1.31.2025

Machado de Assis - Um escritor carioca

 

Em seu 21º livro, o jornalista André Luis Mansur mergulha na rotina daquele que é considerado por muitos o maior escritor brasileiro. Nascido no Morro do Livramento, no Centro do Rio de Janeiro, Machado de Assis viveu na cidade até a sua morte, em 1908. Neste livro, o autor procura mostrar detalhes da rotina do escritor pelos muitos lugares por onde Machado de Assis andou pelo Rio de Janeiro, utilizando como fio condutor os vários endereços de Machado pela cidade.

Machado de Assis sempre foi muito discreto sobre a sua rotina, principalmente em relação às duas primeiras décadas de sua vida. Mansur busca em crônicas, cartas, em depoimentos de amigos, além de uma vasta pesquisa em periódicos, detalhes sobre a relação do escritor com a cidade, com os amigos, a esposa Carolina, os muitos jornais por onde trabalhou e também com os vizinhos das casas da Condessa de São Mamede, no Cosme Velho, onde ele e Carolina moraram por mais de 20 anos.

O livro, repleto de imagens, não termina com a morte do escritor, em 1908. Mansur mostra como Machado de Assis foi se tornando cada vez maior à medida que o tempo passava, em várias homenagens, como a estátua na sede da Academia Brasileira de Letras, as comemorações do centenário de nascimento e dos 50 anos de sua morte, e a tentativa de se criar um museu na casa em que ele e Carolina moraram no Cosme Velho, demolida antes da metade do século.

O autor dá destaque também para mulheres que trouxeram informações importantes sobre a vida de Machado de Assis, como Francisca Basto Cordeiro e Laura Costa Leitão de Carvalho, sobrinha-neta e herdeira do escritor. E dedica o livro à madrasta de Machado, Maria Inês, que jamais, assim como seu pai, Francisco de Assis, foi citada em qualquer dos textos do escritor.

Sobre o autor

André Luís Mansur (Rio de Janeiro, 1969) é jornalista, memorialista e escritor, autor de 21 livros, tendo atuado em veículos importantes da imprensa carioca, como os jornais O GloboJornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. Apenas no jornal O Globo publicou mais de cem críticas literárias para o caderno “Prosa & Verso”. No bairro de Campo Grande, onde mora, coordenou de 2005 a 2012 o Cineclube Moacyr Bastos, exibindo mais de trezentos filmes gratuitamente.

Contato do autor: 21 999197723

 

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3.13.2024

CAROLINA ASSAD E CLÁUDIO MOTTA



Alguém já disse que “todo poema quer ser música”, mas nós acreditamos que o inverso também é uma boa definição... por que não? 

BREVE e PEQUENAS HORAS são os títulos de dois álbuns lançados por Cláudio Motta e Carolina Assad em maio de 2023. As canções dos álbuns são composições de Cláudio sobre os poemas de Christiana Nóvoa, poeta carioca de grande talento. Os álbuns resultaram no espetáculo: BREVE & PEQUENAS HORAS, UM SHOW. No palco: música e poesia entrelaçados por arranjos de Cláudio, no telão as imagens resultantes dessa união criadas por Cláudio. O resultado é pouco mais de uma hora de lirismo poético, harmonias impressionantes, o canto afinadíssimo de Carolina Assad somando-se para que a plateia tenha uma experiência inesquecível e de muita sensibilidade artística.

Os links dos álbuns:

https://youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kcb2JRHf096VDQXrM4SUg99DgkGr2LP3Q&si=mMJ9Dw1gVozSOlQi

https://youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_nT9A4HCBcANd_-KXEsYcLT-UsG7v-yVKA&si=WpjGt1se8DdSv99u

12.02.2023

PERFIS DO RIO E ARENAS DO RIO (Um livro por R$ 10 e três por R$ 20)




Coleções Perfis do Rio e Arenas do Rio. Cada livro R$ 15, mas se levar mais de um cada livro sai por R$ 10. É só chamar no ZAP: 21 999197723


- LYGIA PAPE (por Denise Mattar)

- OS EMERGENTES DA BARRA (Márcia Cezimbra e Elisabeth Orsini)

- RUBEM FONSECA (Deonísio da Silva)

- GLAUCE ROCHA (Aldomar Conrado)

- HÉLIO PELLEGRINO (Paulo Roberto Pires)

- FERREIRA GULLAR (George Moura)

- FAVELA (Paulo Casé)

- JANETE CLAIR (Artur Xexéo)

- OTTO LARA RESENDE (Benício Medeiros)

- JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE (Ivana Bentes)

- CARLOS MACHADO (Luiz Noronha)

- OSWALDO CRUZ (Moacyr Scliar)

- CARLOS HEITOR CONY (Cícero Sandroni)

- FERNANDO SABINO (Arnaldo Bloch)

- EROS VOLUSIA (Roberto Pereira)

- GERAÇÃO PAISSANDU (Rogério Durst)

- ODYLO COSTA, filho (Cecília Costa)

- CERTAS CARIOCAS (Hélio R. S. Silva)

- MARQUES REBELO (Luciano Trigo)

- GRANDE OTELO (Roberto Moura)

- SÉRGIO BERNARDES (Lauro Cavalcanti)

- BESTEIROL (Flávio Marinho)

- FUTEBOL (Hélio Sussekind)

- CARMEN PORTINHO (Ana Luiza Nobre)

- CERTAS CARIOCAS (Hélio S.S. Silva) 

4.25.2023

ANÁLISE DE CRÔNICAS HISTÓRICAS DA ZONA OESTE CARIOCA

Análise do professor Vinicius Miranda Cardoso sobre o meu livro "Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca":


Passeios no Velho Oeste


O livro - essa incrível combinação de texto, imagem e página - é uma das maiores invenções da humanidade. Mesmo em meio a todo tipo de concorrência ou crise (como essa que atravessamos), se reinventa. Não quer e não vai desaparecer. Foi o que pensei quando recebi ontem do @andremansur, bem antes do que eu esperava, uma dessas maravilhas, recém-impressa: seu novo volume, que eu havia encomendado, 'Crônicas Históricas da Zona Oeste Carioca'. 


É uma edição independente - o que merece registro e todo o apoio -, uma alternativa a que muitos estão recorrendo, em meio às dificuldades do negócio livreiro. Comporta, em quase cem páginas, toda a qualidade e a leitura agradável de sempre, com bons artigos acompanhados por dezenas de imagens, tudo por um valor bastante acessível. Faz uma mescla interessante - já testada pelo autor em trabalhos anteriores - de memórias históricas e memórias pessoais para utilidade pública. Passeia por instituições, monumentos e logradouros dos antigos 'sertões cariocas', além de fazer rápidas imersões em assuntos propriamente históricos, muitos dos quais já haviam sido tratados com mais vagar na clássica trilogia que fez sobre 'O Velho Oeste Carioca'. 


Os artigos têm aquele gabarito de um colunista experiente, que sabe como confeccionar uma narrativa leve, informativa e divertida na dose certa. Começa e termina com crônicas ambientadas em Campo Grande, apresentando aspectos do bairro a partir de suas vivências. No miolo, vale destacar os capítulos 'Padre Miguel, um educador', 'Orgulho de ser banguense', 'Sepetiba, o balneário carioca', 'Sítio Roberto Burle Marx', 'Rio da Prata quase foi a Petrópolis carioca', 'Escravidão' e a 'A força da laranja' - alguns deles recheados com flashbacks vividos pelo autor. 


O que achei mais empolgante foi o penúltimo ensaio, 'o "seu William" de Guaratiba', que toca num tema crucial da memória histórica da região: a coexistência de versões anedóticas e versões mais apuradas para a explicação dos nomes de bairros. É algo que ainda merece maior reflexão. Eu, particularmente, fico na dúvida se as anedotas sobre a origem dos nomes dos bairros mais ajudam ou atrapalham a conscientização dos moradores sobre a história do seu lugar. André Mansur nós dá as diferentes versões para Ilha de Guaratiba, Realengo, Paciência e Inhoaíba, indicando aquelas pelas quais mais se inclina.


Ressalto, por fim, que o livro de Mansur divulga várias instituições educativas e culturais da nossa Zona Oeste profunda, tais quais o NOPH de Santa Cruz, o Museu de Bangu, a Casa da Memória Paciente, o Eco Museu de Sepetiba, a Feuc e diversas outras.


