6.30.2008
UMA FRASE INFELIZ
Uma das frases mais infelizes da História do Brasil foi dita pelo ex-presidente Washington Luiz, que governou o país de 1926 a 1930: "Governar é construir estradas”. Está aí o resultado: acidentes, engarrafamentos, estresse, poluição e propaganda de carro.
Se Washington Luiz, que por ironia dá nome a uma rodovia federal com grande número de acidentes no Rio de Janeiro, tivesse dito que “governar é construir ferrovias”, com certeza teríamos uma situação bem melhor no item transportes. Mas quem disse isso, ou melhor, quem fez isso foi Irineu Evangelista de Sousa, o Barão, e depois Visconde, de Mauá, 70 anos antes, o pioneiro em construção de estradas de ferro no país.
Infelizmente, as oligarquias atrasadas deram uma rasteira em Mauá e, mais tarde, a matriz energética baseada no petróleo impôs a opção pelas rodovias, geralmente mal planejadas, cada vez mais esburacadas ou, pelo menos nas que estão em bom estado, quase proibitivas por pedágios caríssimos.
São inegáveis as vantagens do transporte ferroviário: é mais rápido, não tem engarrafamento (quando muito, um atraso de sinal), é limpo (não polui o ar), carrega muito mais gente e, no caso do transporte de cargas, evita o desperdício de grãos caindo dos caminhões na estrada.
O trânsito carioca, por exemplo. Sem dúvida lembra muito um clássico desenho do Pateta que sempre passava na televisão (e talvez ainda passe nos canais por assinatura). É a história de um sujeito completamente pacato, incapaz de um ato violento, mas que quando entrava no automóvel lembrava as transformações de “o médico e o monstro”. Bufava, arregalava os olhos, soltava fogo pelas ventas, e ai de quem estivesse pela frente. Fazia do carro uma arma de algumas toneladas, o que, infelizmente, acontece com freqüência nas estradas brasileiras, que com certeza são piores do que o cenário descrito no desenho, pois pelo menos ali o simpático e desajeitado personagem de Walt Disney não ingeria bebida alcoólica.
Como o transporte público deixa a desejar, já que não é baseado nos trens, ideais para o transporte de massas, pois são muito mais espaçosos, rápidos e não poluem o ar, as soluções que surgem para o grande número de carros nas ruas são sempre paliativas, como o rodízio de placas em São Paulo. Além do quê, a cada ano a indústria automobilística bate recordes de produção, principalmente depois que aumentou o prazo de investimento para a compra de carros. Basta ver a quantidade de estacionamentos (talvez a forma mais eficiente de se ganhar um dinheiro rápido com o mínimo de custos) que surgem todos os meses. Duvido que ao passar pelo centro de uma grande cidade pelo menos uma vez você não tenha que parar na calçada para um carro sair ou entrar de um deles.
E como as ruas nas grandes cidades não podem ser mais alargadas, e o brasileiro, como diz uma dessas inúmeras propagandas entusiastas do transporte automotivo, é apaixonado por carro, o caos completo já está bem próximo. A não ser que, para citar um outro desenho animado, em breve circularemos naqueles veículos da família Jetsons, pelo ar, mas aí poderemos ter graves acidentes com os helicópteros, que cada vez infestam mais os nossos céus.
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16 comentários:
Boa! Assunto antigo, e mais atual do que nunca! Me faz lembrar Juscelino Kubitsheck com o plano de metas, transformando o país numa lata de lixo de máquinas obsoletas de indústrias (em especial as automobilísticas), e construindo rodovias sem fim... ah quem me dera fossem rodovias... Agora é o PAC né... o mundo dá voltas, e continua no mesmo lugar.
P.S.: Se tivesse transporte público acessível e de qualidade, talvez alguns não beberiam e dirigiriam depois, e não precisaria dessa tolerância zero... (tenho que defender a categoria. rs)
Abraço!
ops!corrigindo: "ah quem me dera fossem FERROVIAS" rs
Pois é, se houvesse transporte público eficiente, ninguém precisaria também ir de carro ao centro da cidade.
Boa comparação com o JK e o Pac. De fato, ninguém fala em ferrovias quando discutem transporte público de massa. Desse jeito, nunca vai dar certo.
Abraços.
