10.17.2008

CHEGA DE CRISE!


Acho que ninguém agüenta mais ver todos os dias as mesmas imagens de operadores da Bolsa com a mão na cabeça, olhar perdido ou sentados de cabeça baixa. A crise é séria? É. Pode afetar a gente? É...pode. Mas, pelo que vejo, o pior dela já passou e quem anda nas ruas das grandes cidades percebeu que as dezenas de financeiras continuam com a corda toda, despejando funcionários nas ruas ávidos por conseguir novas vítimas, digo, clientes, e oferecer empréstimos (ou seja, crédito) sem comprovante de rendimento nem consulta ao Serasa. Se o primeiro elemento econômico a sumir numa crise é o crédito, ela, pelo jeito, não passou por aqui.

Ah, algumas empresas perderam muito dinheiro com a alta do dólar. Mas também ganharam fortunas quando a moeda americana estava em baixa, o que aconteceu durante muito tempo. Ora, este é um risco normal de quem atua em um sistema econômico volátil como o capitalismo. Dentro de uma grande empresa há analistas que fazem projeções sobre alterações no sistema financeiro. E há quanto tempo ouvimos falar que a “bolha iria estourar”? Se, com tantas informações disponíveis no mundo capitalista selvagem e globalizado, alguns empresários não se prepararam, paciência.

Já estava na hora também de se parar com este endeusamento de algumas figuras do mundo das finanças. Desde 1997, quando fui redator de economia do Jornal do Brasil (ainda na saudosa sede da Avenida Brasil) e estourou a crise dos tigres asiáticos, que ouço falar que o mercado está apreensivo com a possibilidade de uma recessão americana. Lá, como cá, eram usadas com exaustão as mesmas imagens citadas no início deste texto. O então presidente do Federal Reserve (caprichar na pronúncia), o Fed, Alan Greenspan, era exaltado como um deus. Não à toa, a expressão “Todo Poderoso” era constantemente empregada em relação a ele. Lembro de uma frase quase apocalíptica a respeito de Mr. Greenspan: “Quando este homem fala, o mundo treme!” Meu Deus...

Por quanto tempo seremos massacrados com índices, gráficos, projeções e viés de baixa e alta? Um dia a Bolsa despenca, noutro dispara. “O mercado está nervoso”, “O mercado aguarda com cautela”, “O mercado está eufórico”. Falam do mercado de ações como se ele fosse realmente um representante fiel da economia de empresas e países, mas se esquecem que hoje, com esta orgia desenfreada de grandes capitais migrando de um para outro lado do mundo com um simples toque no teclado, o marcado de ações está muito mais para um cassino de grandes proporções do que outra coisa. Só perde dinheiro mesmo o desesperado que retira a aplicação quando as ações despencam, ou seja, o investidor de primeira viagem. Os tubarões então vão lá, compram os papéis em baixa, os índices disparam e mais uma fortuna foi feita, quase sem esforço físico nenhum.

Ah, mas o “valor de mercado” das empresas caiu em tantos por cento. O valor de mercado é tão volátil quando os índices da Bolsa. Podem ter certeza de que quando tudo se normalizar, em breve, o valor de mercado das empresas vai estar lá, no lugar onde sempre esteve. A única coisa que mudou é que, por enquanto, algumas megafusões e megacompras de empresas estão em suspenso. Nada demais, afinal todos ganharam muito dinheiro com a farra e agora aguardam apenas a ressaca passar.

O capitalismo precisa destas crises sistêmicas, até para poder sobreviver enquanto “agoniza, mas não morre”. A locomotiva (no caso, a economia americana) dá uma freada para sacudir os vagões lá atrás, mas daqui a pouco retoma a viagem. Portanto, vamos falar mais de cultura, meio-ambiente, ciência, política e esporte e deixar a “crise” um pouco em segundo plano. O mundo já tem vários outros motivos para “tremer” de vez em quando.

15 comentários:

Anônimo disse...

Também acho que o mundo tem muito mais motivos para tremer do que os operadores da bolsa de mão na cabeça. Gostei muito!
Abraços.

Anônimo disse...

Excelente texto André! Não sabia desse seu viés economista progressista. rs
Interessante quando você fala que o capitalismo precisa dessas crises sistêmicas, e de fato precisa, cada vez lançando mão de uma reestruturação produtiva mais cruel para o sentido do trabalho (que vem sendo mudado bruscamente)e mais propagadora do capital, que mesmo tendo sua origem no trabalho, virou expeculativo, e como você bem disse, fortunas são geradas quase sem esforço nenhum.. nessa hora cabe aquela musiquinha do serrote: "quem é que vai pagar por isso?"
Grande abraço.