Recomendo a leitura de suas novas Crônicas Históricas da Zona Oeste - um trabalho que merece ser apreciado, especialmente por aqueles que ainda não leram a trilogia Velho Oeste carioca; e, de modo geral, por professores (sobretudo de Geografia e História), educadores, agentes culturais, guias de turismo, curiosos; enfim, por todos que moram, já moraram, trabalham ou dirigem pelos bairros da região querendo saber mais sobre alguns lugares, escondidos ou à vista, por vezes enigmáticos, que estão à beira das praias e estradas, nos jardins das praças, nos lados das ruas, nas encostas das serras e no meio dos matos da região, sob a luz do presente ou sob a sombra refrescante do passado. Recomendo também a visita aos lugares que Mansur traz para o texto, com suas fotos - todas do livro são suas, num verdadeiro trabalho de campo, movido a andanças que sempre fez e faz por esses bairros. De todo modo, além de bem pesquisada, a narrativa em si já é um passeio, um tour completo e revigorante. Isso com o privilégio de sermos guiados, como que numa boa conversa no Bar do Ernesto, por quem conhece em pessoa o que escreve e tem sido um incansável pioneiro de nosso Velho Oeste, ainda por explorar.

4.16.2023

Avaliação de O FILHO DE PESQUEIRA


Muito feliz com a avaliação do professor Caio Laranjeira sobre o meu último livro O FILHO DE PESQUEIRA:

Uma leitura de O filho de Pesqueira, de André Luis Mansur:
do Estoicismo às bolas de gude

Caio Laranjeira

Foi há quase dois mil anos que Epiteto, um dos expoentes do Estoicismo, defendeu a ideia de que os pensamentos não são as coisas. Para o filósofo-escravo, não são as coisas em si que amedrontam os seres humanos, mas sim o que se pensa sobre elas. Nesse sentido, por exemplo, a morte não seria algo terrível, visto que é natural e inevitável. O que nela se teme então seriam as projeções mentais que se fazem sobre ela. Agrada-me lembrar essa lição estoica para deixá-la ao fundo do que, frontalmente, pretendo realizar aqui: uma leitura breve da obra O filho de Pesqueira, de André Luis Mansur.

Para início de conversa, o jornalista, escritor e memorialista Mansur tem pouco ou quase nada de estoico, decerto. Detentor de uma escrita fluida e regida pelo signo do prosaico, o autor se inscreve na clave da dicção de um Lima Barreto ou de um Rubem Braga, menos na temática do que na técnica, sem que deles seja necessariamente um imitador ou coisa que o valha. O estilo simples e leve é um convite a se mergulhar numa obra que mantém o mesmo tom estranhamente perturbador de seu livro de contos Copa de 50.

Esclareço-me. Digo estranhamente perturbador porque é bem sabido que há uma tradição literária que reúne nomes como Edgar Allan Poe, Baudelaire e mesmo algum Álvares de Azevedo (sobretudo o de Macário) cujas páginas flertam vorazmente com o repulsivo, medonho, tétrico. Em André Mansur a perturbação orbita em torno de outro núcleo, a saber: uma perspectiva otimista frente a uma realidade hostil, que é a nossa, e uma condição social injusta, que não deveria ser nossa.

Cumpre, entretanto, avisar que seu tom otimista em nada tem a ver com a leveza ingênua dos que, mentorados pela quântica energia coach, querem fazer crer que um discurso sempre positivo e esperançoso reprogramaria o cérebro para semear, plantar e colher o bem, para assim compartilhá-lo no café da manhã em família, como se comercial de margarina fosse. Conforme falei, a perturbação do escritor é estranha, porque há ali uma visão crítica da realidade circundante, sem que se faça do real um banquete trágico no qual o final apocalíptico seja o destino incontornável para a aventura humana.

A trama é tecida pelos passos do protagonista Gabriel, que, com quinze anos de idade, chega de Pesqueira (PE) à até então capital do país, sem saber o que o Rio lhe reservaria, em suas dores e delícias. Logo no primeiro ato do romance, acontece o que me fez começar este texto com a menção a Epiteto. Após descer na rodoviária Novo Rio, o adolescente ouve uma agitação nas ruas da cidade que o fazem achar que se tratava do famoso Carnaval carioca. Em meio à multidão, dão-lhe um saco de bolas de gude, o que supostamente confirma o tom de diversão e brincadeira que deveria reinar naquela época do ano. Todavia, pensamentos não são as coisas, e o que ali se vivenciava era um confronto entre civis e militares no Brasil ditatorial do período em que a história é ambientada. As bolas de gude tinham o propósito de fazer tombarem os cavalos da guarda armada. A brincadeira imaginada ficara na coxia, porque era a violência que subia àquele palco de guerra.

Não será difícil o leitor adivinhar o quanto vai ser penosa a adaptação do jovem à cidade grande. Tudo parecia diferente de sua terra natal. O tráfego e seus acidentes, as pessoas e sua agitação urbana, a sirene das ambulâncias e seus doentes, o Rio e seu caos diário. Esse, porém, era o pensamento inicial de Gabriel ao topar com as desventuras cariocas. Mas, retornando ao filósofo, aquilo não eram as coisas, e não vai demorar que o agora jovem adulto descubra que há pontos fortes de contato entre a capital da Guanabara e a isolada ocupação pernambucana. No morro de Santo Amaro, após nos deixar ouvir o drama de vida da personagem Eugênia, o narrador mergulha na reflexão do protagonista:

Gabriel se sentia triste depois de ouvir a história de Eugênia, pois ele sabia que aquela era a mesma história de todos naquela favela e por todo o Brasil. Lembrou-se do que ouvia em Pesqueira sobre as agruras do sertanejo e comparou toda a vivência que estava tendo com os livros que lia.

Pois é, os pensamentos não são as coisas, e Mansur sabe muito bem disso. Mas aqui a linha estoica acaba e a agulha da imaginação já não pode mais remendar o tecido de O filho de Pesqueira com a filosofia de Epiteto. Isso porque, enquanto o pensador romano defendia a total abnegação dos desejos (e, por extensão, das paixões mundanas), nosso escritor constrói uma obra que é de verdadeiro amor. Amor pela leitura e pela literatura, mundos nos quais se abrigaria a potencialidade de mudança do mundo exterior a partir da revolução do próprio mundo interior. Amor pelo Rio e para o Rio, com seus bairros e favelas sempre dilapidados, mas que conservam uma energia cultural igualmente efervescente e apaixonada. Um amor pelas pessoas e suas lutas, com bolas de gude deslocadas de seu tradicional espaço lúdico para servirem de artefato bélico no coração do Brasil. Um amor, por assim dizer, estranhamente perturbador.

A propósito, ainda a respeito dessas bolas de gude, cabe um último comentário. Não pensemos que elas definitivamente deixarão de ser diversão para congelarem-se imutáveis como armas. Assim como o mundo dá voltas, as bolas rolam e os pensamentos não são as coisas. Tudo muda, se transforma, revoluciona, até mesmo elas, as bolas de gude. Mas essa passagem é uma conversa que só terei com quem tiver o prazer de chegar ao final do livro.

2.22.2023

O FILHO DE PESQUEIRA, DE ANDRÉ LUIS MANSUR


 Chegando da pequena cidade de Pesqueira, em Pernambuco, o adolescente Gabriel chega ao Rio de Janeiro no início da década de 70, com uma pequena maleta de madeira e muitos sonhos. Desce na Rodoviária Novo Rio e, enquanto aguarda seus tios, ouve um burburinho do lado de fora. Acha que é uma festa, bem maior do que as de sua pequena cidade, e se mete no meio da multidão, tentando entender o que o povo cantava. Ganha até um saco de bolas de gude.

O que acontece, a partir daí, é o crescimento de um jovem cheio de sonhos, confrontado com um mundo completamente diferente da vida que ele levava, mas motivado pelo desejo de aprender, principalmente quando Gabriel é levado a conhecer a Biblioteca Nacional, um impacto para o jovem acostumado às modestas instalações da Biblioteca de Pesqueira.