Marcello Guerrón Brum disse...
Há um incentivo ao carro. O transporte público teria que ser melhorado, mas fica difícil ao lembrarmos a efetiva participação financeira dos donos de ônibus nas campanhas eleitorais.
O motorista de carro precisaria saber que a rua é do pedestre. A prioridade é para este. Tanto que o transeunte não precisa pagar imposto para andar nas ruas (ao contrário dos carros). Mas, a falta de educação faz as pessoas acreditarem que, na rua, quem tá de carro tem prioridade sobre o ser humano.
Um saludo aos amigos de Brasil!
As capitais brasileiras talvez sejam as únicas do mundo onde os ônibus assumem o papel de principal veículo de transporte de massa, quando na verdade deveria ser o de ´alimentador´. E realmente você tem razão, os donos de carros não só pagam impostos, como também têm que pagar ao flanelinha.
Guerrón Brum...xii, mais provocação.
Acredito que na quarta-feira muitos tricolores devem ter usado o trem pra voltarem tristes pra casa depois do jogo... menos mal, pois quando estão alegres acabam batendo em tudo, quebrando... é uma zoeira só. rs. assim mantêm o transporte ferroviário mais inteiro (muito embora tenha sido comprado com dinheiro público e tenha sido entrega para a supervia explorar, descartando até os tradicionais ambulantes, colocando "terceirizados"da nestle)
provocações a parte, essa é parte da questão. rs
abraços.
Eu sou a favor do teletransporte!
Ah, sim! Fui eu quem escreveu a frase acima.
Eu também, Aline. Quando pudermos nos desmaterializar eu até me animo a viajar.
Beijos.
Pô, Felipe, mas aí eu vou defender a Supervia. Quando era do Estado, o trem era uma boa m...! A Supervia, quando ainda era Flumitrens, passou uns dois só consertando os dormentes que estavam apodrecidos. A RFFSa era uma empresa completamente sucateada, cheia de funcionários fantasmas e completamente ineficiente.
E quanto aos ambulantes, eles também eram proibidos e não havia nem vendedores terceirizados. O que eles fazem hoje é o mesmo que faziam na época, ou seja: driblam a fiscalização e continuam atuando normalmente.
Mas uma coisa realmente não dá para admitir: por que o transporte ferroviário pára às dez e meia? Teria que circular no mínimo até meia-noite.
Abraços.
É André... esse debate entre público e privado é longo.. então me detenho a concordar com sua contestação sobre o horário... rs
Abraços.
É claro que há ´casos e casos´. Falo do trem porque viajo nele desde a década de 80, quando era do Estado, e percebi a melhora. Mas em relação ao metrô, por exemplo, o serviço hoje privado é de péssima qualidade. E na época do Estado ainda havia descontos para quem comprasse um bilhete de 12 passagens, por exemplo, e hoje, além de ser a maior tarifa do Brasil, parece sardinha em lata na hora do rush.
Abraços.
André esse desenho animado do Pateta é mais atual do que nunca, tenho vontade de fazer a mesma coisa de vez quando..rsrs De tanta raiva, São Paulo está uma loucura, e as autoridades não conseguem resolver nada, a curto prazo. O mais estranho é que todos dizem a mesma coisa , mas parece que só eles(as nossas autoridades, que não precisam se preocupar com o rodízio de placas..rs) não conseguem entendem que somente o transporte público coletivo de excelente qualidade resolveria esse problema. É imprescionante como eles investem nada em lugar algum, o que realmente precisa ser feito é sempre adiado, de preferência para as próximas eleições. Desculpa, mas estou tão cansada de soluções paliativas e que não resolvem nada, que estou ficando revoltada, sei não sou a única, mas está ficando cada vez mais difícil engolir as desculpas desses políticos.
Parabéns pelo texto André!
Beijo
Ótimo texto. De fato, de fato.
A propósito, o desenho do Pateta tratava do Sr. Andante e do Sr. Volante.
Bem lembrado, Caio. Valeu.
Abraços.
Obrigado. Vou dar uma olhada no seu blog. Em outubro, vou lançar, no Paço Imperial, o livro ´O Velho Oeste Carioca´, pela editora ´Ibis Libris´, no qual eu conto a História da zona oeste do Rio.
Grande abraço.
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