2.17.2013

A ARTE DE LER JORNAL NA BANCA


Nunca passei por uma banca com jornais expostos que não tivesse alguém olhando. Geralmente há mais de um e por isso é preciso tomar cuidado para não ficar na frente de ninguém, principalmente se você for alto ou gordo. Caso haja muita gente, aguarde a vez para chegar perto, pois a leitura de jornal em banca não costuma levar muito tempo. O ideal é ficar numa posição em diagonal, pois é possível ler todos os jornais sem atrapalhar ninguém. É bom tomar cuidado também com a carteira, pois de vez em quando, infelizmente, aparece um ou outro que não está ali apenas com a intenção de se informar.

A leitura em banca de jornal, na verdade, é bastante limitada, pois só permite que se veja a primeira página, a chamada “página das manchetes”. Como antigamente muita gente abusava e folheava os jornais, os donos das bancas acabaram grampeando os jornais.

O leitor de bancas de jornal, embora não possa se aprofundar nas notícias (a não ser que, claro, compre o jornal) adquire, com este ofício, uma espécie de “apanhado geral” dos principais assuntos do momento. Isto é muito útil, por exemplo, em relações sociais e profissionais.

Uma figura inconveniente, no entanto, nestes ambientes, é o comentarista, que, como o próprio nome diz, se especializa em comentar as notícias com alguém. Geralmente é uma crítica em tom raivoso e que acaba atrapalhando a leitura dos outros, que para ser eficiente precisa ser dinâmica e silenciosa. Embora seja difícil identificar o comentarista, a recomendação, quando ele começar a resmungar, é procurar se manter concentrado na leitura, de preferência firmando um pouco os olhos e aproximando o rosto do jornal. Geralmente ele desiste. Há também outra figura inconveniente, que é a do egoísta, o sujeito que fica na frente dos jornais e não deixa ninguém ler, principalmente se ele for alto e gordo. Fumantes também provocam grande incômodo.

Os dias de maior movimento em torno das bancas de jornal são as segundas-feiras, por causa dos resultados do futebol de domingo, e também os dias seguintes a algum fato marcante. Embora muita gente acredite que este hábito seja prejudicial aos jornaleiros, o resultado é exatamente o contrário. Vá lá que a grande maioria apenas lê o jornal na banca e vai embora, mas muita gente acaba comprando o jornal, interessado no que viu nas manchetes. O que não se deve jamais fazer é pedir ao dono da banca para “dar uma olhadinha” num jornal porque viu algo interessante lá fora. Aí já é abuso.

Hoje, quando muitos jornais estão disponíveis na internet, acontece também de a pessoa olhar na banca algo que a interesse e ler a matéria inteira na versão online, o que é bastante prejudicial ao dono da banca, que precisa encontrar formas de se adaptar às novas tecnologias.

4 comentários:

Walter Lopes disse...

Caramba André eu sou o cara alto que fuma, resumindo sou chato pra cassete hehe.
Boa crônica meu camarada!
Saudade de bater papo contigo nos botecos. Por um acaso hoje é domingo e eu sempre lembro que é dia de comer pão com mortadela como você me dizia..
Abraço

André Luis Mansur disse...

Pô, Walter, como você é alto deve ficar bem na frente da galera, arrancando resmungos - rs. Saudade também, camarada, não se esqueça da coca-cola para acompanhar o pão com mortadela. Outra coisa importante, que nunca deve ser esquecida: nada de discutir questões complexas em botecos - rs. Abração!

Adinalzir disse...

Um excelente texto!
Cheio de verdade e com a criatividade do grande Mansur. Parabéns!

André Luis Mansur disse...

Muito obrigado, professor! Grande abraço!