O mundo dos livros o desperta para a compreensão das injustiças sociais históricas do Brasil, principalmente quando ele compara a realidade dos sertões e das favelas, muito influenciado por seu tio-avô Ferdinando, um homem de hábitos singulares e que guarda, como pequeno tesouro, a farda de um dos soldados de Antônio Conselheiro que enfrentaram as tropas republicanas. Gabriel ganha do tio-avô um disco, com o samba-enredo "Os Sertões", de 1976, da Escola de Samba "Em Cima da Hora":

"Agora vinha a lembrança do tio Firmino, que o fez acreditar que a frase 'o sertanejo é antes de tudo um forte' era dele e não de Euclides da Cunha. Gabriel se levantou, andou pela casa, sentiu sede, bebeu água, sentiu mais sede, olhou pela janela e viu a cidade urbana onde ele morava, bem distante das suas raízes, raízes que muitas vezes eram a única alimentação do sertanejo. A música continuava, falando de 'um homem revoltado com a sorte', que espalhava a rebeldia e se revoltava contra a lei que a sociedade oferecia, Gabriel se via nesse homem, se sentia em um grupo de jagunços lutando contra a opressão e a injustiça, adormeceu no chão, sonhando com um Brasil justo, sem miséria e covardia".


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André Luís Mansur (Rio de Janeiro, 1969) é jornalista e escritor, autor de 18 livros, nascido no Rio de Janeiro, tendo atuado em veículos importantes da imprensa carioca, como os jornais O Globo, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. Apenas no jornal O Globo publicou mais de cem críticas literárias para o caderno “Prosa & Verso”. No bairro de Campo Grande, onde mora, coordenou de 2005 a 2012 o Cineclube Moacyr Bastos, exibindo mais de trezentos filmes gratuitamente.

Seu primeiro livro foi lançado em 2004, o Manual do serrote, de humor. Quatro anos depois lançou seu livro de maior sucesso, O velho oeste carioca, que conta a história da zona oeste do Rio de Janeiro, entre Deodoro e Sepetiba, e que gerou mais dois volumes, lançados em 2012 e 2016.

10.13.2022

LIVROS DE MINHA AUTORIA



SEPETIBA - O BALNEÁRIO CARIOCA (R$ 30) - Livro que narra fatos históricos do bairro de Sepetiba. 

O VELHO OESTE CARIOCA - A História da Zona Oeste do Rio de Janeiro, de Deodoro a Sepetiba. Volumes 1 e 2 (R$ 25 cada) e Volume 3 (R$ 30).

MARECHAL HERMES - A HISTÓRIA DE UM BAIRRO - A História deste importantes bairro do subúrbio carioca. Volume 1 (R$ 20) e Volume 2 (R$ 30)


CRÔNICAS HISTÓRICAS DA ZONA OESTE CARIOCA - O livro tem mais de 50 fotos espalhadas em 23 capítulos sobre a História da região entre Deodoro e Sepetiba. (R$ 25)


FRAGMENTOS DO RIO ANTIGO, VOLUMES 1 E 2 - Livro meu e de Ronaldo Morais no qual abordamos vários temas ligados à História do Rio de Janeiro, com dezenas de fotos tiradas por Ronaldo nos anos 70, 80 e 90. (R$ 30 o volume 1 e R$ 25 o volume 2). Obs: No momento estou sem o volume 2.


TIRADENTES CARIOCA - As relações de Tiradentes com o Rio de Janeiro. (R$ 30)


VIOLÊNCIA NO RIO ANTIGO - Uma panorama histórico da violência no Rio de Janeiro, desde a fundação da cidade até o século XX. (R$ 30)


A INVASÃO FRANCESA DO BRASIL - A invasão do corsário francês Jean François Du Clerc ao Rio de Janeiro, por Guaratiba, em 1710. (R$ 25)


SANTA CRUZ - NOS CAMINHOS DA INDEPENDÊNCIA - O livro de André Luis Mansur e Guaraci Rosa fala da Independência do Brasil, que neste ano completa 200 anos, tendo como foco o bairro de Santa Cruz, que na época ainda não era bairro, mas abrigava a sede da Fazenda de Santa Cruz, uma das mais importantes do Brasil, chamada de a "joia da Coroa Portuguesa". (R$ 25)


COPA DE 50 - Seis contos sobre o nosso cotidiano, sendo que o principal é uma história de amor que se passa em plena Copa do Mundo de 1950, no Brasil. (R$ 20)


O PEÃO POETA - Crônicas que publiquei no meu blog Emendas e Sonetos. (R$ 20)


A REBELIÃO DOS SINAIS - 12 contos e uma peça de teatro sobre a revolta de sinais e acentos por estarei excluídos da internet. (R$ 20)


O POETA - Romance que se passa no interior de SP e que aborda temas como violência contra a mulher, racismo e uso da cultura como política pública. (R$ 25)

O FILHO DE PESQUEIRA (R$ 20)

Livro de ficção. Gabriel chega ao Rio de Janeiro no início dos anos 70, vindo do interior de Pernambuco, e vai, aos poucos, amadurecendo e tomando consciência do seu papel na sociedade.


MANUAL DO SERROTE - Livro de humor sobre o Serrote, aquela pessoa que sempre dá um jeito de alguém pagar as contas dele. (R$ 20)

 

A PRAÇA - Romance que se passa, em sua maior parte, na Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, e tem como pano de fundo a prostituição naquela área no ano de 2003. (R$ 25)

MACHADO DE ASSIS - Um escritor carioca - Livro sobre a vida de um de nossos maiores escritores. (R$ 30)

FRAGMENTS OF AN ANCIENT TIME - Com tradução de Marta Rodrigues, este livro reúne fatos históricos sobre a História do Rio de Janeiro em inglês. (R$ 20)

Clube dos Aliados - 100 anos de História - Um livro sobre os cem anos do clube de Campo Grande, fundado em 1916. (este livro nao está à venda)

QUAL É A RESPOSTA? 500 perguntas sobre Campo Grande, Rio de Janeiro, Brasil e Mundo. Versão em preto e branco (R$ 30) e colorida (R$ 50)

9.22.2022

SANTA CRUZ NOS CAMINHOS DA INDEPENDÊNCIA


 Amigas e amigos, chegou da gráfica meu novo livro, "Santa Cruz - nos Caminhos da Independência", escrito em parceria com o professor Guaraci Rosa. A capa é um desenho de Patrícia Irma von Abel, professora e artista plástica do bairro de Paciência.

Em breve marcaremos os lançamentos. 

Segue o release:

SANTA CRUZ - NOS CAMINHOS DA INDEPENDÊNCIA

ANDRÉ LUIS MANSUR E GUARACI ROSA

        "Santa Cruz - Nos caminhos da Independência", livro de André Luis Mansur e Guaraci Rosa, fala da Independência do Brasil, que neste ano completa 200 anos, tendo como foco o bairro de Santa Cruz, que na época ainda não era bairro, mas abrigava a sede da Fazenda de Santa Cruz, uma das mais importantes do Brasil e chamada de a "Joia da Coroa Portuguesa".

        A sede da fazenda, que no período colonial foi propriedade dos jesuítas e chegou a atingir a cidade de Vassouras, passou a ser, após a chegada da Corte portuguesa do Rio de Janeiro, em 1808, o Palácio de Veraneio da Família Real portuguesa. Foi nela que o então príncipe-regente D. Pedro, acompanhado de seu séquito, dormiu na noite de 14 de agosto de 1822, algumas horas após sair da Quinta da Boa Vista, em direção a São Paulo, onde iria apaziguar uma crise política e acabaria por proclamar a Independência do Brasil no dia 7 de setembro.

         Na volta D. Pedro e seu grupo também passariam pela sede da fazenda, lugar que o príncipe conhecia muito bem, já que a frequentava desde criança e foi, também, o lugar onde passou a lua de mel com sua esposa, a princesa Leopoldina, em novembro de 1817. Mansur e Guaraci ressaltam também a importância da Estrada Real de Santa Cruz, a principal via pública do Rio de Janeiro durante muito tempo, ligando a Quinta da Boa Vista a Santa Cruz e que, a partir de 1826, recebeu 11 marcos imperiais, dos quais apenas 5 permanecem em ruas e avenidas que mantém, em sua maior parte, o percurso da antiga Estrada Real.

