1.29.2007

VERÃO



A primeira imagem que me vem do verão é a da camisa grudada nas costas, empapada de suor. Por mais que elejam esta calorenta e luminosa estação como a melhor do ano, o que mais ouço é exatamente o contrário.

Perguntem, por exemplo, a motoristas de ônibus, carteiros, pedreiros, contínuos, policiais, lixeiros, enfim, a todos o que trabalham na rua o que eles acham do verão. Perguntem a quem pega um ônibus para voltar do trabalho às seis da tarde, em pleno horário de verão, ou precisem trabalhar de terno.

E enfim, perguntem a jogadores de futebol que precisam treinar com o sol a pino e jogam às quatro da tarde (às três, no horário normal).

Com a constante destruição da camada de ozônio, o forno de microondas que existe lá em cima está cada vez mais impiedoso. Se há uns dez anos era possível ‘pegar uma cor’ numa boa em qualquer horário na praia (sem protetor solar!), hoje só mesmo pessoas com comportamento auto-destrutivo conseguem fazer isso. Basta andar um pouquinho sob o sol para sentir que não tem mais refresco.

Claro, os que moram perto da praia, ou da montanha, e estão de férias devem adorar o verão. Mas e quando precisam sair para pagar uma conta e o ar-condicionado do banco não está lá essas coisas? Ou então num engarrafamento ao meio-dia, com a camisa grudada nas costas (voltamos a ela) e o motorista de trás buzinando para avançar o sinal? Não é à toa que o verão é a estação do estresse no trânsito.

Mesmo os que ficam o tempo quase todo no ar-condicionado não estão livres, pois os médicos sempre advertem sobre o perigo do choque térmico que acontece quando a pessoa sai do calor de quarenta graus para o ar-condicionado ou vice-versa.

Por isso, depois das águas de março (que agora vêm em janeiro), prefiro "As cores de abril", canção de Toquinho e Vinícius, que diz: "Olha quanta beleza/Tudo é pura visão/E a natureza transforma a vida em canção". Prefiro este sol, o do outono, bem mais ameno. Mas como este é um espaço democrático, aguardo os defensores do verão apresentarem seus argumentos.

LEIA TAMBÉM (se tiver paciência):

romanceveralucia.blogspot.com
superavitoheroibrasileiro.blogspot.com

6 comentários:

Anônimo disse...

ABRIL
(Adriana Calcanhotto)

Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje
E gostar disso
Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
Imagino jeitos novos para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules
Lá vou eu, eu queria ficar
Pra me ver mais tarde,
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto
E vejo o tempo em seu claroescuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo
Logo eu que fazia girar o mundo,
Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos
Conheço o tempo em seus disfarces, em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses se o meu amor demora
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes
E vejo o tempo apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele
Me o tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente

Anônimo disse...

Verão é uma estação conceitual: vale mais pelo que representa e não pelo que realmente é. "É verão, bom sinal, já é tempo de abrir o coração e sonhar!". Abraços

Anônimo disse...

Acho que no Rio de Janeiro hoje, só existem duas estação, que são: O verão (3 estações) e o inferno (verão) hehehehehe.

Anônimo disse...

Bela lembrança, Mara. Essa música é muito bonita. E tem realmente tudo a ver com o ciclo do outono.

Marcello, o verão pode até ser conceitual, mas é um conceitual encharcado de suor. Não há metáfora que resista ao sol de meio-dia nessa época.

Acho que estamos na estação inferno agora.

Abraços a todos.

Anônimo disse...

Será que algum dia nessa vasta terra de meu Deus irá surgir um único espírito satisfeito?!?!?!

Custo a crer...pq quem tem cabelo liso quer escrespar....quem é morena descolore.....quem mora na cidade maravilhosa reclama do sol...

O ameno só ameniza (construção original, tô pra te dizer: que vergonha)....mas voltando...o ameno só ameniza em contra-senso ao extremo....

Sem nossos acalorados verões, os outonos não teriam apreciadores tão ferrenhos....

E os invernos.....não estou falando os do Rio...que esses não o são...
Aliás Marcello...eu diria que o inverno sim é conceitual, existe de direito, mas não se verifica de fato!!!!

Pra se comparar ao verão carioca, precisamos no mínimo de um inverno do ártico...pergunte a um esquimó como ele gostaria de tirar akela roupa pesada e suar a camisa no verão carioca!?!?!?

É elementar meu caro André....

Mais fácil amar o que não temos do que aceitar com amor o que temos (mesmo que venha com algumas gotinhas de suor)!!!!

Homens de terno...usem a criatividade...bolem um jeitinho de se trocar no trabalho....Motoristas conversem com seus patrões, já está na hora de uniformes mais adequados....

Mas minha derradeira lágrima é por este mundo que nasceu perfeito, mas que a incompreensão humana está devastando dia após dia....

Anônimo disse...

Madeleine2, vc deveria ser escritora... tem uma grande habilidade em escrever. Adorei!