sido tratados com mais vagar na clássica trilogia que fez sobre 'O Velho Oeste Carioca'. 


Os artigos têm aquele gabarito de um colunista experiente, que sabe como confeccionar uma narrativa leve, informativa e divertida na dose certa. Começa e termina com crônicas ambientadas em Campo Grande, apresentando aspectos do bairro a partir de suas vivências. No miolo, vale destacar os capítulos 'Padre Miguel, um educador', 'Orgulho de ser banguense', 'Sepetiba, o balneário carioca', 'Sítio Roberto Burle Marx', 'Rio da Prata quase foi a Petrópolis carioca', 'Escravidão' e a 'A força da laranja' - alguns deles recheados com flashbacks vividos pelo autor. 


O que achei mais empolgante foi o penúltimo ensaio, 'o "seu William" de Guaratiba', que toca num tema crucial da memória histórica da região: a coexistência de versões anedóticas e versões mais apuradas para a explicação dos nomes de bairros. É algo que ainda merece maior reflexão. Eu, particularmente, fico na dúvida se as anedotas sobre a origem dos nomes dos bairros mais ajudam ou atrapalham a conscientização dos moradores sobre a história do seu lugar. André Mansur nós dá as diferentes versões para Ilha de Guaratiba, Realengo, Paciência e Inhoaíba, indicando aquelas pelas quais mais se inclina.


Ressalto, por fim, que o livro de Mansur divulga várias instituições educativas e culturais da nossa Zona Oeste profunda, tais quais o NOPH de Santa Cruz, o Museu de Bangu, a Casa da Memória Paciente, o Eco Museu de Sepetiba, a Feuc e diversas outras.


Recomendo a leitura de suas novas Crônicas Históricas da Zona Oeste - um trabalho que merece ser apreciado, especialmente por aqueles que ainda não leram a trilogia Velho Oeste carioca; e, de modo geral, por professores (sobretudo de Geografia e História), educadores, agentes culturais, guias de turismo, curiosos; enfim, por todos que moram, já moraram, trabalham ou dirigem pelos bairros da região querendo saber mais sobre alguns lugares, escondidos ou à vista, por vezes enigmáticos, que estão à beira das praias e estradas, nos jardins das praças, nos lados das ruas, nas encostas das serras e no meio dos matos da região, sob a luz do presente ou sob a sombra refrescante do passado. Recomendo também a visita aos lugares que Mansur traz para o texto, com suas fotos - todas do livro são suas, num verdadeiro trabalho de campo, movido a andanças que sempre fez e faz por esses bairros. De todo modo, além de bem pesquisada, a narrativa em si já é um passeio, um tour completo e revigorante. Isso com o privilégio de sermos guiados, como que numa boa conversa no Bar do Ernesto, por quem conhece em pessoa o que escreve e tem sido um incansável pioneiro de nosso Velho Oeste, ainda por explorar.

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