11.30.2016

Entrevista

Entrevista dada a Juliana Fiúza, da página Papo de Guia

André Luis Mansur é jornalista e escritor, Trabalhou no Jornal do Brasil, O Globo, Tribuna da Imprensa, além de ser o autor de preciosos livros sobre o Rio, como o “O Velho Oeste Carioca” “Marechal Hermes – a história de um bairro” e “A Invasão Francesa do Brasil: o corsário Du Clerc ataca o Rio por Guaratiba”. 
Quem veio primeiro? O jornalista ou o escritor?
André- Quem veio primeiro foi o curso de jornalismo, na Escola de Comunicação da UFRJ, a Eco, mas foi lá mesmo que me interessei em me tornar escritor. Até então nunca havia pensado nisso

Você é morador da Zona Oeste, foi isso que lhe motivou a escrever os livros “Velho Oeste Carioca” ?
André- Sim, eu moro em Campo Grande e, no final dos anos 90, eu trabalhava em duas enciclopédias no jornal O Globo, “O Globo 2000” e “Brasil 500 anos”, e foi ali que me interessei em trabalhar com pesquisa histórica. Na época, muitos livros foram lançados sobre a História do Brasil e do Rio de Janeiro, mas nada sobre os subúrbios e a zona oeste, daí achei que essa lacuna tinha que ser preenchida.

Como foi o processo de pesquisa e criação dos outros volumes?
André – Fiz muita pesquisa em instituições como a Biblioteca Nacional, Biblioteca do CCBB, Arquivo Nacional, material acadêmico, jornais e revistas antigos, conversas com moradores etc. A internet também ajudou muito, pois hoje muitas fontes primárias estão digitalizadas e disponíveis online.

Você acha que há um certo abandono da rica história da Zona Oeste por parte dos seus moradores? Se sim, isso também lhe motivou a escrever os livros?
André- Eu acho que já foi pior, hoje vejo que já há um interesse maior, muita gente atuando em prol da memória da região, lutando por seu patrimônio, convidando estudantes para visitarem os pontos históricos etc. Vejo um interesse muito grande pelos meus livros na região, esse é o melhor retorno que eu poderia ter.

Você escreveu um artigo sobre o hábito de flanar pelo Rio que está voltando ao cotidiano carioca, mesmo sem ele saber que esse ato possui um verbo que o defina e que já era usual nos séculos passados, e habilmente retrata a importância que esse hábito tinha na vida dos grandes escritores como João do Rio, Lima Barreto e Machado de Assis. E  você, também possui esse hábito?
André –  Tenho sim, sempre tive, sempre gostei muito de andar pelas ruas da cidade e observar tudo em volta. E isso bem antes de conhecer a obra de Lima Barreto, João do Rio e Machado de Assis, três escritores que conseguiram muito material para seus livros com esse saudável hábito de flanar pela cidade. 

Os seus livros trazem curiosidades marcantes e pouco difundidas, principalmente no ensino regular. Diria que seus livros tratam de uma parte da história considerada politicamente incorreta?
André – Eu acho que meus livros abordam aspectos da História que não são muito explorados nas escolas porque a História regional, a História dos bairros, ainda não tem um espaço generoso nas salas de aula, o que é uma pena, pois o aluno conhecer o passado do local onde ele mora poderia ser um aliado importante para que ele se sentisse identificado com o seu espaço.

De todos os livros escritos, qual é o seu favorito?
André – Eu acho que é o volume I do Velho Oeste Carioca, foi o que abriu muitas portas para mim. 

Como é o seu cotidiano? Você costuma ler muito e quais livros não podem faltar na prateleira de um amante da história da cidade do Rio de Janeiro?
André – Procuro ler e escrever bastante, todos os dias, sempre que possível. Há autores imprescindíveis para quem quer estudar a História da cidade, como Noronha Santos, Monsenhor Pizarro, Moreira de Azevedo, Joaquim Verissimo Serrão, Luiz Edmundo e Brasil Gerson. Estes são os antigos, entre os atuais temos alguns a destacar, como o Ruy Castro, o Nireu Cavalcanti e o arqueólogo Cláudio Prado de Mello. Temos também muitos sites e blogs importantes sobre a História do Rio, como o de Ivo Korytowski, Literatura e Rio de Janeiro.

Como o carioca poderia resgatar esse amor pela sua história? Qual seria a importância em ter um carioca que valorizasse seu passado e que benefícios isso poderia trazer para a sociedade?
André – Lendo muito sobre a História da cidade, comprando meus livros (rs), mas também, e isso vem acontecendo muito, participando de passeios e roteiros históricos pela cidade, como o Guiadas Urbanas, o Pé de Moleque e O Corsário Carioca, este pela Baía de Guanabara e que eu participo sempre com meus livros.

Você escreveu um livro sobre a história do bairro Marechal Hermes, a motivação veio de sua infância no bairro? Quais as lembranças mais marcantes que o senhor tem?
André – Sim, morei em Marechal até os 21 anos e é um bairro que eu amo muito. Procurei mesclar memórias pessoais com informações históricas, para ficar bem equilibrado. O que recordo muito é a tranquilidade do bairro, as ruas largas, os sobrados e uma época em que minha família era grande e morava todo mundo perto. 

Desde pequeno já possuía o amor pela história de onde você morava, ou isso veio com o passar dos anos?
André – Eu sempre fui um aluno muito bom em História, mas nunca havia me interessado pela História do Rio, isso só veio mesmo já depois dos 20 e poucos anos. Eu era para ter feito História na faculdade, mas meu irmão já era jornalista e eu fiquei empolgado em seguir a profissão. Não me arrependo não, o jornalismo me ajudou a ter um texto bem enxuto e a lidar com uma grande quantidade de informações.

Você acredita que os passeios turísticos por pontos históricos podem incentivar a população a ter uma consciência sobre seu passado histórico e passar a valorizá-lo?
André – Sim, com certeza, e isso já vem acontecendo muito, em roteiros como os que eu citei na resposta da pergunta 9 e também naqueles organizados individualmente, como os passeios do professor Milton Teixeira.

Para finalizar, não deixando de agradecer o prazer desta entrevista, gostaria de comentar ou acrescentar algo sobre seus projetos atuais ou futuros?
André – Gostaria de falar um pouco sobre Ronaldo Morais, o pesquisador que eu conheci em 2009 e com quem fiz três livros e ainda temos mais um para lançar ano que vem. Ronaldo faleceu no ano passado e eu procuro sempre citar o nome dele como um grande pesquisador do Rio de Janeiro. Ele fazia um trabalho com um grupo de amigos nos anos 70 e 80 muito interessante, fotografando tudo o que achavam interessante na cidade. Esse acervo está sendo espalhado pelos nossos livros. Fica aqui a homenagem a ele.

A lista completa de sua obra literária:
  • O Velho Oeste Carioca (Vol. I)
  • O Velho Oeste Carioca (Vol. II)
  • O Velho Oeste Carioca (Vol. III)
  • Marechal Hermes – a história de um bairro
  • O Peão Poeta
  • Fragmentos do Rio Antigo
  • Violência no Rio Antigo
  • A Invasão Francesa do Brasil – o corsário Du Clerc ataca o Rio de Janeiro por Guaratiba
  • A rebelião dos sinais
  • Manual do Serrote

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