Anônimo disse...

Boa a lembrança da música, Felipe. Bem, os serrote, ou os estudiosos do assunto, precisam ter uma boa noção de economia, pois constantemente eles estão trabalhando com ela, seja direta ou indiretamente. A crise, por exemplo, pode afetar o preço das latinhas de cerveja e dos bolinhos de bacalhau do Chopp da Villa, por exemplo, ou podem diminuir a liquidez do mercado, deixando menos dinheiro nos bolsos da vítima. Pense nisso, já que você está ingressando
(com sucesso!) nesta nobre arte.

Abraços e obrigado.

Anônimo disse...

tens razão caro André. A crise deve ser um assunto dominado pelos serrotes, até mesmo porque nos botecos da vida esse assunto ganha muita importância. Nesse caso,existem técnicas, como falar do preço do arroz, do feijão, esses desviam a atenção do preço da cerveja e do bolinho de bacalhau, mas pensando em circunstâncias desagradáveis, o serrote pode dizer que a AMBEv faz trabalhos sociais, tocando na consciência da vítima, que pode não se importar mais em pagar caro, até mesmo porque é na crise que as pessoas se unem, e além do mais, com uma boa aula de economia, o serrote conquista a todos. Em caso de fracasso na estratégia, resta ao serrote não falar mais na liquidez do mercado, mas sim da falta de liquidez no seu copo.
Abraços.

Anônimo disse...

Precisamos discutir esta complexa argumentação comendo um bolinho de bacalhau e tomando uma latinha no Ernesto. De preferência com o Silvio do lado para incluirmos personagens pré-socráticos.

Anônimo disse...

quem sabe com Heráclito falando que na economia tudo flui, seguindo da contraposição de Parmênides dizendo que na verdade a essência da economia capitalista é imutável... rs
Abraços.

Anônimo disse...

Terminando com Tales de Mileto dizendo que a arte de serrotar é indivisível e com Marx e Engels afirmando, categoricamente: "Serrotes de todo o mundo, uni-vos!"

Anônimo disse...

ou então com uma das principais partes do Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels dizendo o seguinte: "Vítimas, vocês criaram seus próprios coveiros".

Anônimo disse...

Boa. Ou então, podemos parafrasear (um brinde para parafrasear) Aristóteles: "Deixe que cada um exercite a arte que conhece".

Esta eu catei nos meus compêndios (um brinde para compêndios).

Abraços.

Anônimo disse...

Existe outra sacada boa de Heráclito: Nunca serrotamos a mesma vítima duas vezes, pois na segunda vez o serrote não é o mesmo, e a vítima também não é mais a mesma. (um brinde à introdução da filosofia na arte serrotense)

Anônimo disse...

Daqui a pouco o serrotismo vai virar disciplina. Podemos lutar por isso, além da regularização da profissão, já que muitos serrotes se aposentam e acabam ficando sem fonte de renda.

Anônimo disse...

Gostei mais quando André Luis falava de crise.
É claro que já se ganhou muito dinheiro com a dólar baixo. Mas o que me inrrita é ver nosso presidente dizendo que a crise não chegou por aqui.
Isso não é verdade. Pois tenho alguns amigos que trabalham em empresas exportadoras de mínério e por sua vez, a China cancelou todos os contratos para exportação.
Isso acarretou demissão em massa por parte da VALE DO RIO DOCE.
É preciso falar a realidade para população. A crise nos pegou sim e de jeito. Muitas empresas estão demitindo, em função da diminuição da produção.
Amigos, vamos mais informação para a população. Vamos parar de omitir informação.

Anônimo disse...

É, Marco, não há como negar que a crise chegou até aqui, ainda mais com esta informação que você deu sobre a Vale. Mas o que não entendo, por exemplo, é que todo mundo ganhou dinheiro com a farra das especulações até há pouco tempo, inclusive a Vale, e quando a corda aperta demitem, choram, gritam, ou seja, fazem um estardalhaço. Por que o Banco Central tem que emprestar dinheiro aos bancos privados se até recentemente eles batiam recordes de lucro a cada trimestre. Para onde vai todo esse dinheiro? Essa é a questão. Na hora da festa, o lucro é deles, mas na hora da ressaca, a despesa é de todo mundo, inclusive, ou principalmente, de quem não participou da festa.

Grande abraço.

Anônimo disse...

André Luis gostei muito;

Anônimo disse...

Obrigado.