      Ao percorrerem os caminhos desta importante estrada, os autores enfatizam a importante missão de Paulo Bregaro e Antônio Dias Cordeiro, no dia 2 de setembro, levando os documentos de Lisboa, além das cartas de Leopoldina e José Bonifácio, que iriam provocar o gesto simbólico do "Grito do Ipiranga" por D. Pedro, às margens do Ipiranga. Mansur e Guaraci falam também do importante encontro, para o processo de independência, entre Leopoldina e José Bonifácio em Santa Cruz, no dia 17 de janeiro de 1822, após Bonifácio desembarcar em Sepetiba, vindo de Santos. O livro conta com várias ilustrações, entre pinturas do período retratado, como fotos atuais de alguns dos lugares narrados na história. Como diz o professor e escritor Isra Toledo Tov, no prefácio do livro, os autores "trazem para a historiografia carioca uma obra original e necessária. Falar de um período conturbado da história nacional, tendo como foco a periferia, é o pano de fundo dos capítulos a seguir".

Os autores:

ANDRÉ LUIS MANSUR (Rio de Janeiro, 1969) é jornalista, memorialista e escritor, autor de 17 livros, nascido no bairro de Marechal Hermes, na Zona Norte carioca, tendo atuado em veículos importantes da imprensa carioca, como os jornais O Globo, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. Apenas no jornal O Globo publicou mais de cem críticas literárias para o caderno “Prosa & Verso”. No bairro de Campo Grande, onde mora, coordenou de 2005 a 2012 o Cineclube Moacyr Bastos, exibindo mais de trezentos filmes gratuitamente.

Seu primeiro livro foi lançado em 2004, o Manual do serrote, de humor. Quatro anos depois lançou seu livro de maior sucesso, O velho oeste carioca, que conta a história da zona oeste do Rio de Janeiro, entre Deodoro e Sepetiba, e que gerou mais dois volumes, lançados em 2012 e 2016. Seu último livro foi Fragmentos do Rio Antigo, volume II. 

GUARACI ROSA (1968, Rio de Janeiro) é historiador, pesquisador e professor de História, com especialização em História da Cidade do Rio de Janeiro. Um dos fundadores e ex-Coordenador de Estudos, Pesquisas e Projetos da CAMEMPA (Casa da Memória Paciente), entidade localizada no bairro de Paciência, na Zona Oeste carioca. Professor de Hsitória da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Seeduc RJ), colaborou ativamente na publicação de Os dois engenhos de Paciência, de 2019, e Casos matenses, de 2020.

2.21.2022

WALDYR ONOFRE E O FILME QUE PAROU CAMPO GRANDE

Um acontecimento que movimentou o bairro carioca de Campo Grande foi a filmagem e, depois, o lançamento do filme "As aventuras amorosas de um padeiro", em 1975, filme dirigido por Waldyr Onofre, morador do bairro e que, se não foi o primeiro, com certeza foi um dos primeiros diretores de cinema negros no Brasil. Além de  atores como Paulo César Pereio, Maria do Rosário Nascimento Brito, Ivan Setta e Haroldo de Oliveira, o filme contou com uma grande presença de pessoas de Campo Grande e da Pedra de Guaratiba, onde se passa a segunda parte do filme, ainda com suas águas limpas e uma grande frequência de banhistas. 


Assim, vemos no filme pessoas conhecidas no bairro, como o professor Moacyr Bastos, a atriz Vilma Camarate, o próprio Waldyr Onofre e o dramaturgo Odir Ramos, que escreveu, em sua coluna "Contra Regra", no jornal PATROPI, alguns meses antes do lançamento: "Até o pessoal mais abastado, os comerciantes, profissionais liberais e altos funcionários. Está todo mundo lá, sem estrelismo, sem cachê, sem exigir nomes nos letreiros, dando conta do recado, ajudando ao Waldyr, que recebeu um apoio popular de fazer deputado da ARENA morrer de olho grande". O filme foi produzido por Nelson Pereira dos Santos, que muito apoiou Waldyr em sua carreira.

Nascido na cidade de Itaguaí, em 1934, Waldyr Onofre (cujo nome de batismo era Waldyr Couto) começou no teatro na década de 60 e participou de produções importantes do teleatro da TV Globo, como a adaptação da peça "O matador", de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Sérgio Britto. Na mesma emissora participou de novelas clássicas, como "Irmãos Coragem", e no cinema também atuou como ator em vários filmes, como "Cinco vezes favela", "Macunaíma" e "Memórias do cárcere". Waldyr contava que começou a estudar cinema por correspondência, na Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood, e foi frequentador assíduo dos cinemas de Campo Grande, onde começou a se interessar pela Sétima Arte, entre eles o Cine Progresso, na rua Campo Grande, que funcionou de 1928 a 1964.

Waldyr morreu em 7 de janeiro de 2015, sendo sepultado no Cemitério de Campo Grande. Nos seus últimos anos de vida, deu aulas de teatro na Lona Cultural Elza Osborne e em outros lugares do bairro, sempre passando sua rica experiência para os mais jovens. Tive o prazer de, junto com o professor Moacyr Bastos, viajar junto com Waldyr, em 2010, para a cidade de Rio das Flores, onde o homenageamos com a exibição de um documentários sobre a sua vida e a inauguração do Cineclube Waldyr Onofre.




1.31.2022

A CASA ESQUECIDA DE MACHADO DE ASSIS


Rua dos Andradas, 147, centro do Rio. Neste imóvel Machado de Assis e sua esposa Carolina moraram alguns anos, logo após o casamento deles, em 1869. Só existe a fachada e embaixo funciona um estacionamento.

(foto tirada por mim)

1.17.2022

OS DUZENTOS ANOS DO ENCONTRO ENTRE LEOPOLDINA E JOSÉ BONIFÁCIO EM SANTA CRUZ


Por André Luis Mansur 


Faz 200 anos que um encontro ocorrido na região de Santa Cruz e Sepetiba, no Rio de Janeiro, marcaria o início de uma grande amizade e também teria repercussão no processo de independência do Brasil. Naquele dia 17 de janeiro de 1822, chegava de Santos, e desembarcava no antigo Cais de Sepetiba, José Bonifácio de Andrada de Silva, com sua comitiva. Aquele que seria denominado o "Patriarca da Independência" havia sido convocado para participar das articulações políticas que iriam culminar na Independência do Brasil em relação a Portugal. E quem estava na Fazenda de Santa Cruz, pertinho do Cais de Sepetiba, naquele momento, era Leopoldina, a futura Imperatriz do Brasil, que foi ao encontro de José Bonifácio e sua comitiva, ansiosa que estava por conhecê-lo, já que os dois desfrutavam de vários interesses em comum, entre eles as ciências naturais - em especial a mineralogia. “Desde o primeiro encontro estabeleceu-se entre ambos profunda simpatia, um desses nobres laços de amizade que tantas vezes ligam grandes príncipes aos homens superiores. A princesa não ficara somente encantada por poder falar na língua materna ao sábio de reputação europeia, mas também por ter encontrado um brasileiro cujos vastos conhecimentos no campo das ciências podia admirar e cujos pensamentos políticos se aproximavam dos seus” (A Imperatriz Leopoldina – Sua vida e sua Obra, de Carlos H. Oberacker Jr.)).



Leopoldina estava em Santa Cruz, Palácio de Veraneio de Família Imperial, com os filhos, Maria da Glória e João Carlos. Ela, que estava grávida novamente, havia sido enviada para lá, às pressas, na madrugada do dia 12, por D. Pedro I, já que o clima no centro da cidade estava tenso desde o famoso Dia do Fico, em 9 de janeiro, quando D. Pedro, então príncipe-regente do Brasil, se recusou a voltar a Portugal. O gesto foi considerado uma rebeldia às ordens das Cortes Constitucionais Portuguesas, que queriam fazer o Brasil voltar à condição de mera colônia portuguesa, o que o Brasil não era desde 1815, quando D. João criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Após o Dia do Fico, a Divisão Auxiliadora Portuguesa, comandada pelo General português Jorge Avilez, ameaçou levar D. Pedro à força para Lisboa e seus soldados começaram a fazer arruaças pelo Centro da cidade. 



Depois de descansar na fazenda, José Bonifácio e seus comandados seguiram para a Corte, a fim de ser nomeado Ministro da Justiça e Negócios Estrangeiros, enquanto Leopoldina e os filhos ainda ficariam em Santa Cruz até o dia 19. Ao voltarem, no entanto, o príncipe João Carlos, que tinha apenas dez meses de idade e já não estava bem de saúde, acabou piorando e morreu, no dia 4 de fevereiro, confirmando a "Maldição dos Bragança", a de que o primeiro homem a nascer em uma Família Bragança morreria antes de chegar ao trono. 


