11.10.2009

MANUTENÇÃO DE AMIZADE


Muitos amigos de infância acabam virando, assim como a Itabira de Drummond, um quadro na parede.

Assim como existe para carros e bicicletas, deveria haver uma oficina para manutenção de amizades. Até os 18 anos, acreditamos que os nossos amigos serão eternos. Compartilham da nossa vida de forma tão profunda que não podemos sequer imaginar a possibilidade de que um dia se transformem em ´estranhos e indiferentes´, aquela pessoa que você encontra na rua, fica meio sem jeito por não ter o que falar e termina a conversa com o sempre inócuo ´vamos marcar´.

Mas, infelizmente, é o que muitas vezes acontece. Claro, muitos permanecem ao nosso lado, alguns conseguem inclusive a proeza de estender a amizade entre os filhos, transferindo a afinidade e afeição mútuas para as respectivas famílias. Estes são casos mais raros. Na maioria das vezes, quando chegamos aos 20 e poucos anos, quando terminamos os estudos, começamos a trabalhar, nos mudamos da rua da infância, enfim, seguimos nosso próprio caminho, acabamos deixando muita coisa para trás, inclusive os amigos (até então) inseparáveis. Novos amigos surgem, no entanto, aos 30, aos 40, aos 50, até no fim da vida, quando, muitas vezes, numa situação grave como uma doença terminal a pessoa descobre uma amizade que até então se mantinha discreta, mas que naquele momento derradeiro se revelou com uma entrega e uma generosidade emocionantes.

Hoje, com as ferramentas virtuais de relacionamento social, como o orkut, por exemplo, acabamos encontrando com mais facilidade muitos amigos de infância. Entrando, por exemplo, na comunidade daquela escola pública onde fizemos o antigo primário, vemos aqui e ali alguma fisionomias conhecidas e pronto, um primeiro contato, muitas recordações, um encontro (real) e todo aquele mundo que se julgava perdido reaparece. Aí podem acontecer três coisas: aquela amizade reaparece, com cores e formas novas; um novo tipo de amizade se forma, quase sem nada a ver com o passado, ou, o mais melancólico, descobrimos que os outrora amigos eternos não foram nada mais do que ´amigos de infância´. E aí vamos manter um contato mais frio e distante, como colegas comuns.

Tem gente que prefere sequer pensar na possibilidade de voltar a ver a turma antiga, está tão feliz com a vida que leva que uma volta ao passado traria tintas de melancolias e tristeza incompatíveis com o estado atual. Outros já se animam, organizam almoços, encontros em boates, as tais ´reuniões de confraternização´, que muitas vezes provocam decepção pelo estado físico dos presentes.

Mas assim é a vida, ´é bonita, e é bonita´, como diria Gonzaguinha, um sujeito que deixou muitas amizades, antigas, presentes e futuras.


* Quem puder, dê uma olhadinha nos meus outros blogs:
www.criticasmansur.blogspot.com
www.manualdoserrote.blogspot.com

22 comentários:

Curva da Vitória disse...

Excelnete a visão sobre amizade e vida moderna! Amigos são poucos e para sempre!

André Luis Mansur disse...

Falou pouco e disse tudo, amigo Márcio. Abração!

André Luis Mansur disse...

Aliás, essa sua frase final não é seguida por todos aqueles que batem nas nossas costas nas ruas, dizendo, com toda a intimidade, ´fala, meu AMIGO´!

Abraços.

Alihe Canejo disse...

Percebo, a cada dia, que a vida é uma surpresa só.Há pessoas que eram apenas minhas "colegas" e hoje são boas amigas. Há amigos que desaparecem por uns tempos, mas, quando ressurgem, assumem papel fundamental na resolução de momentos cruciais.
É, meu caro amigo, a vida é feita de "encontros e despedidas".
Beijos!
PS. Informe-me sobre os eventos campograndenses. Quem sabe eu pinte por aí?

André Luis Mansur disse...

É exatamente isso, Aline. Encontros e despedidas, nada mais certo. Fiz alguns ´amigos de infância´ muito especiais nos últimso anos.

Aqui está difícil de ter algum evento, é mais fácil lá pelo Catete. Eu te informo, mas espero que desta vez você possa compartilhar com a gente da ´loura gelada´.

Beijos.

Bruno Alves disse...

Fala, Mansur!
Marechal Hermes, Realengo, Sulacap, Campo dos Afonsos, Campo Grande, Praia Vermelha. Não dizem que a amizade atravessa fronteiras?
Grande abraço do seu velho brother, falando aqui de Vitória.

Bruna Mitrano disse...

Quer ser meu amigo de Orkut?rs

Tenho ex-melhores amigas morando no mesmo bairro que eu e não as vejo desde a adolescência.

Como o sentimento desaparece (ou muda) assim, né?

Mas "o tempo que antecipa o fim também desata os nós".

Meus verdadeiros amigos estavam por perto quando eu achei que ia morrer. Hoje não sei onde estão.

Ai, tanta coisa a dizer sobre amizade, mas será que vale a pena?

Tô afim de te ler. Gosto disso.

Adorei o texto.

Tânia Beniz disse...

Nossa ficou ótimo esse texto! Concordo muito com o que você escreveu, mesmo não tendo ainda vivido uma grande parte dessa história, mas é verdade mesmo, eu e meus amigos acreditamos muito na amizade pra vida toda, embora eu tenha consciencia de que um dia a gente vai se separar ainda sim eu acredito que comigo pode ser diferente! Um grande abraço!

André Luis Mansur disse...

