11.03.2006
O ANIVERSÁRIO DO
Está chegando o dia do aniversário do serrote e ele sabe que poucas pessoas irão se lembrar da data, talvez apenas alguns amigos e parentes próximos. Mas neste ano o serrote quer dar uma festa, uma grande festa. Como fazer? Ora, é óbvio que o serrote, por seus princípios e convicções, jamais irá tirar um níquel do bolso para financiar a festa. Ele faz o seguinte então: convida várias pessoas para a festa, diz que este ano quer comemorar o seu aniversário porque nunca teve uma grande festa, nem na infância, ou seja, conta uma história triste, fundamental para antecipar o desfecho trágico que ele pretende dar à situação.
O serrote deve começar a convidar as pessoas duas semanas antes do aniversário, para dar tempo de chamar bastante gente, e deve estar sempre lembrando os convidados da festa de que "ninguém precisa levar nada", que é "tudo por conta dele". Ora, quando faltarem alguns dias para o evento, todos nas redondezas só irão falar do aniversário, criando uma grande expectativa para a festa.
E é aí que a coisa acontece.
Faltando três dias para a festa, o serrote fica sem sair de casa, não dá as caras na rua, o que logo vai gerar uma grande preocupação. Afinal, ele passou os últimos dias em intensa atividade social. Alguns amigos então resolvem ir visitá-lo.
Ao chegarem, vão encontrar a casa quase toda escura. Vão bater e só na terceira batida o serrote irá atender, com uma expressão triste e cabisbaixa, técnica aprendida pelos serrotes mais dedicados e experientes.
A casa precisa estar meio bagunçada, dando a entender que o dono dela vive uma fase complicada. O serrote vai convidá-los a se sentar e a tomar um café, mas quando abrir o armário vai dizer a seguinte frase:
- Ih, acabou o açúcar. Vocês não preferem água? Só não tá gelada, porque a geladeira quebrou.
Os amigos, percebendo alguma coisa estranha no ar, resolvem ser mais diretos:
- Vem cá, o que que tá havendo? Tu tava todo animado com a festa de aniversário e de repente sumiu, tá aí todo triste, a casa na maior bagunça, não tem nem açúcar pro café...conta pra gente, nós somos seus amigos, pô...o que que tá havendo?
O serrote deverá se valer de toda a técnica de interpretação estudada no Manual do Serrote para mostrar como está sofrendo. Depois de uma pausa, ele se senta, de cabeça baixa. Pode até chorar um pouco, antes de começar a falar:
- Sabem o que é, amigos? Eu tenho até vergonha de falar.
E começa a contar uma história triste, que pode ser qualquer uma, dependendo do gosto do serrote. Alguns têm, inclusive, um "arquivo de tristeza", que poderá ser usado de acordo com a conveniência. A mais comum é a do parente distante que está passando por dificuldades e pediu uma ajuda urgente do serrote. A história triste, no entanto, deve ser contada de forma pausada, como se o serrote estivesse com muita vergonha de dizer que não poderá mais dar a festa e que não tem nem coragem de encarar os convidados.
O resultado costuma ser inevitável. Os amigos, sensibilizados, dizem que "vão dar um jeito" e de repente, ali mesmo, na hora, podem adiantar algum para o açúcar e outras despesas. Vão então contar a história para os convidados e fazer uma "vaquinha" com quem puder ajudar. Como o serrote é sempre querido por todos, ele terá uma festança no dia do aniversário e poderá até fazer um discurso para agradecer o apoio de todos os amigos. Teve até o caso de um serrote que se emocionou de verdade e desmaiou com a cara no bolo.
É importante lembrar, no entanto, que esta técnica não deve ser repetida no próximo aniversário para não ficar manjada e o serrote perder a sua credibilidade.
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20 comentários:
qualé, mansurca?
tá preparando o terreno pro teu níver?.... rs!
Quase isso (rs).
Abraços.
Achei o desenho que ilustra o artigo assim....huummm....como direi..... Bom, mas deixa para lá. O importante é o amigo comemorar seu aniversário ao estilo das putas. (Como diz um amigo meu: "puta tem sempre uma história triste para contar..."). Abraços.
O desenho é maneiro, rapá. É o serrote realmente tira sempre uma história da cartola para conseguir o que almeja. Para isso, é preciso muita criatividade e jogo de cintura.
Abraços.
André, adorei o texto. hílário!
Boa idéia, André. Vou aproveitar...
Bj.
Acho que esta é uma ótima imagem e agora esta devidamente adornada! E questionada!
Bjs.
Bom, pela primeira vez na vida, irei concordar com nosso amado Marcello Brum. Esta imagem está meio estranha...Outra coisa: cumpleaños??? Não era você que detestava espanhol?
Beijos
Poxa, se eu fiz você concordar com o Marcello, então já valeu a pena.
Besos.
Pois é! Milagres acontecem.
Tem post novo.
Beijos
Que nada! O Mansur adora espanhol! E o inglês dele também é muito forte... Como diria José Simão: Rarararara! Abraços.
:>)
obrigado pela resenha, velho.
Qual é, Mansur? Ironia no meu blog? :0
Li a resenha sobre o livro do cidadão Biajoni aí de cima. Contundente o rapaz, não? As editoras são muito cheias de coisas para publicar romances do gênero...
Ironia onde? É impressão minha ou a genial e geniosa Aline Aparecida Canejo Coelho (és fascinação...) enxerga coisas que a gente não vê?
Querido Marcello, o papo é com o André...Sorry...
É que eu gosto de me meter..... ;)
Poxa, Aline, não sei onde você viu ironia no meu comentário. Ou você acha que os temas do seu blog são superficiais?
Admiro muito o esforço dos escritores e músicos independentes. Se depender de editoras e gravadoras, só teremos os mesmos medalhões de sempre por aí.
Beijos.
Well, ruídos de comunicação acontecem...
Beijos
Ótimo texto!!... sem comentários, dá até pra visualizar a cena, ele simplesmente flue...rsrs O melhor é que sempre aprendo muitas coisas...rsrs Esse serrote hein...que figurinha!!
Não pretendo colocar lenha na fogueira mas, adorei o cumpleaños...rs :o)
Bjos
É uma das técnicas mais complexas, Edeilda, pode ter certeza. Só serrotes muito experientes podem realizá-la.
Beijos.
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