D. Pedro e Leopoldina encontraram um inimigo comum para a morte do pequeno príncipe: o general Jorge Avilez. Pois foi devido às ameaças dele que Leopoldina e os filhos foram enviados a Santa Cruz, enfrentando uma viagem difícil pela Estrada Real de Santa Cruz, de mais de 60 quilômetros, numa época de muito calor e umidade. Em carta ao pai, D. Pedro dizia que "este infortúnio é fruto da insubordinação e dos crimes da divisão portuguesa. O príncipe já estava incomodado quando esta soldadesca rebelde tomou as armas contra os cidadãos pacíficos desta cidade; a prudência exigiu que eu fizesse partir imediatamente a princesa e as crianças para a Fazenda de Santa Cruz,a fim de as pôr ao abrigo dos sucessos funestos de que estava capital podia via a ser o teatro. Esta viagem violenta, sem as comodidades necessárias, o tempo que era muito úmido, depois de quanto calor do dia, tudo enfim se reuniu para alterar a saúde do meu caro filho, e seguiu-se a morte".


Na carta, D. Pedro também indica que a vingança contra Avilez e seus comandados não se fazia por esperar: "A Divisão Auxiliadora, pois, foi a que assassinou o meu filho e neto de Vossa Majestade. Em consequência, é contra ela que levanto minha voz. Ela é responsável na presença de Deus e ante Vossa Majestade deste sucesso, que tanto me tem aflito, e que igualmente afligirá o coração de Vossa Majestade".


E D. Pedro levantou, não só a sua voz, mas o que podia contra a Divisão Auxiliadora, aquartelada na Praia Grande (atual Niterói), e sempre adiando a volta para Portugal. No dia 9 de fevereiro, um mês após o Dia do Fico, o príncipe embarcou na Fragata União e intimou os portugueses comandados por Avilez, bradando que eles  tinham até o dia seguinte para começarem o embarque, caso contrário os fortes e navios iria atacá-los.


Dois dias depois, a Divisão Auxiliadora foi embora do Rio de Janeiro. E do encontro entre Leopoldina e José Bonifácio, que faz parte de todo este drama histórico, são testemunhas o prédio da Fazenda de Santa Cruz, atual Batalhão de Engenharia Militar Vilagrán Cabrita, no centro do bairro de Santa Cruz, e a praia de Sepetiba, cujo cais, também chamado de Mole Imperial, pode ser visitado no primeiro domingo do mês, durante os passeios do Ecomuseu de Sepetiba.




* Ilustrações:


- Leopoldina

- José Bonifácio

- Fazenda de Santa Cruz - Pintura da inglesa Maria Graham em agosto de 1823

1.10.2022

A BATALHA DE URUÇUMIRIM

O dia 20 de janeiro de 2022, feriado de São Sebastião, marca os 455 anos da batalha de Uruçumirim, que consolidou a fundação da cidade do Rio de Janeiro (ocorrida em 1º de março de 1565) e provocou a expulsão de franceses e seus aliados tupinambás (ou tamoios, que significam "os mais antigos, os avós").

                    Morte de Estácio de Sá

               Pintura de Antônio Parreiras

Os portugueses, comandados pelo governador Estácio de Sá e por seu tio, Mem de Sá, estavam situados na pequena faixa de terra compreendida entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, que hoje é a Praia de Fora e abrange a Fortaleza de São João. Ali, durante dois anos, eles foram atacados com frequência pelos índios aliados dos franceses em canoas que se aproximavam de forma soturna da pequena ocupação portuguesa. Um poderoso sistema de aldeias, que ia da foz do Rio Carioca, na atual Praia do Flamengo, se prolongava até o morro de Uruçumirim, hoje o morro da Glória. Havia também uma aldeia importante na Ilha da Maracajá, atual Ilha do Governador, que também já foi chamada de Paranapuan, entre outros nomes.

Como já se sabia que franceses e tupinambás estavam muito bem entrincheirados, tanto nas aldeias de Uruçumirim quando na Ilha de Maracajá, a expedição de combate foi preparada com muito cuidado. A esquadra contava com seis embarcações. O padre José de Anchieta, o Cacique Araribóia (comandando a tribo dos Temiminós) e outro sobrinho de Mem de Sá, Salvador Correia de Sá, também estavam presentes.
Ao amanhecer do dia 20 de janeiro, após uma missa comandada por Anchieta e o bispo D. Pedro Leitão, as tropas se dividiram em três, comandadas por Estácio de Sá e Gaspar Barbosa, que lutariam em Uruçumirim, e outra que lutaria na ilha de Maracajá comandada por Cristóvão de Barros. Com o reforço, os portugueses partiram para o combate. A batalha durou três dias, com muitos mortos e feridos de ambos os lados, entre os quais o próprio Estácio de Sá, atingido por uma flecha no rosto e que o fez sofrer durante um mês até a sua morte, em 20 de fevereiro, nas instalações portuguesas da Praia de Fora. O cacique tupinambá Aimberê também morreu na batalha e sua cabeça foi colocada numa estaca. A conquista da Ilha de Maracajá, também chamada de Paranapuan, entre outros nomes, também foi difícil. Outro que perdeu a vida foi Gaspar Barbosa, na batalha de Uruçumirim.
Os franceses e tupinambás sobreviventes ainda permaneceram em terras que iam da atual cidade de Niterói a Cabo Frio até 1575, quando foram dizimados a mando do governador Antônio Salema. Os portugueses iriam ocupar o hoje extinto Morro do Castelo. Em torno dele havia charcos, pântanos, lagos e mangues, um imenso desafio que os desbravadores da cidade iriam enfrentar ao longo dos séculos.

1.03.2022

INCÊNDIO NO SENADO




De dia, são os restaurantes. À noite, os bares e boates. O movimento intenso da Travessa do Comércio (antes da pandemia), que, às sextas-feiras, se tornava quase intransitável, parece alheio à trágica história que envolve o local onde funcionou o Senado da Câmara. Apesar do nome oficial, as pessoas se referem à travessa como o Arco do Teles, estendendo ao pequeno trecho de paralelepípedos o nome do Arco que fica num dos extremos da travessa, em frente à Praça XV. Lá dentro, há sempre movimento de turistas, principalmente europeus, entusiasmados com o casario em estilo eclético e bem preservado. Num deles, morou Carmem Miranda, conforme atesta uma placa na entrada do sobrado.

A Câmara foi instalada no local em 1750, quando passou a existir o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro. Sete anos depois, a Câmara havia recebido o título de Senado da Câmara, concedido por Provisão Régia. Numa das casas, morava o Juiz de Órfãos Francisco Teles de Meneses, de tradicional família carioca e que emprestou o sobrenome ao Arco.
A praça XV ainda se chamava Largo do Carmo e do outro lado estava a Casa dos Governadores (depois Palácio dos Vice-Reis, Paço Real e Paço Imperial). O Arco, que manteve o traçado arquitetônico do período colonial, foi construído segundo projeto do brigadeiro João Fernandes Pinto Alpoim, o mesmo que projetou os Arcos da Lapa e o Paço Imperial.

O incêndio referido no início do texto, com a linguagem do jornalismo atual, começou às duas da madrugada de 20 de julho de 1790 num sobrado da Rua da Praia do Peixe (atual Rua do Mercado) e atingiu quase todas as casas. O arco não foi atingido, mas quase todo o acervo foi destruído. Só foram salvos 48 livros de assentamentos, a imagem de São Sebastião e o estandarte da cidade. Morreram um homem e uma criança, que dormiam no local.
Acredita-se que o incêndio tenha sido criminoso, porque o material destruído era formado basicamente por documentos a processos de ocupação da terra na cidade. As principais suspeitas recaíram sobre pessoas que teriam problemas em relação à posse de terras, pois assim acabaram eliminando a fonte de seus problemas.
Nunca conseguiram descobrir se o incêndio foi ou não criminoso e a única lembrança da tragédia reside numa placa bem ao lado do Arco.

* Foto de Ronaldo Morais tirada em 1984. 