Oi, Bruna. É, acho que você faria um texto bem legal sobre esse tema. Por que não experimenta?

Mas se vê se aparece, caso contrário você será personagem do meu texto em breve. (rs)

Já somos amigos no orkut, no facebook e até na vida real. Mas o que é o real? (xiii...)

Beijos.

André Luis Mansur disse...

Fala, Bruno, beleza? É, as distâncias se ampliam, mas a amizade, às vezes, consegue superar a geografia.

Mas, quando estiver por perto, vê se avisa, né? - rs.

Abraços.

André Luis Mansur disse...

Oi, Tânia, tudo bem? Bem-vinda ao blog. A gente sempre acha que vai ser diferente com a gente, e às vezes realmente acaba sendo. Essa sua fase da vida é muito especial, por isso cultive os amigos como se fossem "desde (e para) sempre".

Beijos...e apareça mais vezes!

Anônimo disse...

Gosto da frase que diz "Amigo você não faz: reconhece". Não sei se é verdadeira ou não, mas como frase é muito boa.
Apesar do seu time, você é um amigo de primeira. O Trabalhador e Carlos Alberto, por exemplo, eu conheci quando éramos apenas tri-tri estadual e tetra brasileiro. Hoje, somos pentatri e estamos às portas do hexa. O tempo passa, mas amizade e títulos são para sempre.
Abraços.
MARCELLO BRUM

Adinalzir disse...

Caro Mansur

Muito boa a reflexão sobre a amizade. No nosso caso, passamos de amigos virtuais para amigos reais. E isso para mim, foi muito importante.

Abraços, :-)

André Luis Mansur disse...

Pois é, professor, até que o meio virtual tem dessas vantagens. Realmente isso é importante, o problema é quando duas pessoas que se conheceram por meios virtuais se defrontam "na real" e acabam nunca mais se vendo depois (rs).

Abraços.

Marcello, fico feliz por aceitar minha amizade com tantas diferenças citadas. Mas agora que estamos na mesma divisão, teremos oportunidades de incrementarmos mais ainda a amizade. O importante é sublimarmos tudo isso, não deixando que paixões clubísticas provoquem algum tipo de atrito e rivalidade.

Como já fomos campeões esse ano, não tenho me ligado mais em futebol, nem sei como está o campeonato. Já acabou?

Abraços.

Bisa disse...

Caríssimo (e atual) amigo Mansur, de fato um mundo gira. Outro dia o vi passeando pela Cabuçu, onde moro, e quase interrompi sua sua caminhada, algo distraída, porém objetiva rumo ao centro de Campo grande. Por timidez, decidi não incomodá-lo. Afinal não nos conhecemos na infância. Talvez se assim o fosse, trataria de ensaiar um fraternal (re)encontro. Quem sabe daqui por diante, através de atenta leitura do seu 'ensaio' acerca das aventuras do passado, resolva compartilhar contigo a Maquina do Tempo, sendo que para desbravar o futuro, pois como diria um amigo meu da década de noventa, "a vida não passa de um obscuro advérbio de tempo". Vejamos o que acontece de hoje em diante. Um forte abraço deste seu admirador e (hoje) assíduo leitor.

André Luis Mansur disse...

E aí, Bisa, tudo bem? Rapaz, você pode me interromper nas minhas andanças pelo Estrada do Cabuçu, às vezes acontece de eu não perceber que estão me chamando e ficar com jeito de mal-educado (rs).

Muito boa a frase do seu amigo, é por aí mesmo. Mas você precisa ir ao bar do Ernesto (também no Vale Cabucetense) para ensaiarmos um ´fraternal encontro´, pois o boteco, acredito, é o espaço ideal para isso.

Grande abraço!

Unknown disse...

Oi André! Ótimo texto!! Hoje parece que é mais fácil começar uma amizade, mas por outro lado ficou mais complicado manter esse amigo, infelizmente, chego a triste conclusão que, na verdade, bons amigos cabem em uma única mão...rss.. Esse texto me fez lembrar a frase de Vinícius de Moraes: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.. :-)
Beijos

André Luis Mansur disse...

Oi, tudo bem? Esta frase do bom e velho Vinícius é perfeita. Serviria como uma ótima epígrafe para o texto. Se teve alguém que cultuou a amizade como poucos, foi o poetinha, sem dúvida. Não é à toa que o Tom o chamou de figura ´ubíqua´, para usar uma palavra vetusta(rs).

Beijos.

Unknown disse...

Seu texto me fez lembrar a velha canção do Bituca: Amigo é coisa pra se guardar..." Assim como a canção, o texto toca em verdades que, se a gente parar pra pensar, vai concordar com vc.Ah,tenho a experiência de transferir para minhas filhas, algumas amizades que carrego há muitos anos.Belo texto, caro colega.
Beijos

André Luis Mansur disse...

É, Cláudia, além da manutenção, há a transferência de amizade e muitos fazem realmente isso, depositam na nova família muito das afinidades e do afeto das antigas relações.

O ´Bituca´ realmente acertou em cheio. Essa música diz tudo, além de ser um clássico indiscutível.

Obrigado e um beijão!

Anônimo disse...

excelente texto! me identifiquei muito com esses ciclos descritos. Na verdade amigos de infância se separam, mas a sintonia continua, pelo menos comigo é assim...
abraço!

André Luis Mansur disse...

É, sempre rola aquela história: "Pô, não via fulano há um tempão, mas quando nos encontramos parecia que não nos víamos há um mês apenas". É essa a tal sintonia que não se perde, mesmo com as distâncias.

Abraços.