10.06.2008

NÃO É DO MEU TEMPO


Uma das desculpas mais esfarrapadas quando alguém quer justificar a falta de conhecimento é alegar que tal assunto “não é do meu tempo”. Se formos pensar assim, nenhum dos diversos estudiosos que vêm falando sobre a obra de Machado de Assis no ano de centenário de sua morte está autorizado para tal função, pois nenhum deles é do tempo do genial escritor. Ou aqueles que pesquisaram a chegada da Família Real ao Brasil, há 200 anos, pois com certeza ninguém vivo hoje dividiu um franguinho com D. João VI.

Para quem utiliza este argumento, portanto, o livro, um documentário ou mesmo a transmissão oral de nada adiantam na transmissão do conhecimento. E esse “meu tempo”, na verdade, é bastante relativo, pois quando o tempo histórico de uma pessoa se inicia? Na fecundação? No nascimento? No primeiro beijo? No primeiro fora? Ou naquilo que se costuma chamar de vida adulta, o que também é bastante relativo, pois tem gente de 40 anos que age como criança e adolescente de 15 anos que sustenta uma família.

Por outro lado, há uma questão mais séria que envolve este tipo de argumento. O que é mais importante? Ter vivido na época em que o fato ocorreu, no calor dos acontecimentos, ou poder avaliá-lo com o devido distanciamento histórico? Ter tomado um café com Machado de Assis na rua do Ouvidor ou perceber, através de estudos recentes, a dimensão cada vez maior que a obra do escritor atinge? Dimensão esta não percebida na época dele, apesar de ele ter atingido a glória ainda em vida.

O ideal seria juntar as duas coisas. É claro que no caso citado seria impossível, pois teríamos de encontrar alguém com no mínimo uns 120 anos, lúcido e com uma memória privilegiadíssima para recordar uma conversa com Machado. Mas há, por exemplo, diversos livros importantes sobre a II Guerra Mundial escritos depois do fim do conflito por pessoas que participaram ativamente dele. No calor da guerra, russos e americanos eram aliados, mas uma década depois já eram inimigos ferrenhos, só para dar uma idéia de como o distanciamento histórico é importante.

Li uma vez que cientistas já desenvolveram todo o conhecimento teórico para produzirem uma máquina do tempo – só falta encontrar a loja onde comprar as peças. Portanto, quando isso acontecer, e aí com certeza não será do meu tempo, poderemos ter a união entre o “calor dos acontecimentos” e o “distanciamento histórico”. Desta forma, um mestrando de História que quisesse se aprofundar nos seus estudos sobre a Inconfidência Mineira poderia pedir para passar uma semana na antiga Vila Rica (atual Ouro Preto) e voltar sem dúvidas, provavelmente um pouco sujo e, quem sabe, com um dos dentes arrancados pelo próprio Tiradentes. Sem anestesia, é claro.

9 comentários:

Anônimo disse...

rsrsrs Muito divertido! Sempre que como um franguinho com muita avidez lembro-me do João VI (rsrsrsrs) Sempre!!!! Ou quando penso em conquistar algo penso: ao vencedor, as batatas! E assim vai... (rsrsrs) Que bom ler você! Beijos meu querido.

Anônimo disse...

´Ao vencedor, as batatas´. Lembro de você ter citado esta frase maravilhosa outro dia. Falando no mestre, aproveite para assistir a exposição sobre ele na Biblioteca Nacional.

Também fico imaginando D. João com seu séquito indo para a Fazenda de Santa Cruz e parando para comer um franguinho no meio do caminho. E o bom é que eram franguinhos sem hormônios.

Beijos, menina. Saudades...

Anônimo disse...

Marcello disse...

Sem dúvida, é uma desculpa péssima. Mas, além da pessoa que fala, o erro pode estar também em quem não transmitiu ao jovem a importância de se conhecer o passado.
Sei de casos de pessoas mais velhas que não dão valor quando jovens começam a demonstrar interesse em coisas antigas - até com ironias ou deboche.
É preciso ficar claro que conhecer o passado é uma coisa boa, produtiva, mas que não se deve viver nele apenas, abandonando o presente.
Abraços.

Anônimo disse...

Uma coisa que sempre me incomoda é quando uma pessoa mais velha vai falar de um assunto antigo e já diz logo para mim: ´Você não sabe disso porque não é do seu tempo. E aí deixo o sujeito falar, muitas vezes sabendo que ele está confundindo datas e nomes.

O presente é importantíssimo, mas no caso do futebol prefiro me refugiar no passado, se é que me entende.

Abraços.

Anônimo disse...

Talvez se eles soubessem o nome de um integrante ao menos da seleção de 58 não fariam essa vergonha... mas uma coisa é certa, aos meus filhos e netos farei o máximo para que não saibam que existiu um tal de Dunga.
abraços.

Anônimo disse...

O incrível é que ele pode chegar à Copa e ser campeão e aí não ter como impedir que seus filhos e netos saibam quem foi ele. E ainda tem a Copa de 94, na qual ele foi o capitão.

Abraços.

Anônimo disse...

É verdade, mas posso inventar que esse tal de Dunga era um dos anões da Branca de Neve, acho mais interessante
Abraços.

Anônimo disse...

Do jeito que ele anda mal-humorado, é capaz de você confundi-lo com o zangado.

Anônimo disse...

ou entãO com o soneca...