11.23.2021

AS ORIGENS DE CAMPO GRANDE

O bairro de Campo Grande tem suas origens no século XVI, logo após a fundação do Rio de Janeiro, em 1º de março de 1565, por Estácio de Sá. Nos anos e décadas seguintes, a ocupação do solo foi feita a partir da distribuição das sesmarias, que eram grandes porções de terras distribuídas a quem o Reino de Portugal achava que merecesse, principalmente os que lutaram contra franceses e índios tupinambás na conquista e fundação da cidade. Essas sesmarias, se não fossem ocupadas e desenvolvidas, eram devolvidas, as chamadas "terras devolutas". Muitas se desenvolveram, entre elas as que deram origem à imponente Fazenda de Santa Cruz, origem deste importante bairro da zona oeste.

Campo Grande começou a ser ocupado, assim, no final do século XVI, e realmente justificou o seu nome, pois nos documentos era chamado de "o Campo Grande", uma região que ia da altura do atual bairro e arredores até o local onde seria o bairro de Realengo. Tanto é verdade que a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro, bem na área central de Campo Grande, foi fundada em 1673 no local onde hoje é o bairro de Bangu pelo fazendeiro Manuel de Barcelos Domingos. Muito mais tarde ela seria transferida para o atual local. No final do século XIX, após um incêndio que a destruiu por completo. O padre Belisário dos Santos, com apoio do governo e da população, conseguiu que o templo atual fosse erguido. O sacerdote, cujos restos mortais estão sepultados dentro da igreja, morava na casa paroquial que mais tarde seria o Colégio Belisário dos Santos, um dos mais tradicionais de Campo Grande e demolido em 2014 para a construção de um estacionamento.


10.18.2021

A PONTE DOS JESUÍTAS

 



Construída em 1752, a Ponte dos Jesuítas é um dos mais importantes e bem preservados símbolos da arquitetura colonial do Rio de Janeiro. Também conhecida como Ponte do Guandu, ela não é uma ponte comum, e sim um ponte-comporta, já que através dos seus arcos era usada para regular a passagem das águas do Rio Guandu, que hoje não passam mais por ali, e também desviá-las para o Rio Itaguaí através de um canal artificial. Com 50 metros de extensão e seis de largura, ela também servia como passagem dos tropeiros que circulavam pelo "sertão carioca", levando mantimentos e outros produtos pelas muitas fazendas da região.



Seu piso é formado por sólidas lajes, no calçamento conhecido como pé de moleque, muito usado em Paraty e o terror dos saltos altos das mulheres. Os quatro arcos, revestidos internamente com pedra, eram chamados de "óculos", e os padres, por meio de comportas de madeira, controlavam a água para evitar enchentes que destruíam as plantações, matavam o rebanho e inundavam as casas. Feita de cantaria e construída na administração do padre Pedro Fernandes, grande empreendedor da fazenda, a ponte é ornamentada por oito colunas de granito com capitéis (parte superior de uma coluna ou pilastra) em forma de pinhas portuguesas. Na parte central, entre belas esculturas barrocas, há um bloco em mármore lioz, onde se vê um brasão com o símbolo da Companhia de Jesus (IHS) e a data de 1752, além da seguinte inscrição em latim:

Flecte genu, tanto sub nomine, flecte viator
Hic etiam reflua flectitur amnis agua

Que, traduzida para o português, diz o seguinte:

Dobra o joelho sob tão grande nome, viajante
Aqui também se dobra o rio oem água refluente



A ponte fez parte do amplo trabalho dos jesuítas de controle das águas, drenagem e irrigação da ampla área da Fazenda de Santa Cruz, repleta de pântanos e terrenos alagadiços em geral, sempre sujeitos a inundações. Dois padres foram mandados para estudar na Holanda, que enfrentava os mesmos problemas, para aprender os procedimentos corretos. Foram feitos mapas hidrográficos por toda a região, e os vales, morros e elevações em geral, foram estudados. Os jesuítas concluíram que os leitos dos rios deveriam ser contidos nos pontos de inundação, com as pontes-comportas, aberturas de valas e canais para o escoamento das águas, solucionando o problema de enchentes e secas e tornando a Fazenda de Santa Cruz uma das mais produtivas do Brasil.



Com a canalização do Guandu, cujas águas abastecem a população da cidade, a ponte perdeu sua função original, mantendo, no entanto, a importância histórica e arquitetônica, tanto que seu tombamento foi um dos primeiros do país, em 1938, quando o governo de Getúlio Vargas criou a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje o mais instituto de preservação do patrimônio, o Iphan (só mudando o "diretoria" para "instituto"). Infelizmente a ponte sofreu degradação de pessoas que retiraram partes de sua estrutura para algum tipo de obra, inclusive com a derrubada de duas colunas, mas os constantes trabalhos de recuperação (principalmente os de 2007, feitos pela prefeitura do Rio de Janeiro) e a conscientização da população local estão dando a este importante monumento da cidade o seu real valor. A Ponte dos Jesuítas fica na Estrada do Curtume.

- Fotos tiradas por Ronaldo Morais em 1984. Hoje a ponte está bem conservada.

10.11.2021

RIOS ANTIGOS

 

Um dos principais sintomas da degradação ambiental de uma cidade ocorre quando seus rios passam a ser chamados de valões. Aqui no Rio de Janeiro isso ocorre em todos os bairros e o mais irônico é que a cidade carrega um rio no nome e também foi um rio que deu nome aos nascidos na cidade, o Carioca, hoje quase totalmente canalizado. Tem apenas um pequeno trecho visível no Largo do Boticário, no Cosme Velho, e desemboca de forma muito mal-cheirosa na Praia do Flamengo.

Apesar da lastimável situação atual, os rios antigos já foram o principal meio de transporte desta cidade, já que as poucas trilhas que existiam eram perigosas e cheias de obstáculos. Assim, rios como o Maracanã, o Comprido, o Carioca, o Andaraí, o Piraquê, o Meriti, o Piraquara, o Guandu e tantos outros foram responsáveis pela maior parte da movimentação de cargas e passageiros da cidade por muito tempo, sempre atrelados a ancoradouros e portos que já não existem, como os de Irajá e Maria Angu, fundamentais para o escoamento de boa parte da produção agrícola do subúrbio carioca. Destes tempos de grande importância para o desenvolvimento da cidade só ficaram mesmo os nomes dos rios - boa parte subterrâneos - e os que não passaram por este processo ficam expostos a todo tipo de degradação, não apenas do esgoto jogado in natura nas suas águas, que nascem limpas e cristalinas nas serras, mas também à falta de educação dos moradores próximos que jogam todo tipo de porcaria em suas águas, de sacos plásticos a cadeiras, sofás e até geladeiras velhas. 

Fica aqui uma sugestão, que já compartilho com alguns amigos: por que não chamar o rio pelo nome? Nos mapas da prefeitura, é fácil identifica-los e alguns têm até plaquinhas. Não que isso vá lá mudar muita coisa, mas só de não chamá-los de valão, nome que simboliza sujeira e podridão, quem sabe eles não passem a ser mais respeitados? Afinal, não dizem que o sujeito só passa a existir quando é batizado? Eu não sei não, mas depois que passamos a chamar o rio perto da minha casa pelo nome dele, Cabuçu-mirim, afluente do Cabuçu, que desemboca no Piraquê e deságua na Baía de Sepetiba (este poderia ser o seu ´nome completo), já percebi que duas garças aparecem por lá todas as manhãs e ficam se refestelando num banco de areia que surgiu milagrosamente no meio do rio.

 * Imagem atual do Rio Carioca, na altura do Largo do Boticário

9.27.2021

CONSTRUÇÃO CARTOGRÁFICA EM SANTA CRUZ

 


Apresentação do projeto de Construção Cartográfica em Santa Cruz, um belo trabalho para o qual fui convidado a participar, organizado pela jornalista Juliana Braga e com jovens do bairro, que fizeram um mapeamento histórico e afetivo de Santa Cruz. Em breve o vídeo do projeto vai ser disponibilizado e haverá também uma exposição com as fotografias tiradas pelo jovens. O lançamento ocorreu hoje de manhã no Noph, Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, no Palacete Princesa Isabel. O Noph é coordenado pelo historiador Bruno Cruz.



