7.16.2008

DOS MAGROS BUCÉFALOS AOS BURROS SEM RABO


Ligando a Praça Tiradentes ao Largo da Carioca, dois dos pontos mais simbólicos da História da cidade, a rua da Carioca teve seu início num caminho primitivo chamado de rua do Egito, “ou porque houvesse nas proximidades um oratório em que se venerava a Família Sagrada fugindo de Herodes, ou porque os cavaleiros que por ali passavam eram magros bucéfalos, lutando contra a natureza arenosa do terrenos, se vissem em apuros e risco de quebrar as costelas. E o carioca, sempre propenso a pilhérias, dizia que os tais eram ´para o Egito´”. (1)

Isso foi lá pelos idos do século XVII, antes de 1667, quando ela ficava no caminho dos que iam buscar água no antigo chafariz do Largo da Carioca. O chafariz recebia água do Aqueduto da Carioca, de 1723 (que depois seria conhecido como os Arcos da Lapa), e deu muito trabalho ao Corpo da Guarda instalado no local, “pois os escravos acotovelavam-se para passar a frente uns dos outros, o que degenerava em pancadaria. A função da Guarda era colocar os escravos em fila, em boa ordem. Foi a primeira instituição da fila no Rio de Janeiro”.(2)

A rua mesmo foi aberta em 1698 e manteve o nome de rua do Egito até o século XIX, quando mudou para outro nome bastante peculiar, o de rua do Piolho, isto por causa de um proprietário de casas na rua e procurador, “terrível chicanista e amigo de demandas”, (1) que recebeu o apelido de Piolho por andar pelos cartórios e tribunais em busca de causas de todo o tipo, “como piolho em costura”.
(1) Este nome foi mantido até 1848, quando a Câmara Municipal a denominou como a conhecemos hoje. Mesmo assim, ainda mudou de nome algumas vezes, para rua São Francisco da Penitência (1879), rua São Francisco de Assis (1882), rua Presidente Wilson (1918) e, enfim, de novo e definitivamente para rua da Carioca, em 1919.

A rua, que fica aos pés do Convento dos frades franciscanos, teve sua origem em 1741, quando o convento cedeu um terreno de 20 braças de frente para o largo de 200 de fundo para a rua, a fim de que a Ordem Terceira de São Francisco da Penitência levantasse um hospital. Foi nessa época que começaram as edificações. O caminho, que ia até a Travessa dos Baiotas (atual rua Silva Jardim), foi prolongada pelo vice-rei D. Antônio Álvares da Cunha (1763-1767) até a já aterrada Lagoa da Sentinela, no lado esquerdo da rua Frei Caneca.

Em 1905, ela teria a configuração atual, quando foi alargada na reforma urbanística empreendida pelo prefeito Pereira Passos, e foi nessa época mais ou menos que os “burros sem rabo”, homens que transportavam carrinhos de mão tornaram-se figuras marcantes do centro da cidade, aproveitando os trilhos de bitola estreita das ruas (inclusive os da Carioca) para transportarem seus carrinhos. Até hoje, embora não haja mais trilhos e eles circulem pelo asfalto mesmo, são conhecidos assim no centro da cidade.

Após a restauração feita nos anos 90, quando foi recuperada inclusive a cor original dos pequenos sobrados, a Carioca pôde recuperar o status de uma das ruas mais representativas da História do Rio, e que hoje abriga, além do comércio em geral, alguns dos estabelecimentos dos mais tradicionais do centro do Rio, como o Bar Luiz, os cines Íris e Ideal e a loja Guitarra de Prata.

LIVROS CONSULTADOS

(1)– O Rio Antigo (vol.1) – Dunlop

(2)- O Rio de Janeiro em seus 400 anos – artigo “O Rio no século XVII”, de Cláudio Bardy


* Foto de Augusto Malta sobre o alargamento da rua da Carioca, já com os "burros sem rabo".

9 comentários:

Anônimo disse...

Prezado André Luis Mansur

Meus parabéns pela excelência do Emendas e Sonetos. Seu trabalho
contribui e muito para o conhecimento histórico da cidade do Rio de Janeiro. Gostei tanto que já estou divulgando no meu blog e site. É só conferir e visitar: http://saibahistoria.blogspot.com/
http://www.historiaecia.com/

Saudações e um grande abraço,

Anônimo disse...

Obrigado. Vou dar uma olhada no seu blog e no site. Em outubro, vou lançar, no Paço Imperial, o livro ´O Velho Oeste Carioca´, pela editora ´Ibis Libris´, no qual eu conto a História da zona oeste do Rio.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Sobre o seu livro. Gostaria que me informasse o dia do lançamento, pois para mim será um prazer estar presente.

Um grande abraço.

Anônimo disse...

opa! lançamento de livro pra eu botar em prática as lições de serrotagem.. rs
Parabéns André! Enfim vejo que, como bem disse no manual do serrote, existem serrotes que de tanto serrotarem lançamentos, acabam lançando um livro. rs
Abraços.

Anônimo disse...

Caro André Luis. Peço que envie a programação do cineclube na Moacyr Bastos para o e-mail historia@historiaecia.com
Quanto ao lançamento do livro, estarei aguardando.

Um grande abraço,

Anônimo disse...

Marcello disse...

Essa imagem dos escravos querendo passar na frente uns dos outros, acotovelando-se, e o negócio descambando para grossa pancadaria (como em "Na Batucada da Vida") é muito boa. Vou pensar nisso quando for comprar ingressos para os jogos do Flamengo no Maracanã....

Faltou dizer que, no século XVIII, as imediações da Rua da Carioca (principalmente onde é hoje a Ramalho Ortigão) eram usadas para o descanso de músicos e seus familiares, que costumavam tirar uma "siesta" na região, muitas vezes aos olhos de quem passava na rua. Parece que essa tradição é imorredoura.

Abraços.

Anônimo disse...

Sr André, quando será exatamente o lançamento do seu livro sobre a ZO. Certamente estarei lá, pois sou um apaixonado pela região. Aproveitando o espaço, acho que deveria usar sua influência na mídia e sinalizar o que estão fazendo com a Ponte dos Jesuítas. (http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1640. A obra está inacabada, assim como o dinheiro para o término dos trabalhos. Abraços

Anônimo disse...

...completando...os trabalhos não acabaram...o dinheiro sim...(ainda sobre a POnte dos Jesuítas).

Anônimo disse...

Oi, André, tudo bom? O lançamento será no final de outubro. Definiremos a data na semana que vem.

Sobre a Ponte dos Jesuítas, a informação que eu recebi foi de a obra tinha acabado e tinha ficado boa. Vou apurar.

Abraços.