11.21.2006

O DUQUE DE SANTA CRUZ


Quando se estuda a nobiliarquia brasileira, quase não se fala da
existência de outros títulos ducais, além daquele que foi concedido ao marechal Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que é considerado o Patrono do Exército Brasileiro. Há, além dele, três outros títulos de duque, estreitamente relacionados ao Imperador Dom Pedro I, não apenas por ter sido ele o responsável pela sua concessão, como também por seus laços consangüíneos e familiares.

Luiz Alves de Lima e Silva foi agraciado com o título de Duque de
Caxias em plena Guerra da Tríplice Aliança, contra o Paraguai, em 23 de março de 1869, já no Segundo Reinado. O título de Duquesa de Goiás foi criado para homenagear a filha do Imperador Dom Pedro I com a sua amante D. Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos. Isabel Maria de Alcântara Brasileira de Bragança nasceu no Rio de Janeiro em 23 de maio de 1824 e faleceu na Baviera em 3 de novembro de 1898.

A Duquesa do Ceará, cujo título praticamente não é citado, foi uma
homenagem de Dom Pedro I à sua filha Maria Isabel de Alcântara Brasileira de Bragança, também com a Marquesa de Santos. Ao contrário da sua irmã Isabel Maria, que viveu 74 anos, Maria Isabel morreu prematura, com pouco mais de cinco meses de vida. De todos os títulos ducais, mesmo incluindo o Duque de Caxias, o mais curioso parece ser mesmo o Duque de Santa Cruz.

Augusto Carlos Eugênio Napoleão de Beauharnais, que também foi Duque
de Leuchtemberg, nasceu em Milão, no dia 9 de dezembro de 1810, filho do
general Eugênio de Beauharnais, o enteado de Napoleão Bonaparte e seu Vice-Rei de Itália; neto, pela parte paterna, da Imperatriz Josefina, a primeira mulher de Napoleão, e pela parte materna de Maximiliano I, da Baviera.

Com o casamento de sua irmã, a Imperatriz D. Amélia, o príncipe bávaro
D. Augusto veio juntamente com a irmã residir no Brasil, onde morou no
Palácio de São Cristóvão, de 1829 até 1831, quando da abdicação de D. Pedro I. Durante o período de estadia no Brasil, foi homenageado pelo Imperador brasileiro com o título de Duque de Santa Cruz.

Qual a razão para a designação do título como Duque de Santa Cruz?
Segundo estudiosos da nobiliarquia brasileira, incluindo o historiador Ruy Vieira da Cunha, era intenção do Imperador Dom Pedro I transformar a Fazenda Imperial de Santa Cruz, na atual Zona Oeste do Rio de Janeiro, em Ducado, cujo título seria outorgado a Dona Domitila de Castro Canto e Melo.

Com a difícil consolidação do segundo casamento de D. Pedro I, uma das
exigências feitas pela família da Dona Amélia de Leuchtemberg seria o compromisso de que o Imperador se afastasse definitivamente da sua amante. Assim, a intenção de transformar Santa Cruz em Ducado não passou de um projeto malogrado. A outra parte do acordo para a efetivação do casamento incluía também o consórcio matrimonial entre Augusto de Leuchtemberg e a filha de D. Pedro I com dona Leopoldina, cujo nome quilométrico, muito comum na época era:

Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de
Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Luisa Gonzaga de Bragança e Áustria, ou Dona Maria II, rainha de Portugal.

Feliz com o seu casamento, e também com o bom encaminhamento
matrimonial da sua filha, que estava com apenas 15 anos de idade, o Imperador Dom Pedro I resolveu conceder ao seu cunhado o título de Duque de Santa Cruz. Quem se interessa pelo estudo da biografia do nosso primeiro Imperador sabe o quanto ele gostava da Fazenda de Santa Cruz. Lá ele passou os seus momentos de adolescente, aprontou as suas travessuras, viveu intensamente os seus momentos amorosos com
as suas amantes mais conhecidas, como a Marquesa de Santos ou a Baronesa de Sorocaba, e outras menos conhecidas, inclusive escravas que trabalhavam na Fazenda.

Lá ele praticava o seu hobby predileto, que era a criação de cavalos
de raça, e buscava refúgio, quando a situação pessoal ou nacional
se complicava. Nada mais natural, portanto, que o Imperador Dom Pedro I, em um dos momentos mais prazerosos da sua vida, fosse lembrar de criar um título que estivesse relacionado ao local onde ele passara a sua juventude como um bon-vivant.

Daí a criação do título ducal de Santa Cruz e a homenagem prestada por
D. Pedro ao seu genro e cunhado Eugênio de Leuchtemberg. Atendendo a aspiração de D, Pedro I, Eugênio Augusto casou com a rainha D.Maria II, enteada da sua irmã, por procuração, a 1 de dezembro de 1834, confirmando o enlace matrimonial na Sé de Lisboa, a 26 de janeiro de 1835.

Morreu em circunstâncias suspeitíssimas, no leito nupcial, a 28 de
março de 1835, no Palácio das Necessidades, com apenas dois meses de casado. No atestado de óbito consta que foi fulminado por uma sufocante angina, mas há quem afirme que o Duque de Santa Cruz pode ter sido envenenado pela própria esposa.

Sinvaldo do Nascimento Souza
Professor de História e Museólogo
Pesquisador da História de Santa Cruz


- Um triângulo amoroso em meio aos bares e prostitutas da Praça Tiradentes. Este é o tema do meu primeiro romance ´Vera Lúcia´, que está no endereço romanceveralucia.blogspot.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom post. Por coincidência, ontem eu escutava uma música sobre a Marquesa de Santos ("a bela Titila foi glorificada..."). Não falávamos em playboys da Zona Oeste? Taí um bom nome: D. Pedro I.

Anônimo disse...

A Marquesa de Santos me faz lembrar daquela série homônima da TV Manchete, nos anos 80...
E playboy, caramba, parece ser uma praga presente em qualquer época!
E que criativa essa forma de chamar as filhas: Isabel Maria e Maria Isabel!!!

Anônimo disse...

Não era com a Maitê Proença a série?