8.04.2011

CARTA PARA A MÃE

Qual a sensação de se chegar à idade em que a mãe morreu?

Cheguei, enfim, à idade em que minha mãe Lucy morreu, aos 42 anos, no hoje bem distante 1º de fevereiro de 1981. Aos 11 anos, recebia a notícia, de forma fria e seca, de uma tia-avó, sintetizada numa frase: "Morreu". Para mim, aquilo soou como o fim de uma era, algo estranho e misterioso que se iniciava e que estava preso a uma aura de sofrimento, vide o choro compulsivo de minha avó no sofá da sala.

Nunca parei para pensar em como seria quando chegasse à idade em que ela partiu. Achava que uma emoção inesperada tomaria conta de mim quando passasse a ver o mundo da idade dela, principalmente porque 42 anos, para um garoto de 11 anos, e numa época em que a expectativa de vida era menor, parecia muito tempo.

Ao me colocar na idade dela desde o último dia 3 de agosto, um dia frio e chuvoso, passei a sentir sua presença de forma viva, quase reconfortante. Como se aquele domingo ensolarado de verão voltasse de forma mais iluminada, sem a sombra amarga da morte, sem frases frias e sofridas, sem o olhar piedoso dos vizinhos, sem a chegada triste e contida de meu pai, e sem, principalmente, a sensação de que o tempo não me daria chance a um recomeço. Mas ele sempre dá.

13 comentários:

Bruna Mitrano disse...

Olha, difícil comentar, viu? Lindo. Muito. Te daria um abraço agora.

Aline Targino disse...

O tempo sempre será o elo reconfortante entre aquilo que uma vez pensávamos que jamais acabaria e aquilo que acabou, passou e o que restou nos fez sobreviver e sermos mais fortes. Não há remédio melhor...

Veronica Nascimento disse...

Querido, sua sensibilidade me comove.
O tempo nos mostra que somos apenas um ciclo de permanência, uns vão mais tarde outro não. O importante é que aproveitemos o grande privilégio de estarmos aqui e agora;então André, presenteie sua mãe aproveitando bastante.

André Luis Mansur disse...

Belos comentários...beijos para as três!

MARCO MANSUR disse...

BRAVO!BRAVO!BRAVO! >>>
Querido primo-irmão.
Nunca conversamos sobre isso, mas posso lhe dizer que senti muito.
Acompanho sua trajetória rumo ao sucesso, e lhe dou meus parabéns pelo homem de bem que se tornou. Nesse mundo louco, é facil voce se perder quando da ausência dos entes amados que já partiram ou estão muito longe.
Tenho orgulho de voce... e obrigado por fazer parte de nossas vidas.

André Luis Mansur disse...

Obrigado pelas belas palavras, primo-irmão! Abração!

Vanessa Martins disse...

Amigo, sua arte assim como sua presença me traz um pouco do conforto que preciso. Obrigada por existir. E Bruninha, pode ser um abraço triplo? Preciso muito. Bjs.

Tisheh disse...

Que BONITO André!...

André Luis Mansur disse...

Obrigado!

Adinalzir disse...

Seus escritos e sua sensibilidade fazem a diferença. Parabéns pelo texto e um ótimo domingo!

André Luis Mansur disse...

Muito obrigado, professor! Abraços.

Volner Amaral disse...

Meu diletíssimo amigo:
Eu sofro de uma síndrome da psiquê, que eu chamo de SÍNDROME DA INCAPACIDADE EMPÁTICA CRÔNICA. Não consigo saber de algo de emoção tão forte sem sofrer por não poder imaginar o tanto de dor que esse algo gerou na pessoa afetada. Um menino de 11 anos mal começou a entender como a vida funciona e já recebe esse passamento como uma bomba emocional de consequências inefáveis. Ou fortalece, engrandece e enobrece ou macula e desarticula. Felizmente você deve ter herdado e recebido dessa mãe a força que só almas nobres recebem como dádiva. Esse é quem você se transformou: um ser iluminado que pode servir, e a mim serve, de exemplo de como a vida pode ser má e a gente pode ser grande. Obrigado...

André Luis Mansur disse...

Belas palavras, amigo! Obrigado.