SINOS, INCÊNDIOS E BALEIAS

 Numa cidade cheia de sirenes e motores, é preciso fazer um grande esforço para se pensar na tranquilidade que devia ser quando estes e outros ruídos ainda não existiam. No centro do Rio de Janeiro, como havia, e ainda há, muitas igrejas, o auxílio dos sinos era fundamental. Eram eles que indicavam aos bombeiros o lugar exato do fogo, além de casamentos, enterros e outros eventos importantes. E indicavam também, como no caso do temido "toque do Aragão", a hora de se recolher.

O desembargador Francisco Alberto Teixeira de Aragão era o Intendente Geral (uma espécie de prefeito) em 1825, quando através de um edital foi determinado que os sinos das igrejas de São Francisco de Paula e do Mosteiro de São Bento tocariam durante meia hora, às 10 da noite, no verão, e às nove, no inverno, para alertar as pessoas de que ninguém deveria sair de casa até o amanhecer. Quem saísse seria revistado e poderia ser preso. Tudo para diminuir os casos de roubos e arruaças, bem menores do que hoje, porém já significativos para a época. Entre os principais arruaceiros, estavam os capoeiras, geralmente escravos fugidos que saíam em bandos para atacar as pessoas, ou mesmo a polícia, com seus "rabos de arraia" e outros golpes.

Os sinos já anunciavam os incêndios desde o início do século XVII. Se ocorresse à noite, no centro comercial da cidade, por exemplo, ele era avisado pela Igreja de São Francisco de Paula. Os sineiros também ganhavam dinheiro para anunciar o nascimento dos filhos de pessoas importantes. Se fosse do sexo masculino, eram nove badaladas, se fosse menina, davam sete toques. "Cidade de frequentes festas religiosas e procissões quase diárias, com foguetes e espocos e sinos a repicar, o velho Rio de Janeiro exteriorizava na música alegre dos sinos a alma simples e boa do seu povo" (Crônicas da cidade do Rio de Janeiro, Noronha Santos).

Outro aspecto dos incêndios que merece ser citado é o que ocorria quando os bombeiros partiam para apagar o fogo - sem sirenes, é claro. Se fosse à noite, os donos das casas que ficavam no caminho tinham de colocar lampiões na entrada para iluminar o trajeto, mesmo que precariamente. Quem não fizesse isso, corria o risco de ser punido. Os lampiões eram acesos, em sua maior parte, com o óleo extraído das baleias que infestavam a Baía de Guanabara. Antes de 1854, quando a iluminação a gás fez com que o Rio de Janeiro deixasse de ser uma cidade de sombras, o óleo de baleia era de fato o principal combustível dos lampiões e dos oratórios que ficavam nas esquinas.
As baleias foram embora há muito tempo e deixaram em seu lugar, nas escuras águas da Baía de Guanabara, personagens mais exóticos, como pneus de carro e garrafas de refrigerante.


9.20.2021

LEITE COM MANGA

 Uma das atitudes mais corajosas que já tomei na vida foi quando pedi um copo de leite com manga numa agradável tarde de sábado em um bar do subúrbio carioca de Cascadura. Não que as condições do estabelecimento fossem inadequadas, era até simpático o bar, mas o ato de coragem se justifica por eu ter ouvido desde pequeno que a mistura de leite com manga poderia levar à morte em poucos minutos.

Não sei de onde veio a argumentação de que estas duas substâncias unidas poderiam provocar uma explosão fatal ao entrar no organismo, mas sei que ela existia e era constantemente lembrada, acabando por se constituir numa das lendas urbanas de maior durabilidade, tal qual a da mulher loura no banheiro, embora esta eu nunca tenha tentado desafiar e muitas vezes, quando criança, cheguei em casa com a bexiga no limite por medo de entrar no banheiro do colégio.
 Também não sei por quais cargas d´água tomei a coragem de fazer o insólito pedido naquela tarde, enquanto aguardava meu ônibus chegar ao ponto. Tinha 18 anos, estava feliz, ia a uma festa e não havia qualquer sombra de comportamento autodestrutivo em minha vida. Talvez fosse uma espécie de rito de passagem, aquela situação que todo adolescente precisa enfrentar antes de ingressar na fase adulta de peito aberto, deixando para trás o medo e a insegurança.
Pois bem, devia ser isso mesmo. E lá fui eu, cheio de coragem, pedir a estranha mistura num bar cheio de gente bebendo cerveja e outras misturas mais fortes. O ridículo da cena talvez lembre o personagem Shane, interpretado por Alan Ladd, pedindo uma gasosa no bar cheio de “homens brabos” do filme “Os brutos também amam”.
O mais incrível foi que, ao fazer o pedido, o atendente rapidamente se prontificou a fazer a, digamos, vitamina, ainda perguntando se eu queria com gelo. Enquanto ele preparava, fiquei pensando: será que esse perigo só existia na minha família? Mas não podia ser. Vários amigos e conhecidos me asseguravam que a mistura leite com manga era tão fatal quando picada de lacraia (outra história terrivelmente ameaçadora). Ou então será que aquele bar era o único bastião contra estas lendas disseminadas de geração a geração? Ou o dono era um sádico especializado em matar fregueses incautos e enterrá-los nos fundos do estabelecimento, como um bom filme americano de terror classe B?
Não sei, nada ali parecia tão ameaçador. E quando a mistura ficou pronta e o atendente falou, num tom razoavelmente alto, “sai um leite com manga”, não vi ninguém espantando. Achei até que alguma velhinha pudesse pegar o copo e despejá-lo subitamente na calçada e ainda me dar um belo de um esporro por ser tão inconsequente. Não, nada aconteceu. E então, de frente para o Viaduto de Cascadura, bebi tranquilamente meu primeiro copo de leite com manga. Paguei, agradeci e o atendente me deu o troco como se nada tivesse acontecido.
Peguei meu ônibus e achava, inconscientemente, que algo ainda aconteceria. De qualquer forma, tinha meu endereço e um número de telefone na carteira, como meu pai sempre recomendava, e por isso alguém (uma enfermeira, o mais provável), poderia dar a trágica notícia à família. Mas, também desta vez, nada aconteceu. Fui à festa, me diverti bastante, voltei para casa no dia seguinte e nas 48 horas seguintes, que seriam de observação e monitoramente, não tive nem uma diarreiazinha sequer.

Confesso: me decepcionei. Uma verdade tão inquestionável como aquela precisaria ter um fundo de...verdade, pelo menos. Um mito não cai por terra assim, sem esboçar um mínimo de reação. Mas aquele caiu, de forma irrefutável. Contei a façanha para amigos e familiares e alguns ainda me chamaram de louco e inconsequente. Seja como for, depois disso passei a adotar a vitamina de leite com manga no meu cardápio e me enchi de coragem para tomar outras atitudes impetuosas, como tomar banho depois do almoço ou andar de ônibus pela avenida Brasil de madrugada. Mas a mulher loura no banheiro, esta ficou sempre no meu imaginário como um símbolo de medo e covardia. 

* Este texto faz parte do meu livro de crônicas O Peão Poeta.



9.08.2021

O FRANCÊS QUE SAQUEOU O RIO

 Se o francês Jean François Du Clerc, com cerca de mil corsários, não conseguiu conquistar o Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1710, e ainda acabaria assassinado na prisão, um ano depois a situação seria bem diferente. Outro corsário francês, René Duguay-Trouin, chegava à cidade com 17 navios (na verdade foram 18, pois no caminho os franceses obrigaram a tripulação de um navio inglês a seguir com eles) e cerca de 4 mil corsários. Duguay-Trouin rompeu as defesas da Baía de Guanabara e invadiu o Rio, apoiado por uma forte neblina, no dia 12 de setembro de 1711, há 310 anos.

