9.19.2016

FAZENDA DE SANTA CRUZ: A JOIA DA COROA


A região de Santa Cruz abrigou, do final do século XVI em diante, uma das maiores fazendas do l. No seu auge, ela chegou a atingir a cidade de Vassouras, sendo chamada, durante muito tempo, de "a joia da Coroa". Foi a principal fornecedora de gêneros alimentícios da cidade do Rio de Janeiro, cuja produção era embarcada na Baía de Sepetiba até chegar ao centro do Rio de Janeiro. Os caminhos por terra eram muito precários e até a chegada do trem, na segunda metade do século XIX, o melhor transporte pela cidade era através dos rios (naquela época, bem navegáveis, diferentes do valões de hoje em dia).

A região onde seria instalada a fazenda fazia parte da sesmaria doada a Cristóvão Monteiro, em 1567, em agradecimento por ele ter lutado contra franceses e seus aliados, os índios tupinambás (também chamados de tamoios, ´os avós, os mais antigos´), na conquista da cidade do Rio de Janeiro, dois anos antes. Sesmaria é uma palavra de origem latina que significa ´seximus´, o sexto, já que, em sua origem, era uma terra dividida entre seis pessoas. Assim, o reino português doava uma grande porção de terra a quem achasse merecedor dela, com a condição de que fosse ocupada e explorada economicamente, caso contrário, teria que ser devolvida. A de Cristóvão Monteiro abrangia boa parte da região de Guaratiba.

Após a morte de Cristóvão Monteiro, sua viúva, Marquesa Ferreira, já bastante doente, doaria, em 1589, metade das terras do casal aos jesuítas, como foi desejo de seu marido. A outra metade seria doada no ano seguinte, após a morte de Marquesa, pela filha do casal, Catarina Monteiro, e o marido, José Adorno, em troca de terras em Bertioga, São Paulo. E assim começava a história da poderosa Fazenda de Santa Cruz, que iria ampliando seus limites através da compra, ou doação, de mais terras, como em 1616, quando os jesuítas compraram terras dos herdeiros de Manuel Veloso Espinha.
Como era uma região constantemente alagada, os jesuítas teriam muito trabalho de drenagem e irrigação pela frente (alguns padres chegaram a estudar técnicas modernas na Holanda), trabalho feito pelos escravos africanos, que já começavam a ser trazidos a força em grande quantidade no final daquele século. Entre as obras realizadas, estão os canais do São Francisco, do Guandu e do Itá, e as pontes que funcionavam como represas também, entre elas a Ponte dos Jesuítas, tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, construída em 1752 e um dos mais representativos símbolos da arquitetura jesuítica no Rio de Janeiro.

* Ilustração: pintura de Debret sobre a sede da fazenda (1817).

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