Apesar do bombardeio das fortalezas e navios de guerra portugueses, os franceses foram avançando até se estabelecerem na Ilha das Cobras (exatamente em frente ao atual Boulevard Olímpico), de onde partiriam para conquistar a cidade. "No dia 14 de setembro já estavam em terra todas as nossas tropas, num total de dois mil e duzentos soldados, e entre setecentos e oitocentos marinheiros, armados e experimentados, o que perfazia, incluídos os oficiais, guardas-marinha e voluntários, uma tropa de cerca de três mil e trezentos homens. Além disso, tínhamos ainda quase quinhentos homens atacados por escorbuto, os quais desembarcaram junto com os outros, e ao cabo de quatro ou cinco dias já estavam em condições de ser incorporados ao resto das tropas". ("Memórias do Senhor Duguay-Trouin", São Paulo, Imprensa Oficial-Editora UnB, 2003).
Após alguns dias de intensa batalha, a tropa portuguesa e os moradores da cidade a abandonaram após um grande bombardeio francês na noite do dia 20, acompanhado de intensa tempestade com muitos raios e trovoadas. O povo ficou em pânico, achando que os franceses realizavam um ataque geral, e fugiu da cidade levando o que podia em meio aos caminhos alagados. O governador Francisco de Castro Morais, e toda a administração da cidade, se refugiaram na Fazenda do Engenho Novo, dos jesuítas. Todos aguardavam, ansiosos, a chegada de uma imensa tropa que vinha de Minas Gerais, sob o comando de Dom Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho.
Duguay-Trouin já sabia da iminente chegada dessa tropa e, por isso, acelerou a negociação do pagamento do resgate, ameaçando destruir toda a área central do Rio de Janeiro, já que, além das centenas de canhões dos navios de guerra, os franceses dominavam todas as fortalezas. Dom Antônio chegou no dia 11 de outubro, com cerca de 6 mil homens de tropas regulares. Mas nada mais podia ser feito. O resgate da cidade já havia sido assinado, os franceses receberam 610 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 vacas, fora o que os corsários saquearam pela cidade. Duguay-Trouin devolveu o Rio de Janeiro e embarcou de volta com seus corsários no dia 13 de novembro, incluindo aí centenas de franceses da expedição de Du Clerc que estavam presos na cidade.
Considerado culpado pela perda da cidade, o governador Francisco de Castro Morais foi degredado para a Índia, só conseguindo o perdão quase 30 anos depois. O Rio de Janeiro passou a ser governado por Dom Antônio de Albuquerque. Já a volta dos corsários para a França foi cheia de contratempos, com imensas tempestades pelo caminho. O navio Aigle naufragou na ilha de Caiena, quando estava ancorado, mas a tripulação conseguiu escapar. Já os navios Magnanime e Fidèle naufragaram em alto mar, com a morte de quase 1200 franceses, incluindo Monsieur de Courserac, o primeiro a forçar a barra na Baía de Guanabara. Junto com o Magnanime, foram parar no fundo do mar boa parte das mercadorias trazidas do resgate e 600 mil libras em ouro e prata.

8.24.2021

O ADVOGADO DOS INCONFIDENTES

 Um importante personagem da Inconfidência Mineira nasceu no Rio de Janeiro, em 1752. José de Oliveira Fagundes era filho do comandante José Ferreira Lisboa e de Firmina Inácia de Oliveira. Aos 20 anos, foi estudar Direito em Coimbra, tendo concluído o curso em 1778. Trabalhou em Lisboa e depois voltou ao Rio de Janeiro, exercendo a profissão em varas cíveis e criminais. No dia 31 de outubro de 1791 foi nomeado, pela Alçada, advogado da Santa Casa de Misericórdia para defender os réus da Inconfidência Mineira, prestando juramento nessa data. As duas devassas já estavam reunidas numa só. Sua admissão na Santa Casa ocorreu em 1790 e ele ganharia 200 mil réis pelo serviço.

Tanto tempo depois das prisões, só agora era concedido o direto de defesa aos réus. O advogado não perdeu tempo: começou a dar vistas ao sete imensos volumes, com todos os interrogatórios, e apresentou os primeiros embargos de defesa no dia 23 de novembro, com 121 parágrafos referentes a 29 réus vivos e três falecidos. Fagundes foi ajudado por outros advogados na leitura dos autos, mas seus nomes não foram registrados.
Sobre Tiradentes, Fagundes estabelece sua defesa afirmando que o alferes era conhecido "por loquaz, sem bens, sem reputação, sem crédito para poder sublevar tão grande número de vassalos quanto lhe seriam indispensáveis para o imaginário levante contra o Estado", e ainda cita "o caso que se fazia em toda aquela capitania da lubricidade da sua língua, basta notar a indiscrição, e nenhum acordo com que, sem escolha de tempo e de pessoas, e de lugar proferia as quiméricas ideias que a sua libertinagem lhe subministrava". (Tiradentes - a defesa, Paulo Duque (org.) O advogado ainda retirava o crédito da própria confissão de Tiradentes, provocado, segundo ele, por ser o alferes um homem "desesperado por ter sido preterido quatro vezes, parecendo-lhe que tinha sido muito exato no serviço (...)". (Tiradentes - a defesa, Paulo Duque (org.)
A defesa seria difícil. Os interrogatórios se sucediam e os réus, presos em calabouços terríveis, iam descrevendo todos os detalhes do movimento, fornecendo todo o material necessário para os juízes indicarem as culpas de cada um. Mesmo assim, Fagundes apresentou seus embargos, escritos de forma bem detalhada, inclusive de Domingos Fernandes da Cruz, que apenas emprestou a casa a Tiradentes, sem ter a menor ideia do que se tratava, e também estava preso. "(...) o réu Domingos Fernandes da Cruz, em cuja casa foi preso o réu Xavier ignorava qual era o seu delito, e o recolheu em sua casa a instâncias de Inácia Gertrudes de Almeida, a quem também o dito réu enganou (...)". (Tiradentes - a defesa, Paulo Duque (org.)
A defesa estava lançada, agora era esperar o resultado do imenso trabalho de Fagundes. Em homenagem a este grande conhecedor das leis, desde 1989, uma das salas da Procuradoria Geral da República, em Brasília, tem o nome de José de Oliveira Fagundes. E no prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) há uma placa com o nome do advogado.

* Este texto faz parte do livro "Tiradentes Carioca", meu e de Ronaldo Morais.



7.17.2021

O NOSSO 11 DE SETEMBRO

 A data de 11 de setembro costuma ser lembrada por dois acontecimentos dramáticos de alcance mundial: o ataque às torres gêmeas, em Nova York, em 2001, e o golpe militar no Chile, em 1973.

Já aqui, no Rio de Janeiro, também tivemos o nosso 11 de setembro, bem mais antigo, mas também com altas doses de violência e dramaticidade. Foi nesta data, em 1710, que o francês Jean François Du Clerc, acompanhado de cerca de mil corsários, invadiu a cidade do Rio de Janeiro pela praia da Barra de Guaratiba, no lado oeste da cidade. O objetivo? Conquistar e saquear a cidade e depois dividir o butim, o valor do resgate, entre os corsários e os que apoiaram a invasão. O corsário, ao contrário do pirata, tinha autorização do rei para suas investidas (no caso de Du Clerc, do rei Luis XIV, o Rei Sol, ícone do modelo político conhecido como Absolutismo) e apoio financeiro de companhias e nobres abastados.
Du Clerc tentou invadir o Rio de Janeiro pela Baía de Guanabara, mas foi rechaçado, com seus seis navios, pela Fortaleza de Santa Cruz. Foi, então, navegando pelo litoral da cidade até chegar a Angra dos Reis, que foi duramente bombardeada e teve algumas fazendas saqueadas. Quatro escravos fugidos de uma dessas fazendas informaram aos franceses que a praia da Barra de Guaratiba seria um bom ponto de desembarque para se atingir o centro do Rio de Janeiro. Os franceses seguiram o conselho e desceram na praia no dia 11 de setembro.
Após oito dias de dura caminhada pelas montanhas (e com direito a alguns saques, como na Fazenda do Camorim), chegaram ao centro do Rio, onde já eram esperados sem o menor pingo de hospitalidade. Numa violenta batalha que durou um dia inteiro, com muitos mortos e feridos de ambos os lados, os invasores se renderam. Os franceses sobreviventes foram distribuídos pelas prisões e Du Clerc ficou preso no Convento dos Jesuítas, no já extinto Morro do Castelo, sendo depois transferido para uma casa, na esquina da rua da Quitanda com (também já extinta) rua General Câmara, onde, apesar de estar guardado por várias sentinelas, foi assassinado no dia 18 de março de 1711, um crime que nunca foi solucionado.
Ainda em 1711, um outro corsário, René Duguay-Trouin, chegava ao Rio com a mesma intenção de Du Clerc, mas desta vez com 18 navios e cerca de seis mil corsários franceses. Mas essa história deixo para contar outro dia.
* Esta história é contra no livro A invasão francesa do Brasil, meu e de Ronaldo Morais.